Botijão de gás acumula alta de 30%; Preço afeta rotina de famíliasReprodução
Publicado 18/10/2021 08:00
Rio - O aumento do custo de vida vem preocupando os cariocas e fluminenses e entre os itens que estão custando mais caro, um em especial vem pesando no bolso das famílias: o botijão de gás. No dia 8 deste mês, o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) sofreu um novo reajuste e subiu 7,22%. Com isso, o preço médio do gás teve aumento de R$ 3,60 para R$ 3,86 por kg, o que corresponde a R$ 50,18 no botijão de 13 kg. Outro dado que assusta é o quanto o valor cobrado pelo gás já foi reajustado pela Petrobras: 47,53% somente em 2021 e, desde o início de 2020, a alta acumulada é de 81,5%. Do valor total do reajuste, 30% foi repassado para o consumidor, resultando em uma alta de cinco vezes o valor da inflação, apontou a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Tantos aumentos se refletem no dia a dia, como é o caso da cabeleireira Alessandra Tralhão, moradora do bairro Cabral, em Nilópolis, na Baixada Fluminense, e que vende lanches como uma forma de complementar a renda. Segundo ela, o número de dias em que abre a barraquinha diminuiu devido ao preço do gás. "O aumento do botijão tem praticamente acabado com a minha venda, pois a minha chapa é movida a gás. Antes vendia lanches de segunda a sexta e agora só abro a partir de quinta", relata. 
Tralhão também comenta que teve que repassar o aumento dos custos para os clientes, o que tem impactado na sua renda final. "Como o gás subiu, tive que aumentar o valor do lanche", diz ela após contar que passou a pagar o dobro do preço pelo produto. "Antigamente pagava R$ 60 no botijão e atualmente pago R$ 120", conta. 
A aposentada Maria de Jesus Alves, 76 anos, também relata que mudou alguns hábitos por conta do alto custo do gás. "Gostava muito de assar bolo, fazer carnes no forno. Hoje já não faço mais. Opto por cozinhar os alimentos na pressão, e depois doro eles na boca do fogão mesmo, como forma de tentar economizar", aponta ela ao relatar a mudança por acreditar que o forno gasta mais. 
Ainda segundo a aposentada, é possível sentir o impacto do aumento em sua renda. "Quando o botijão custava menos, em torno de R$85, já separava R$ 100 para o gás e com o troco comprava outros itens como legumes, ovos, leite. Hoje não consigo mais fazer isso, pois tudo está caríssimo", diz ao contar que atualmente encontra o botijão por R$96, em Benfica, bairro da Zona Norte do Rio.  
O efeito do aumento do gás na rendas das famílias foi comprovado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Segundo o levantamento, o uso de lenha ultrapassou o de GLP nas cozinhas brasileiras a partir de 2017, quando começou a disparada do preço do gás. A data coincide com a mudança na política de preços adotada pela Petrobras. Na ocasião, a companhia passou a reajustar o GLP toda vez que a cotação do petróleo e o câmbio sobem. 
Além disso, o estudo constatou que as famílias brasileiras passaram a diminuir, não usar ou até vender o botijão por conta do valor cobrado. 
Já a ANP, realizou entre 3 e 9 de outubro uma pesquisa que apontou que botijão já chegou a custar R$ 105 no estado do Rio. 
Aumento é motivado por vários fatores
O economista e professor universitário Fábio Neves explica que a alta no preço do gás não pode ser justificada por um único fator. Segundo ele, alguns elementos motivaram a subida: a política de preços adotada pela Petrobras; o preço do petróleo, já que o gás é derivado desse combustível; e a variação cambial. 
"Em muitas situações há um efeito combinado. O que as pessoas tem que entender é que embora a gente viva no Brasil, grande parte dos produtos e serviços que nós consumimos são vinculados ao dólar. E por conta disso, apesar da maioria dos brasileiros nunca ter tocado numa nota de dólar, a vida dele acaba sendo afetada por essa moeda internacional", explica Neves.
Além disso, Neves esclarece que devido a baixa renda e ao nível de desemprego, as famílias mais pobres acabam sendo as mais afetadas com o aumento dos preços. "Se você pegar uma família de baixa renda é possível observar que a remuneração é gasta com alimentação, transporte e moradia. Então, o que sobra é muito pouco. E isso faz com que essas famílias sejam mais impactadas com a taxa do desemprego persistente e com a alta da inflação, não só do botijão de gás, mais dos alimentos, dos combustíveis e de todos os itens necessários para a nossa sobrevivência", conclui.  
Medidas para amenizar crise 
Como forma de amenizar a crise provocada pelo aumento no preço do gás, o Governo do Estado anunciou o lançamento de um vale no valor de R$ 80. O benefício é vinculado ao projeto Supera Rio e a previsão é que cerca de 100 mil famílias sejam contempladas. O projeto terá um investimento total de cerca de R$ 39 milhões e a previsão é que o pagamento seja creditado no dia 25 deste mês.  
O Governo Federal também está estudando a implantação da medida, segundo o jornal Estado de São Paulo. Nesse caso, o benefício no valor de R$ 100 seria temporário.
Já a Petrobras analisa a criação de um auxílio para famílias que não têm condições de arcar com o produto. A ideia é criar um fundo de R$ 300 milhões que serão destinados a criação do programa social e que contará com a participação de outras empresas da indústria de óleo e gás.  
Levantamento preço botijão no Rio
O DIA fez uma pesquisa e levantou quanto está custando, em média, o botijão de gás na cidade e estado do Rio entre os dias 13 e 15 deste mês. Confira:
Rio de Janeiro: Entre R$ 95 e R$105;
São Gonçalo: Entre R$ 99 e R$104;
Nova Iguaçu: Entre R$99,99 e R$109,99;
Caxias: R$105;
Niterói: Entre R$ 104,99 e R$109,99;
Fonte: site Preço do Gás. 
Anote a dica
Para economizar, o consumidor pode consultar quanto custa o preço do botijão de gás em revendedoras próximo de onde mora. Para isso, basta acessar o site Preço do Gás e digitar o endereço no qual o item deve ser entregue que a plataforma vai mostrar quanto está custando o botijão na sua região. 
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