É comum ver caminhões quebrados, com as cargas que deveriam ser escoadas da região, carros de passeio com pneus e suspensão avariados - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
É comum ver caminhões quebrados, com as cargas que deveriam ser escoadas da região, carros de passeio com pneus e suspensão avariadosRicardo Cassiano/Agencia O Dia
Por MARTHA IMENES
Mais de 15 mil empregos diretos e 2,5 mil terceirizados, 14 grandes indústrias, 550 ônibus para transporte de funcionários diariamente, 800 caminhões em trânsito diário e cerca de 2 mil veículos de passeio. Some a isso R$ 260 milhões anuais desembolsados em impostos (estadual e municipal). Estes são alguns dos números do Distrito Industrial de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. O polo, que deveria ter uma boa contrapartida dos entes públicos, está largado à míngua: falta iluminação adequada, calçamento e, principalmente, asfalto, as ruas têm verdadeiras crateras. Um risco para quem precisa transitar no local.

É comum ver caminhões quebrados, ainda com as cargas que deveriam ser escoadas da região, carros de passeio com pneus e suspensão avariados pelo caminho, trabalhadores com rostos e roupas cobertos de poeira amargando a longa espera do coletivo, que sumiu do distrito. Para fugir dessa agonia trabalhadores e moradores utilizavam a Reta de Itaguaí, mas até isso agora não podem fazer: confronto entre traficantes e milicianos nas ruas Cuba e Rio de Janeiro, em Itaguaí, "fecharam" a única rota possível para fugir da buraqueira. No vídeo https://www.youtube.com/watch?v=H_9lZNpMVYM é possível ver a situação da região. 

O problema é antigo e a solução, segundo a Associação das Empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz e Adjacências (Aedin), já foi pauta de reuniões com a Prefeitura do Rio e com o governo do estado, mas não se chegou a um acordo. "A prefeitura diz que é responsabilidade do estado, que criou os distritos industriais (são 10 ao todo), já o estado diz que é com a prefeitura. E no meio disso tudo estão as indústrias que geram empregos, recolhem impostos e não têm contrapartida alguma", afirma Cláudio Farias, secretário-executivo da associação.

Ele conta que em 2018 foi feita uma reunião para decidir sobre a construção de um viaduto na Rodovia Rio-Santos para dar acesso ao distrito industrial, a obra foi executada com recursos do governo federal e já está em pleno funcionamento. Mas a melhoria da condição asfáltica, que teria que vir da prefeitura, foi deixada de lado. "Fizemos 14 reuniões com a administração municipal, inclusive com os prefeitos anteriores. A última, ocorrida em 2018, o que ouvimos da prefeitura é que não há verba para a obra. E nossos impostos, onde foram parar?", questionou Cláudio.

"Na época da construção do viaduto orçamos a obra de pavimentação do distrito com a empresa responsável pela construção. O custo seria de R$ 12 milhões. Mas ao conversar com o prefeito, esse valor saltou para R$ 22 milhões. Não é possível que não exista caixa para isso", conta.

Máquinas da prefeitura 'brotam' na via principal
Denúncia feita em 22 de junho por O DIA já mostrava a situação caótica do local. Ontem, a reportagem voltou ao local pela manhã e andou por todas as ruas do distrito e constatou as dificuldades de motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres passam na região. No final da tarde, equipe do município "brotou" na via principal. Procurada, a Prefeitura do Rio informou que uma equipe está trabalhando na recuperação do pavimento."A intervenção vai atender à demanda de forma imediata".

E continuou: "Desde 2018, a prefeitura mantém diálogo constante com empresários do polo. Houve reunião, elaboração de projeto e orçamento para que o serviço fosse feito pelos empresários, com possibilidade de isenção de ISS pela prefeitura, em contrapartida. Mas não houve prosseguimento por parte dos responsáveis pelo polo".

A informação foi rebatida por Cláudio Farias e por André Portela, coordenador de preservação da Cladtek e representante da empresa na Aedin. "Para realizar obras dessa amplitude são necessárias licenças, por exemplo, um acordo verbal não serve como garantia", pontua André.

Transitar pela região é um dilema
A melhoria no polo é esperada há tempos pelos trabalhadores, que alertam sobre riscos na região. O operador de solda Raphael Martins, de 31 anos, morador de Campo Grande, chama atenção para o dilema que é transitar pelas ruas da região: "Se chove, vira uma lama de barro que é difícil passar mesmo de moto. E quando faz sol a brita que colocam no chão para cobrir os buracos se mistura com o barro e desliza demais, além de levantar uma poeira densa que fica impossível ver quem está na pista".

A alternativa para não passar pelas ruas esburacadas é na saída para Itaguaí, mas confronto entre traficantes e milicianos são constantes. As indústrias orientam funcionários a evitarem o trajeto. Procurada, a PM alegou que agentes do 24º BPM (Queimados) teve informações sobre movimentação de homens com fuzis em Jardim América. Seriam integrantes de facção criminosa que tentaram retomar a região do Sapinho. Houve confronto e duas pessoas ficaram feridas. A PM garante que o patrulhamento foi intensificado.