Érica Santos trabalha vendendo doces em feiras livres na cidade do Rio de JaneiroReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - A inflação oficial no país, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 1,16% em setembro, o que representa um aumento de 0,29 ponto percentual (p.p.) em comparação com a taxa de 0,87% registrada em agosto. Essa foi a maior variação para o mês desde 1994, quando o índice foi de 1,53%. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 8.
No ano, o IPCA acumula alta de 6,90% e, nos últimos 12 meses, de 10,25% - índice acima dos 9,68% observados nos 12 meses anteriores. Em setembro do ano passado, a variação mensal havia sido de 0,64%.
O economista Gilberto Braga reforçou que o consumidor sente o impacto direto no bolso, na medida em que ele não consegue ter reajustes no mesmo patamar da inflação. "É aquela velha história de que, desde que foi feito o Plano Real, os aumentos são anuais, mas os preços não são congelados. Então, os preços sobem paulatinamente [...] O consumidor só repõe o seu poder de compra uma vez ao ano. Então, ele só se recupera uma vez a cada 12 meses. Nos outros 11 meses, ele fica perdendo para a inflação. É um impacto ruim", afirmou.
Tiago Sayão, economista e professor do Ibmec, esclareceu que os brasileiros são impactados duplamente pela inflação: "No consumo de bens/serviços finais fornecidos pelos setores de Habitação, Transportes e Alimentação e Bebidas, além dos valores dos combustíveis e da energia elétrica".
Grupos de produtos e serviços
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta em setembro. O maior impacto (0,41 p.p.) e a maior variação (2,56%) vieram de Habitação, que acelerou em relação a agosto (0,68%). Na sequência, vieram Transportes (1,82%) e Alimentação e Bebidas (1,02%), cujos impactos foram de 0,38 p.p. e 0,21 p.p. respectivamente. Esses três grupos contribuíram, conjuntamente, com cerca de 86% do resultado de setembro (1,0 p.p. do total de 1,16). Os demais grupos ficaram entre a queda de 0,01% em Educação e a alta de 0,90% em Artigos de residência.
Segundo o IBGE, o resultado do grupo Habitação (2,56%) foi influenciado principalmente pela alta da energia elétrica (6,47%). Em setembro, passou a valer a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos. Em agosto, a bandeira vigente era a vermelha patamar 2, na qual o acréscimo era menor (de R$ 9,492 para os mesmos 100 kWh). Além disso, houve reajustes tarifários nas seguintes áreas de abrangência do índice: Belém (9,43%) – reajuste de 8,92%, em vigor desde 7 de agosto; Vitória (7,35%) – reajuste de 9,60%, a partir de desde 7 de agosto; São Luís (6,33%) – reajuste de 2,20%, vigente desde 28 de agosto.

Ainda em Habitação, o instituto ressalta que a variação positiva da taxa de água e esgoto (0,37%), consequência dos reajustes de 11,93% em Recife (8,07%), válido desde 19 de agosto, e de 9,07% em uma das concessionárias de Porto Alegre (2,30%), em vigor desde 14 de agosto. Já em Belo Horizonte (-1,77%), houve redução por conta da mudança na metodologia de cobrança das tarifas, ocorrida em 1º de agosto. No subitem gás encanado (0,29%), a alta decorre dos reajustes de 5,71% no Rio de Janeiro (0,54%) e de 10,80% em Curitiba (0,98%), ambos em vigor desde 1º de agosto. Os preços do gás de botijão (3,91%) também subiram e acumulam alta de 34,67% nos últimos 12 meses.
Combustíveis

O grupo dos Transportes (1,82%) acelerou em relação a agosto, quando variou 1,46%. Mais uma vez, a maior contribuição (0,18 p.p.) veio dos combustíveis, que subiram 2,43%, influenciados pelas altas da gasolina (2,32%) e do etanol (3,79%). Além disso, o gás veicular (0,68%) e o óleo diesel (0,67%) também apresentaram variação positiva.

Ainda em Transportes, o IBGE destaca as altas de 28,19% nas passagens aéreas, após a queda de 10,69% registrada em agosto, e de 9,18% nos transportes por aplicativo, cujos preços já haviam subido 3,06% no mês anterior. Os automóveis novos (1,58%), os automóveis usados (1,60%) e as motocicletas (0,63%) seguem em alta, contribuindo conjuntamente com 0,08 p.p. no IPCA de setembro. Por fim, cabe mencionar a alta de 0,19% nos ônibus intermunicipais, que decorre, em particular, dos reajustes entre 11% e 13% aplicados em Fortaleza (6,55%) a partir de 3 de setembro.
Altas dos preços

O grupo Alimentação e Bebidas (1,02%) teve variação menor que a de agosto (1,39%). Os produtos para alimentação no domicílio subiram 1,19%, frente ao resultado de 1,63% no mês anterior. No lado das altas, destacam-se as frutas (5,39%), que contribuíram com 0,05 p.p. no índice de setembro, do café moído (5,50%), do frango inteiro (4,50%) e do frango em pedaços (4,42%). Além disso, também foram verificadas altas nos preços da batata-doce (20,02%), da batata-inglesa (6,33%), do tomate (5,69%) e do queijo (2,89%).
Valor da carne recua
Por outro lado, houve recuo nos preços da cebola (-6,43%), do pão francês (-2,00%) e do arroz (-0,97%). Os preços das carnes (-0,21%) também recuaram em setembro, após sete meses consecutivos de alta, acumulando variação 24,84% nos últimos 12 meses, de acordo com os dados do IBGE.

