Publicado 22/10/2021 12:13
Rio - O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes e de Lojas de Conveniência do Município do Rio de Janeiro (Sindcomb) informou, nesta sexta-feira, 22, que o risco de desabastecimento de combustíveis, por enquanto, está descartado na capital fluminense. Nesta quinta-feira, 21, transportadores de combustíveis iniciaram uma paralisação contra os aumentos dos preços dos combustíveis, principalmente o diesel.
Em nota, o sindicato disse que as bases das companhias distribuidoras reabriram às 20h desta quinta-feira e retomaram os carregamentos de gasolina, óleo diesel e etanol hidratado. "O abastecimento aos caminhões FOB (Free On Board, de proprietários particulares) e CIF (Cost, Insurance and Freight, de propriedade das distribuidoras) vai seguir no fim de semana, de modo a atender à demanda reprimida por conta da paralisação dos tanqueiros", explicou o Sindcomb em comunicado.
Procurada por O DIA, a Polícia Militar informou que, até o momento, não há registros de ocorrências relacionadas à paralisação no estado do Rio nesta sexta.
Na manhã desta quinta-feira, caminhoneiros paralisaram as bases de carregamento de combustíveis de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O ato ocorreu em manifestação contra o preço dos combustíveis e também pelo valor alto cobrado em fretes. De acordo com a PM, o bloqueio foi feito de forma pacífica, sem registro de prisões ou apreensões.
Minas Gerais
A paralisação dos transportadores de combustíveis e de derivados de petróleo em Minas Gerais atinge 100% dos tanqueiros no estado, segundo o presidente do Sindtanque-MG, Irani Gomes. As atividades foram interrompidas na madrugada desta quinta-feira, 21, e cerca de 800 caminhões estão parados na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sem nenhuma interdição de rodovias ou estacionamentos. São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo também aderiram à paralisação.
Os motivos do protesto, segundo o sindicato, são os altos custos dos combustíveis praticados pela Petrobras e o ICMS dos combustíveis em Minas Gerais. Durante a manifestação, dois caixões foram colocados na entrada da BR Distribuidora, em Betim (MG), para simbolizar a "morte do frete".
O sindicato informou que a greve é por tempo indeterminado, até que haja negociações com os governos. "Estamos com os braços cruzados até que o governo se sensibilize e olhe para essa categoria", afirmou Irani Gomes. A Câmara dos Deputados aprovou um projeto para reduzir os preços dos combustíveis, mas o presidente do Sindtanque-MG não considera a solução eficaz. "Isso é apenas tampar o sol com a peneira", avaliou Gomes.
Preço do diesel
O litro do diesel S-10, com menor teor de enxofre, alcançou em outubro maior preço médio mensal real (descontada a inflação) da última década, sendo vendido a R$ 5,033. Os dados são do Monitor dos Preços dos Combustíveis, lançado dia 5 pelo Observatório Social da Petrobras (OSP). Esse valor está 23% acima da média da série histórica, iniciada em 2012, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) passou a contabilizar os preços do S-10.
O monitor demonstra ainda que, comparado ao salário mínimo, o diesel teve um aumento de 10 pontos percentuais, subindo de 36% em dezembro de 2012 para 46% em outubro de 2021. Ou seja, um consumidor que abastece seu veículo com 100 litros de combustível num mês gastaria quase a metade de um salário mínimo para isso.
"Foi um crescimento muito grande neste último ano. Historicamente, o preço do diesel é menos volátil do que o da gasolina e isso se deve principalmente ao poder político e à greve dos caminhoneiros. Até hoje, a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) está zerada, fruto das paralisações de 2018", afirma o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), responsável pela elaboração do monitor dos preços.
Gasolina e etanol
O preço médio do litro da gasolina comum estava a R$ 6,691 entre os dias 10 e 16 deste mês no município do Rio, de acordo com uma pesquisa realizada Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O valor máximo chegou a R$ 7,099 e o mínimo foi de R$ 6,299. No mesmo período, segundo o levantamento, o litro do etanol hidratado custava, em média, R$ 5,564 na capital. O custo máximo do combustível alcançou R$ 6,399 e o mínimo registrou R$ 5,079.
Motoristas enfrentam dificuldades
Para tentar economizar, o motorista autônomo Leonardo Cardoso, de 37 anos, contou que abastece o seu carro apenas uma vez ao mês, além de controlar a velocidade e o uso das marchas. Ele acrescentou: "Hoje, uma família de classe média não tem mais condições de andar 30 dias de carro. Não existe possibilidade para isso, porque, a cada três dias, há o aumento do preço do combustível. Nós também temos, a cada três dias, o aumento do preço dos alimentos", disse.
Ex-motorista de aplicativo, Naya Pereira, de 37, relatou que deixou o trabalho devido à alta dos valores dos combustíveis. Ela comentou, ainda, que não conseguia lucrar com o antigo emprego em meio ao atual cenário brasileiro. "Você não consegue levar dinheiro para casa. Você trabalha só para pagar conta, não tem lazer".
Na avaliação do entregador Júlio Borges, 30 anos, é um "absurdo" os trabalhadores terem que arcar com os consecutivos aumentos dos preços. "É um absurdo total. E nós, trabalhadores, é que estamos, literalmente, pagando por isso", disse, criticando também a inflação brasileira, que já registra alta de 10,25% nos últimos 12 meses.
O historiador Gabriel Vabo, de 35 anos, que trabalha na capital e vive em Nova Friburgo, na Região Serrana, precisou adaptar a rotina para tentar poupar gastos, retornando para casa somente nas sextas-feiras. Para ele, o atual custo dos combustíveis reflete um governo sem política econômica, "que prefere, hoje, colocar a culpa no contexto internacional do preço do barril de petróleo e do dólar do que assumir que nunca se dedicou a desenvolver uma política interna para o setor", afirmou.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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