O crédito rotativo é dividido em duas modalidades: a regular e a não-regularReprodução

Pressionado pela escalada da Selic, o índice de juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito subiu 3,7% de agosto para setembro, informou o Banco Central na última segunda-feira, 25. A taxa passou de 335,8% para 339,5% ao ano. Utilizado por muitos brasileiros como uma saída de emergência em momentos de crise, o crédito rotativo não é a única forma de equilibrar as contas e, segundo especialistas, pode ser um dos caminhos mais rápidos para a inadimplência.

Com o impacto da inflação, principalmente em setores básicos do cotidiano brasileiro como alimentação, moradia e transporte, o trabalhador tem tido dificuldades de se manter fora do “vermelho”. Por isso, em muitos casos, o cartão de crédito se torna uma alternativa para adiar os custos com as despesas mensais. O problema é que, quando não sobra dinheiro para quitar a fatura, o rotativo é a alternativa mais fácil para ficar com o nome limpo.

Esse “rotativo” nada mais é que o parcelamento do valor cobrado pelo banco, ou seja, o consumidor paga uma parte e o restante é adicionado à fatura do mês seguinte. Essa parte que não foi quitada, no entanto, será corrigida a juros elevados (a média é de 13% ao mês) que aumentam exponencialmente. Esse tipo de recurso é dividido em duas modalidades: a regular e a não-regular.

Crédito rotativo regular

Quando o consumidor paga entre a quantia mínima e a quantia intermediária da fatura, sendo estes valores informados pela empresa credora no próprio documento de cobrança. O restante é adicionado na conta do mês seguinte, corrigido com juros altos.

Crédito rotativo não-regular

Válido para aqueles que deixaram de realizar o pagamento da fatura de forma integral, ou quem pagou um valor abaixo do mínimo estabelecido pela instituição financeira. Nestes casos, as condições são ainda menos vantajosas, pois os juros de crédito rotativo podem chegar a 375% ao ano.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 84,6% do total de famílias endividadas encerrou o terceiro trimestre com dívidas no cartão de crédito, novo recorde. Em relação a setembro de 2020, a modalidade avançou 5,6 pontos no endividamento, o maior incremento anual da série histórica do indicador.

Primeiramente, é necessário entender o porquê do perigo relacionado a este tipo de crédito. Apesar da popularização do cartão como forma de adiar cobranças ou, muitas vezes, organizar as compras, essa modalidade é, também, uma forma de empréstimo. A grande diferença é que esse empréstimo é concedido pelo banco sem garantias, por isso, quando o pagamento não é realizado, o alto risco incorre na geração de juros exorbitantes, explica Gilberto Braga, economista, contador e professor do Ibmec.

“Um exemplo: quem compra um carro ou imóvel, o bem fica vinculado ao pagamento do endividamento. Se o devedor não pagar, o credor pode executar a dívida, usando o bem para a quitação. Quem usa o cartão de crédito num restaurante, em outro extremo de comparação, não vai poder devolver a refeição para a administradora do cartão de crédito como forma de pagamento”, afirma.

O rotativo do cartão é uma das modalidades mais fáceis de acessar e, por isso, pode parecer a opção ideal em situações emergenciais. No entanto, considerando os juros extremamente desvantajosos, o ideal é que essa seja a última opção para o consumidor, pois o risco de entrar de vez no vermelho é alto. Nesse caso, Rafael Igrejas, economista e também professor do Ibmec, explica as dificuldades de competir com o crescimento do débito junto ao banco.

“Aquilo que o trabalhador recebe por mês, em geral, vai ser igual no mês subsequente; o saldo da dívida não, ele vai crescer exponencialmente. Com os juros a 339,5% a.a., ao final do ano, aquilo que o consumidor vai pagar é muito mais do que o que ele pegou de crédito”, coloca.

Além disso, segundo o boletim Focus - divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC) -, a previsão da taxa básica de juros, Selic, para este ano é de 8,75% e com isso, claro, os juros se tornam ainda mais caros. No entanto, o aumento na cobrança do rotativo considera outros fatores, especialmente em um cenário de instabilidade econômica, com inflação galopante a 8,96%, conforme o Focus, e o desemprego em 13,2% no trimestre encerrado em agosto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Essa alta de juros não explica totalmente a alta de juros do crédito rotativo. Ela está relacionada, muitas vezes, às expectativas das instituições financeiras em relação às dificuldades de solvência de crédito das pessoas físicas”, pontua Rafael.
Alternativas

Em caso de emergências, o ideal é fazer o possível para não precisar parcelar a fatura a fim de evitar a chamada “bola de neve”. Nesse caso, se o consumidor tiver acesso ao crédito consignado, essa pode ser uma alternativa, já que os mesmos contam com as menores taxas de juros do mercado.

Em segundo lugar, se o consignado não for uma opção viável, deve-se buscar o empréstimo convencional, “com prazo certo e parcela definida”, explica Gilberto.
Dicas para fugir das dívidas com o cartão

- Montar um orçamento pessoal ou familiar, listando todas as despesas e receitas;
- Evitar o uso do cartão de crédito;
- Se utilizar o cartão, fazer isso de forma planejada, sempre observando prós e contras;
- No caso de parcelamentos, observar sempre o valor total da dívida, e não apenas o parcelamento;
- Se o consumidor perder o controle e a dívida começar a crescer exponencialmente, deve-se buscar ajuda para fazer um refinanciamento e não se superendividar.
*Estagiária sob supervisão de Letícia Moura