Rafaela Farias, de 34 anos, trabalha há seis anos em uma barraca na feira do Lido, em Copacabana, na Zona SulEstefan Radovicz / Agência O Dia
Por Letícia Moura
Publicado 23/05/2021 08:00
Rio - Em meio ao cenário atual, com a redução do poder de compra e mais aperto no orçamento, o ovo passou a substituir a carne bovina nos pratos dos consumidores. Isso porque a inflação em alta impulsionou o aumento no preço da carne, restringindo a acesso à proteína. Segundo a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (ASSERJ), os supermercados fluminenses registraram um crescimento de 22% na venda de ovos nos últimos 60 dias.
"O aumento no preço da carne vermelha ocasionou uma maior demanda pelo frango e pelo ovo, que são outras proteínas muito presentes no prato dos brasileiros. No entanto, essa ampla procura consequentemente também provocará um aumento no valor desses insumos", avalia Marco Quintarelli, consultor e especialista em Varejo.
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O valor da carne bovina subiu 32,76% na capital fluminense, no acumulado de 12 meses finalizados em abril deste ano, de acordo com a pesquisa Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Já o preço do ovo apresentou alta de 11,82% no mesmo período. Ainda conforme o estudo, as carnes suína e de frango em pedaços tiveram aumento de 24,47% e 16,09%, respectivamente. 
O economista da FGV Matheus Peçanha explica que a elevação no preço da carne bovina está relacionada aos custos para criação dos animais. "A ração para o gado está muito mais cara por causa de efeitos climáticos que tiveram na safra da soja e do milho. O câmbio em alta favorece a exportação da carne. Com o aumento da exportação, diminui a oferta interna e encarece o produto", analisa.
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Para o presidente da ASSERJ, Fábio Queiróz, a carne, para grande parte da população, virou artigo de luxo no carrinho de compras. "Como não há previsão para o preço da carne bovina baixar, já estamos prevendo aumentos consecutivos na venda de ovos, que é um alimento mais prático de preparar e exige menos ingredientes".
Mudança no prato
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O servidor público Guilherme Prates, de 43 anos, reduziu o consumo de carne bovina e passou a optar pelos ovos, carnes bovina e de frango, com o objetivo de economizar. "Comecei a comer mais ovo do que antes, mas não substitui a carne completamente, diminui para duas vezes na semana. Também passei a comprar mais frango e carne de porco. O aumento nos preços dos alimentos está fora da realidade, complicado", afirma.
Servidor público Guilherme Prates, de 43 anos, passou a consumir mais ovos, carnes suína e de frango, com objetivo de poupar - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Servidor público Guilherme Prates, de 43 anos, passou a consumir mais ovos, carnes suína e de frango, com objetivo de pouparEstefan Radovicz / Agência O Dia
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Há seis anos trabalhando na feira do Lido, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, a feirante Rafaela Farias, de 34, conta que percebeu um crescimento no consumo de frango. "É uma carne mais em conta do que a carne bovina. Então, os clientes começam a migrar primeiro para o peito de frango, sobrecoxa e asa, por exemplo", relata, acrescentando que ainda não teve, em sua barraca, uma alta considerável na venda de ovos. 
Rafaela Farias, de 34 anos, trabalha há seis anos em uma barraca na feira do Lido, em Copacabana, na Zona SulEstefan Radovicz / Agência O Dia
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Preço da carne deve continuar alto
O economista Matheus Peçanha avalia que a carne deve continuar cara neste ano, por mais que a inflação não aumente tanto como em 2020, segundo ele. "O valor deve se manter no nível atual pelo menos até o ano que vem, até diminuir a pressão da exportação e do câmbio", esclarece, concluindo que o país ainda precisa recompor a produção, porque o período de maturação para o abate de um boi leva "bastante" tempo. 
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Economista e professor do Ibmec RJ, Ricardo Macedo faz coro, reforçando ser "muito difícil" uma redução no valor da carne bovina ao longo de 2021: "Em primeiro lugar, o câmbio favorece as exportações, restringindo a oferta internamente. Outro ponto a se destacar é a suspensão das exportações argentinas que trará impactos, no curto prazo, no preço da carne".
Macedo também explica que o avanço da vacinação contra a covid-19 pode contribuir para o preço da carne em alta. Isso porque, de acordo com ele, o progresso da imunização elevará a pressão nos preços, uma vez "países, com alto nível de imunização populacional, retomarão a atividade econômica mais cedo e aumentarão a demanda por commodities", pondera o professor. 
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Devido à inflação e aos preços da carne sem expectativa de baixa, o gráfico de vendas de ovos tende a subir. "Por ser mais acessível, os carrinhos de supermercado das famílias brasileiras devem acumular cada vez mais caixas de ovos. Agora resta saber de quanto será o aumento do item, que também deve ocorrer em breve", prevê o especialista Marco Quintarelli.
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