No mercado à vista, o dólar fechou a R$ 5,0523, em alta de 4,90%, a maior variação porcentual desde a delação do empresário Joesley Batista, em 18 de maio de 2017, quando a moeda americana disparou 8,07%. O BC não atuou no mercado de câmbio hoje. O dólar já havia atingido R$ 5,00 durante os negócios nas últimas semanas, mas nunca fechado neste patamar. No ano, o dólar já acumula valorização de 26% e, neste mês, de 13%.
Medidas emergenciais dos bancos centrais pelo mundo não estão ajudando a acalmar os mercados. Hoje o Chile e a Coreia do Sul anunciaram cortes de juros em reunião extraordinária, seguindo a decisão do Federal Reserve ontem de praticamente zerar os juros nos Estados Unidos. Mas a visão de bancos como Goldman Sachs, Bank of America Merrill Lynch e Wells Fargo é que estes movimentos são insuficientes para impedir a piora da atividade. O Wells Fargo passou a prever avanço de apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2020, um dos menores níveis em 40 anos.
O ex-secretário do Tesouro Nacional e atual diretor do ASA Bank, Carlos Kawall, defende que, com a piora do cenário, o Banco Central "pise no acelerador" da política monetária e cambial, cortando os juros de forma mais agressiva e usando as reservas internacionais. Para acalmar o dólar, ele acredita que o BC poderia lançar um programa de US$ 50 bilhões para compras e vendas e/ou leilões de swap, com o ritmo de atuação podendo se manter discricionário. "Nossa resposta, no Brasil, tem que ser na política monetária e cambial, é onde temos gordura. Não temos espaço fiscal", disse ele.
O estrategista da Hieron Gestora de Patrimônio e Asset, Marcos De Callis, destaca que mesmo com o dólar em R$ 5,00, as expectativas para a inflação seguem ancoradas, o que dá flexibilidade para o BC cortar juros agora, seguindo o que vem fazendo outros bancos centrais pelo mundo. Nos países desenvolvidos, os BCs já foram ao limite do que podiam fazer e agora a expectativa é por medidas fiscais, que costumam ser mais demoradas, pois algumas precisam de aprovação do Congresso, ressalta ele.
Para De Callis, embora esteja distante do preço compatível com os fundamentos da economia brasileira, é difícil saber onde o dólar vai se estabilizar neste momento. Ainda há muita incerteza sobre, por exemplo, até quando os Estados Unidos e a Europa vão sofrer com a pandemia, o que ajuda a agravar o nervosismo dos investidores.
Bolsa
Após ganho de 13,91% na sexta-feira no que foi o maior avanço diário desde 13 de outubro de 2008, o Ibovespa fechou a primeira sessão da semana em queda de 13,92%, aos 71.168,05 pontos, no dia em que o dólar à vista fechou pela primeira vez na marca de R$ 5, refletindo aposta redobrada para o Copom desta semana, de um corte de até 1 ponto porcentual na Selic, o que coloca pressão extra no câmbio.
Assim, nesta abertura de semana, o principal índice da B3 deu sequência ao padrão de acentuada volatilidade da semana anterior, quando o índice acumulou perda de 15,63%, o pior desempenho desde outubro de 2008. Ainda pela manhã, o circuit breaker foi acionado hoje pela quinta vez desde a última segunda-feira.
Na ponta negativa do Ibovespa, Azul cedeu 36,87%, CVC caiu 32,25%, Smiles perdeu 28,20% e Gol, 28,02%, refletindo a pressão a que o setor de viagens e turismo tem sido submetido desde o início da crise do coronavírus. Entre as blue chips, Petrobras PN caiu 15,00%, enquanto a ON cedeu 17,21%; Vale ON perdeu 9,00% No mês, o Ibovespa cai 31,68% e, no ano, perde 38,46%. Em dia de vencimento de opções sobre ações, o giro financeiro totalizou R$ 52,9 bilhões na sessão. Nenhum componente do Ibovespa encerrou o dia em alta. Na mínima, o índice foi hoje a 70.854,82 pontos, saindo de máxima a 82.564,88 pontos.
Perto do fechamento, a B3 alterou o limite de oscilação diária do futuro (IND) e do mini (WIN) de Ibovespa, com todas ações do índice à vista sendo colocadas em leilão quando cedia 13,08%, aos 71.859,88 pontos. O movimento acompanhou piora dos índices de ações de Nova York, com perdas na casa de 12% em Wall Street, durante entrevista coletiva do presidente dos EUA, Donald Trump, na qual admitiu a possibilidade de recessão no país e que considera medidas adicionais contra o coronavírus, como a possibilidade de adotar toque de recolher em algumas regiões.
