Por Luiz Fernando Santos Reis*
Rio - É praticamente impossível, neste momento em que vivemos talvez a maior crise que nosso país já teve, escrever sobre outro assunto que não seja a pandemia provocada pelo novo coronavírus. Uma primeira impressão é a de que essa pandemia seria melhor enfrentada pelos países do Primeiro Mundo. Mas, para nossa surpresa, estamos vendo as crises pelas quais passam nações como Itália, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.

Para nós, o Brasil ainda é uma incógnita. Temos São Paulo e Rio de Janeiro com um crescimento alarmante do número de infectados e de mortes. E outros estados, como Ceará e Amazonas (especialmente na capital, Manaus), estão em situação assustadora.

Se nos países mencionados, que possuem uma infraestrutura de saúde pública superior à nossa e uma população mais preparada, com maior poder aquisitivo e melhores condições de vida, estamos assistindo ao desenrolar de uma verdadeira tragédia, o que podemos esperar que aconteça aqui?

Lembremo-nos que o Brasil possui a sexta maior população do mundo (211 milhões de habitantes) e a quinta maior extensão territorial (8,5 milhões de quilômetros quadrados). Somente dois países nos superam no conjunto desses parâmetros, China e Estados Unidos. Na China, o problema ficou mais concentrado em uma determinada região, província de Hubei (60 milhões de habitantes), onde está situada a cidade de Wuhan. Nos Estados Unidos, o vírus se alastra com velocidade e virulência incríveis, infelizmente deixando marcas de recordes de contaminados e mortos.

Se esses são os cenários nas duas maiores economias do mundo, o que podemos esperar para o nosso Brasil? Cinquenta e dois milhões de brasileiros, ou ¼ da população, vivem na linha de pobreza, em locais extremamente adensados, sem uma estrutura eficiente de saneamento básico, urbanização ou assistência médica, entre outras condições mínimas de habitabilidade. No Estado do Rio, cerca de 2 milhões de pessoas habitam em favelas. Como enfrentar essa “batalha”, considerando todas as deficiências que temos?

É difícil fazermos comparações com a disseminação da pandemia em países muito menores que o Brasil, como Alemanha, Suíça e Hong-Kong, por exemplo. Mas creio que uma lição salta aos olhos: a rígida obediência por parte da população às recomendações das autoridades.

Lembremo-nos que nunca, em nosso país, enfrentamos algo parecido com isso. Só uma linha segura e forte de comando irá mostrar para a população, que não tem a mesma cultura e formação da europeia, chinesa ou americana, o caminho a seguir. E permitir que, passado esse pesadelo, possamos voltar a construir o nosso Brasil.

É fundamental que haja união e entendimento entre nossos governantes. Que disputas e brigas menores fiquem para outra ocasião. E que o foco seja pensar no bem maior para a população: salvar vidas.

*Presidente executivo da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (Aeerj)