A alimentação fora do domicílio também desacelerou, passando de 0,76% em agosto para 0,59% em setembro. O principal fator que levou a essa desaceleração foi a variação negativa registrada no subitem lanche (-0,35%), que havia subido 1,33% no mês anterior. A refeição, por sua vez, apresentou alta de 0,94%, acima do 0,57% observado em agosto. Além disso, os preços da cerveja (1,32%) e do refrigerante e água mineral (1,41%) também subiram.
Driblando os preços
Beatriz Alves, que esteve nesta sexta-feira, 8, na feira livre da Rua Alzira Brandão, na Tijuca, Zona Norte do Rio, contou que está impressionada com o aumento dos preços dos alimentos. "Antes, eu descia (para a feira) com R$ 50 e conseguia comprar bastante coisa. Agora, não dá, temos que pensar bem. Eu gostava de comer salmão de vez em quando, mas não dá".

Ela acrescentou que passou a realizar pesquisas de preços para conseguir comprar o peixe em um valor mais atrativo. "Quando quero comer salmão, tenho que pesquisar, ir ao Mercado de São Pedro, em Niterói, porque vou também para passear. Então, vou pesquisando, comprando e deixando congelado. Agora, sempre temos que pesquisar tudo, porque, de verdade, você tem que fazer mágica com o dinheiro. Não sei como as pessoas que ganham salário mínimo estão conseguindo sobreviver", afirma.

Beatriz também relatou que mudou os hábitos para poupar gastos com os alimentos. "Sinceramente, não costumava olhar o preço de produtos que estava habituada a comprar. Eu colocava no carrinho. Agora, eu olho o preço e faço conta, porque senão você não consegue pagar o condomínio, a conta de luz, que está pela hora da morte, a conta de gás, que está muito cara", finaliza.
Érica Santos, que trabalha vendendo doces em feiras livres, disse que percebe, ao fazer compras, que os valores dos produtos aumentam a cada dia. "Não tem como passar para o cliente. Imagina, você cobra, por exemplo, R$ 8 na tortinha hoje, não tem como, na semana que vem, cobrar R$ 15 na mesma tortinha. A subida dos preços está exorbitante", critica.
Geral - Inflaçao em alta. Na foto, feira livre na Rua Alzira Brandao, na Tijuca, zona norte do Rio. Na foto, Erica Santos, 34 anos. - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Geral - Inflaçao em alta. Na foto, feira livre na Rua Alzira Brandao, na Tijuca, zona norte do Rio. Na foto, Erica Santos, 34 anos.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Alta em todas as áreas pesquisadas

Todas as áreas pesquisadas apresentaram alta em setembro. O maior índice foi registrado no município de Rio Branco (1,56%), influenciado pelas altas nos preços da energia elétrica (6,09%) e do automóvel novo (3,57%). Já o menor resultado ocorreu em Brasília (0,79%), por conta da queda nos preços da gasolina (-0,81%) e do seguro de veículo (-3,36%).
Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados entre 28 de agosto e 28 de setembro de 2021 (referência) com os preços vigentes entre 29 de julho e 27 de agosto de 2021 (base). O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980, se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília.

INPC sobe 1,20% em setembro

Ainda conforme o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de setembro subiu 1,20%, 0,32 p.p. acima do resultado de agosto (0,88%). Esse foi o maior resultado para um mês de setembro desde 1994, quando o índice foi de 1,40%. O acumulado no ano foi de 7,21% e, em 12 meses, de 10,78%, acima dos 10,42% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em setembro de 2020, a taxa foi de 0,87%.

Os produtos alimentícios subiram 0,94% em setembro, ficando abaixo da variação observada em agosto (1,29%). Já os não alimentícios tiveram alta de 1,28%, enquanto em agosto haviam registrado 0,75%.

Todas as áreas registraram variação positiva em setembro. O menor índice foi observado no município de Goiânia (0,79%), onde pesaram as quedas nos preços das carnes (-1,65%). Já o maior resultado foi registrado na região metropolitana de Curitiba (1,65%), influenciado pelas altas nos preços da energia elétrica (6,80%) e da gasolina (4,91%).