Ex-presidente Luiz Inácio Lula da SilvaRicardo Stuckert
Lula diz que governo responsável não precisa de lei de teto de gastos
Imposição de um limite para os gastos públicos federais foi criada no governo de Michel Temer, em 2016, e entrou em vigor no ano seguinte
Brasília - Enquanto o mercado vê com apreensão as manobras do Ministério da Economia para se esquivar do teto de gastos e abrir espaço no orçamento para viabilizar o Auxílio Brasil a R$ 400, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já defendeu a criação do benefício, declarou que um "governo responsável não precisa criar uma lei dizendo o que pode gastar".
"As pessoas falam 'o Lula quer gastar'", disse, respondendo às críticas que recebe por já ter declarado ser contra o limitador de gastos. Ao ilustrar a situação, Lula disse que "é igual um pai responsável, uma mãe responsável. Ele gasta aquilo que tem que gastar, aquilo que precisa gastar. Eu não tinha lei de teto de gastos e a inflação foi controlada, crescimento aconteceu". As declarações foram dadas nesta quinta-feira (28), em entrevista à Jovem Pan de Sorocaba (SP), veículo em que seu adversário na corrida presidencial, o presidente Jair Bolsonaro, tem assento cativo.
A imposição de um limite para os gastos públicos federais foi criada no governo de Michel Temer, em 2016, e entrou em vigor no ano seguinte. O teto é corrigido todos os anos pela variação da inflação acumulada em 12 meses até junho do ano anterior e, criado após um período de forte aumento dos gastos e da dívida pública brasileira, a medida é vista por seus defensores como uma âncora na credibilidade da política fiscal do Brasil.
Em uma análise sobre o cenário econômico nacional, o petista afirmou que "a inflação está descontrolada nos preços controlados", a exemplo dos altos custos da gasolina, diesel e energia elétrica que, segundo ele, "não têm nenhuma lógica". "Se o governo não controla os preços subordinados a ele controlar, ele não tem moral sequer para passar confiança nos outros cidadãos da sociedade que vendem produto para o povo consumir", afirma.
Dentre seus planos de governo para contornar a crise brasileira, Lula pontua que é preciso haver uma expansão de crédito concomitante à geração de emprego e distribuição de renda. "Tem que fazer com que o crédito chegue na mão das pessoas para que as pessoas possam consumir", pontua, dizendo que só assim a "roda gigante da economia começa a girar de forma saudável". Para ele, é preciso dinamizar a economia ao conceder créditos para diferentes setores da sociedade, desde empresários, empreendedores até produtores rurais.
"Quando a gente faz com que o dinheiro chegue, um pouquinho que seja, no bolso do povo, o pobre deixa de ser problema e passa a ser solução", destacou. Ao defender o papel do Estado na reestruturação econômica, Lula diz que se o governo "estiver cumprindo suas funções sociais, o Estado vai estar fazendo investimento na melhoria da qualidade de vida das pessoas".
Eleições 2022
A visão do ex-presidente é que o Brasil em 2023 estará em piores condições em comparação a quando assumiu seu primeiro governo, em 2003. A estimativa, no entanto, não o desestimula a competir pelas eleições. De olho em 2022, Lula afirmou que irá se dedicar para fazer com que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) seja eleito o governador paulista. Segundo ele, se o PT ganhar na disputa nacional e estadual, "aí você vai ver que revolução nós vamos fazer no Brasil".
Relações internacionais
Com o objetivo de construir também uma agenda de influência internacional, Lula afirmou que irá cumprir compromissos em alguns países, como Alemanha, Bélgica, França e Espanha. Ao destacar o contraste de sua postura à de Bolsonaro, Lula enfatizou a importância de erguer boas relações com outras nações.
O petista relembrou episódios em que o chefe do Executivo estremeceu as relações com o mundo, como quando Bolsonaro fez piada sobre a esposa do presidente francês, Emmanuel Macron, e quando fez ataques à China e Argentina. "A gente precisa defender o interesse do nosso país fazendo coisas benéficas para o nosso país, e não fazendo bobagem e provocando os outros", declarou. "É melhor guardar sua língua, não falar mal de ninguém, e voltar a fazer com que esse país seja respeitado."
Lula defendeu que, diante da necessidade de construir relações internacionais, o País também tem que emprestar dinheiro para ajudar a desenvolver outras nações. "Desde que esse dinheiro emprestado preste serviço ao Brasil, gerando emprego e vendendo produto brasileiro lá fora", condicionou. Para o ex-presidente, é preciso que a extrema direita, em ascensão no mundo, seja "vencida no discurso". "E isso é o que eu quero contribuir para o Brasil", finalizou.
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