Alan Xavier, assistente de logística last mile do Grupo Boticário, com a esposa e a filhaArquivo pessoal
"Atualmente, mais de 80% dos nossos colaboradores afirmam que as ações internas de Diversidade, Equidade e Inclusão influenciam positivamente a continuidade na empresa. Também já recebemos retornos muito positivos sobre a licença parental universal, além de um aumento significativo nas menções sobre o benefício em nossas pesquisas de clima semanais", diz Viviane Pavanelli Corazza, gerente sênior de diversidade e cultura do Grupo Boticário.
Mais tempo com os filhos
Embora não seja obrigatória, a licença-parental estendida é amplamente desejada pelos trabalhadores. De acordo com o relatório Situação da Paternidade no Brasil (2019), da ONG Promundo, 78% dos homens brasileiros defendem que os pais devem tirar licença-paternidade para passar mais tempo com os filhos. Já 64% dizem estar dispostos a fazer um “curso de pai” para ficar 20 dias com a família. Atualmente, os empregados de uma Empresa Cidadã que comprovarem participação em programa ou atividade de orientação sobre paternidade responsável têm direito a 20 dias de afastamento.
Para os funcionários que já têm acesso à medida, a licença representa um incentivo no ambiente de trabalho. "É um benefício da firma que demonstra um cuidado, porque você pode ter muito dinheiro, mas não ter a capacidade de tirar esse período. Não tem dinheiro que pague, não adianta. É um benefício que não tem como mensurar em termos de valor, quanto que vale. Sem dúvida, eu aprecio bastante. Isso com certeza faz uma diferença", diz Henrique Machado, diretor da PwC Brasil e pai de duas meninas. Assim que contou sobre a chegada da sua filha mais velha, Henrique foi informado pela empresa de que teria direito a dois meses de licença, período que foi integralmente dedicado aos cuidados com a família.
Empresa Cidadã
Apesar das vantagens que a extensão da licença gera, os trabalhadores só têm direito à ampliação do afastamento quando são servidores públicos federais ou trabalham em companhia privada inscrita no programa Empresa Cidadã. Nesse caso, os pais precisam pedir a prorrogação da licença em dois dias úteis após o nascimento da criança ou ao fim do primeiro mês após o parto, sendo concedida imediatamente após o término da licença-maternidade. Para ter direito ao benefício, também é necessário que os eles comprovem participação em atividades de orientação sobre paternidade. O Ministério da Saúde sugere que a realização do pré-natal da parceira, a participação nas atividades educativas durante o pré-natal e as visitas à maternidade sirvam como comprovação.
"É preciso valorizar e incentivar em todos os segmentos a cultura da inclusão e da diversificação. Este é um momento único na vida das pessoas e cada companhia precisa internalizar a importância do acolhimento e do apoio a seus funcionários, garantindo que todos tenham as mesmas oportunidades", diz Mattia Iannone, diretor de recursos humanos para América do Sul da Ferrero. A empresa acabou de lançar seu programa de flexibilização parental, que garante 16 semanas de licença remunerada para o cuidador principal e quatro semanas para o cuidador acompanhante, independente do gênero. Além do período estendido de afastamento, o programa garante que o funcionário retorne à mesma função, sem alteração de salário, e que receba treinamento.
Por enquanto, o mais próximo que o Brasil está de garantir a licença-paternidade estendida para todos os trabalhadores é o Projeto de Lei 1974/2021. O texto está na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara dos Deputados, mas segue parado desde dezembro de 2021.
Impactos sociais
Além dos resultados positivos no mundo corporativo, os dias a mais longe do trabalho geram vantagens às relações familiares dos funcionários. Segundo o Ministério da Saúde, a licença-paternidade estimula um maior vínculo afetivo entre todos os envolvidos e gera impactos positivos para o desenvolvimento das crianças e para a igualdade de gênero. A medida também melhora o desempenho escolar e as taxas de delinquência entre as crianças, aumenta a probabilidade de amamentação durante o primeiro ano, ajuda a mudar o comportamento das famílias quanto à divisão das tarefas domésticas e diminui a diferença entre gêneros no mercado de trabalho.
"Acredito que a forma como nos relacionamos com nossas crianças mostram para elas diversas possibilidades e formas de se relacionar no mundo. Ao terem diversas referências de pessoas que cuidam e criam conjuntamente, as crianças crescem com percepções menos estereotipadas de papéis tradicionais de gênero. Além disso, a divisão de tarefas entre casais, sejam hétero ou homoafetivos, pode permitir que ambos cresçam pessoal e profissionalmente, e que haja menos sobrecarga materna", avalia Gabriela.
"Eu imagino que sem a licença eu teria me conectado muito menos com as minhas filhas nesse período. Se eu tivesse voltado em cinco dias, os meus laços com elas naqueles primeiros dias de vida teriam sido muito menores. Então, além de conectar os laços da família, meu com a minha esposa e meu com o bebê, eu acho que foi fundamental para eu viver essa experiência", diz Henrique.
Percepção parecida é compartilhada por Alan. "Eu tinha medo de ser pai. Eu tinha medo de ficar sozinho com a minha filha, tinha medo de um choro, de trocar uma fralda. Medo de qualquer pai de primeira viagem. Mas esses quatro meses foram fundamentais, extremamente importantes para que eu aprendesse, entendesse e tivesse todo entendimento de um pai para com o filho. Eu sei o motivo do choro dela, o motivo do sorriso dela", completa.
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