Ao sabor de um noticiário inchado pelo coronavírus, a reação natural é de aversão a risco. "O 'candle' ficou longo, para cima e para baixo, de forma que, subindo muito e depois caindo muito, o índice fica relativamente de lado dentro de uma margem de variação alongada", diz Renato Chain, estrategista da Arazul "A volatilidade está aí: como pode uma ação subir 19% na sexta e cair hoje 18% se os fundamentos são os mesmos? Isso reflete o grau de insegurança, tanto sobre os efeitos nas diferentes cadeias de negócio como também na reação que a sociedade brasileira dará (ao coronavírus)", observa Maurício Pedrosa, gestor da Áfira Investimentos.
As iniciativas tomadas por governos e autoridades monetárias ao redor do mundo para tranquilizar os mercados parecem estar produzindo o efeito oposto, com os investidores reagindo com alarme a cada nova iniciativa sanitária, fechamento de países a estrangeiros - França, Rússia, Canadá, Chile e Argentina entraram no grupo dos isolacionistas -, injeção de liquidez ou atuação dos BCs sobre os custos de crédito.
"Quando o Fed corta os juros a zero no domingo, algo muito grave está acontecendo", diz Chain. A iniciativa do BC americano no fim de semana, ao trazer a taxa de juros de referência dos EUA à faixa de zero a 0,25% ao ano, levou o mercado de renda fixa brasileiro a precificar um movimento mais ambicioso para o Copom desta quarta-feira - e mesmo a possibilidade de um corte extraordinário, antes da reunião.
O padrão anômalo que o coronavírus impôs às economias e aos mercados globais dificulta a tarefa dos investidores de mensurar efeitos sobre a atividade produtiva e os ativos. "Há indicação de que ratings poderão ser afetados, em função da situação de geração de caixa de certos setores, que prejudica o cumprimento de compromissos financeiros", diz Pedrosa.
"Em meio à tamanha incerteza, o day trader, o operador de volatilidade, prevalece sobre quem olha fundamento, na formação imediata dos preços". "Quando voltar a prevalecer de forma mais clara a distinção fundamental entre preço e valor, os setores menos expostos aos efeitos da epidemia tendem a ser os primeiros a se recuperar; mas, de forma geral, podemos esperar efeitos negativos entre dois e três trimestres", acrescenta o gestor da Afira.
Juros
Os juros futuros fecharam o dia em queda firme nos contratos de curto e médio prazos e nos longos a alta expressiva que prevalecia na primeira etapa perdeu força à tarde e também cederam. O alívio de prêmios decorreu essencialmente do aumento das expectativas de corte da Selic no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira, 18, sendo que começou a ganhar força a percepção de que os diretores possam reduzir a taxa em reunião extraordinária, talvez hoje, a exemplo do que vêm fazendo desde ontem os bancos centrais nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Chile e Egito.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou a sessão regular com taxa de 3,850%, ante 4,261% no ajuste de sexta-feira. A taxa do DI para janeiro de 2022 encerrou a 4,920%, de 5,313% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 7,852% para 7,800%.
As taxas curtas foram as que mais cederam diante da percepção de que o Copom vai se alinhar aos seus pares, podendo agir também de forma antecipada. Na curva a termo, a precificação para a próxima decisão é exatamente de 50 pontos-base, ou seja, 100% de chance. E ainda resta alguma aposta, com precificação de -9 pontos, para o Copom de maio, segundo o Haitong Banco de Investimento. Uma parte do mercado, contudo, duvida que o Copom possa "ousar". "Poderia fazer o anúncio hoje, mas cremos que seria muito ousado para nossa tradição. O mercado vai ajustar a curva para outra queda de 50 pontos na reunião de maio. É o que esperamos", afirma o Banco Fator, em relatório.
Entre os economistas, a equipe do Projeções Broadcast atualizou a pesquisa para o Copom desta semana e as apostas na estabilidade da taxa em 4,25%, que apareciam até a semana passada, foram apagadas, e já há previsões de até 1 ponto. Entre 26 instituições, 16 estimam queda de 0,5 ponto; cinco, de 1 ponto; duas, de 0,75 ponto; e três, de 0,25 ponto.
No fechamento, a curva mantinha-se inclinada como pela manhã, com a ponta longa caindo menos do que as demais. Na jornada matutina, os vencimentos mais longos chegaram a subir mais de 70 pontos-base, com o mercado reagindo negativamente à piora de risco fiscal e político. Os ataques mútuos entre líderes do Executivo e Legislativo entre ontem e hoje, após o presidente Jair Bolsonaro participar das manifestações pró-governo, elevaram a aposta de que as reformas econômicas serão interrompidas.
À tarde, os longos cederam, em meio a fatores técnicos e, em menor medida, com a contribuição do Tesouro na recompra prefixados longos no leilão extra. "A ponta longa caiu à tarde junto com a curta e com a ajuda do leilão", disse o trader da Quantitas Asset Matheus Gallina. O Tesouro recomprou 596 mil NTN-F, ante oferta de 3 milhões e não aceitou propostas na operação de venda. Para as LTN, não aceitou propostas nem na compra nem na venda.