Publicado 23/05/2021 08:00
Rio - Em meio ao cenário atual, com a redução do poder de compra e mais aperto no orçamento, o ovo passou a substituir a carne bovina nos pratos dos consumidores. Isso porque a inflação em alta impulsionou o aumento no preço da carne, restringindo a acesso à proteína. Segundo a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (ASSERJ), os supermercados fluminenses registraram um crescimento de 22% na venda de ovos nos últimos 60 dias.
"O aumento no preço da carne vermelha ocasionou uma maior demanda pelo frango e pelo ovo, que são outras proteínas muito presentes no prato dos brasileiros. No entanto, essa ampla procura consequentemente também provocará um aumento no valor desses insumos", avalia Marco Quintarelli, consultor e especialista em Varejo.
O valor da carne bovina subiu 32,76% na capital fluminense, no acumulado de 12 meses finalizados em abril deste ano, de acordo com a pesquisa Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Já o preço do ovo apresentou alta de 11,82% no mesmo período. Ainda conforme o estudo, as carnes suína e de frango em pedaços tiveram aumento de 24,47% e 16,09%, respectivamente.
O economista da FGV Matheus Peçanha explica que a elevação no preço da carne bovina está relacionada aos custos para criação dos animais. "A ração para o gado está muito mais cara por causa de efeitos climáticos que tiveram na safra da soja e do milho. O câmbio em alta favorece a exportação da carne. Com o aumento da exportação, diminui a oferta interna e encarece o produto", analisa.
Para o presidente da ASSERJ, Fábio Queiróz, a carne, para grande parte da população, virou artigo de luxo no carrinho de compras. "Como não há previsão para o preço da carne bovina baixar, já estamos prevendo aumentos consecutivos na venda de ovos, que é um alimento mais prático de preparar e exige menos ingredientes".
Mudança no prato
O servidor público Guilherme Prates, de 43 anos, reduziu o consumo de carne bovina e passou a optar pelos ovos, carnes bovina e de frango, com o objetivo de economizar. "Comecei a comer mais ovo do que antes, mas não substitui a carne completamente, diminui para duas vezes na semana. Também passei a comprar mais frango e carne de porco. O aumento nos preços dos alimentos está fora da realidade, complicado", afirma.
Há seis anos trabalhando na feira do Lido, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, a feirante Rafaela Farias, de 34, conta que percebeu um crescimento no consumo de frango. "É uma carne mais em conta do que a carne bovina. Então, os clientes começam a migrar primeiro para o peito de frango, sobrecoxa e asa, por exemplo", relata, acrescentando que ainda não teve, em sua barraca, uma alta considerável na venda de ovos.
Preço da carne deve continuar alto
O economista Matheus Peçanha avalia que a carne deve continuar cara neste ano, por mais que a inflação não aumente tanto como em 2020, segundo ele. "O valor deve se manter no nível atual pelo menos até o ano que vem, até diminuir a pressão da exportação e do câmbio", esclarece, concluindo que o país ainda precisa recompor a produção, porque o período de maturação para o abate de um boi leva "bastante" tempo.
Economista e professor do Ibmec RJ, Ricardo Macedo faz coro, reforçando ser "muito difícil" uma redução no valor da carne bovina ao longo de 2021: "Em primeiro lugar, o câmbio favorece as exportações, restringindo a oferta internamente. Outro ponto a se destacar é a suspensão das exportações argentinas que trará impactos, no curto prazo, no preço da carne".
Macedo também explica que o avanço da vacinação contra a covid-19 pode contribuir para o preço da carne em alta. Isso porque, de acordo com ele, o progresso da imunização elevará a pressão nos preços, uma vez "países, com alto nível de imunização populacional, retomarão a atividade econômica mais cedo e aumentarão a demanda por commodities", pondera o professor.
Devido à inflação e aos preços da carne sem expectativa de baixa, o gráfico de vendas de ovos tende a subir. "Por ser mais acessível, os carrinhos de supermercado das famílias brasileiras devem acumular cada vez mais caixas de ovos. Agora resta saber de quanto será o aumento do item, que também deve ocorrer em breve", prevê o especialista Marco Quintarelli.
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