Publicado 31/01/2022 07:00
Rio - O clima de renovação no começo de um novo ano desperta costuma despertar o anseio por algo novo em diversas áreas da vida das pessoas, inclusive no âmbito profissional. Atualmente, cinco em cada dez brasileiros (53%) estão pensando em mudar de emprego. Para grande parte desse grupo, o estopim foi a pandemia, que ocasionou em uma mudança de hábitos. É o que mostra uma pesquisa realizada pela Kapersky.
Apesar do desejo de mudar ser algo em comum, as motivações são variadas. O principal fator é a vontade de equilibrar a vida pessoal e profissional (50%), seguido pela busca por salários maiores (49%), desejo por uma função mais significativa (31%), assim como a redução da quantidade de tempo trabalhado (31%). Por sua vez, 14% dos entrevistados assumiram querer uma mudança pela vontade de trabalhar por prazer.
Ainda segundo o estudo, a área de tecnologia e segurança digital deve ter a maior demanda nos próximos anos, por conta da modernização dos processos e também do aumento dos ciberataques. De acordo com relatório recente da (ISC)², organização sem fins lucrativos especializada em treinamento para profissionais do setor de segurança digital, existe um grande interesse das empresas em profissionais de tecnologia, mas ainda falta mão-de-obra qualificada. Há pelo menos 600 mil vagas não preenchidas em cibersegurança na América Latina e o número de ofertas tende a continuar em ascensão.
“Há dez anos, ser o responsável pela segurança digital de uma empresa significava cuidar da instalação dos antivírus, fazer backups, atualizar os sistemas e ainda cuidar do bloqueio de acesso a sites e redes sociais. Atualmente, essa realidade é outra. A função dos profissionais de cibersegurança é saber equilibrar a necessidade de inovação da empresa com a continua proteção do negócio. Neste contexto, este profissional precisa lidar com uma novidade por dia, sejam elas tecnologias, ameaças ou técnicas de defesa. Se atualizar e se especializar é um desafio regular para acompanhar as rápidas mudanças do setor”, explicou Claudio Martinelli, diretor-executivo da Kaspersky para a América Latina.
A experiência de quem já viveu a mudança
Depois de passar dez anos no mercado corporativo, com um emprego estável, Thamyres Vieira realizou a vontade de mudar de área e decidiu empreender na área de organização. Ela contou que seu parâmetro mudou após a chegada dos filhos e que estava em busca de mais significado na vida profissional quando decidiu começar a Bella Organização, sua empresa de personal organizer.
"Um dia, lendo uma reportagem a respeito de uma palestra do Marcos Pingers, autor do livro “O papai é pop”, ele falava exatamente a respeito do trabalho: "Quando é preciso se ausentar para trabalhar e os filhos ficam chateados, qual é a melhor resposta? Sempre respondo para a minha filha que é para pagar as contas. Respondo o certo?” foi a pergunta de um leitor. Ele respondeu: "Você pode explicar que está indo realizar alguma coisa para as pessoas, que está contribuindo para a sociedade. Que a vida é crescer, achar um propósito e fazer algo que tenha impacto e transformação do mundo e, depois, uma vida mais satisfeita".
Confesso que isso me deixou com a pulga atrás da orelha", relatou.
Confesso que isso me deixou com a pulga atrás da orelha", relatou.
"Fiquei muito tempo pensando nessa mensagem, por meses, e aí entendi que não queria simplesmente trabalhar por trabalhar, queria mesmo era fazer a diferença na vida das pessoas, mostrar aos meus filhos que o que importa é fazer o que se ama, ser feliz, e os resultados serão consequência natural.
É claro que tudo isso viria em um combo com inseguranças, julgamentos, trocar o “certo pelo duvidoso”, ter coragem e muitos desafios. Mas eu estava disposta a mudar", acrescentou.
É claro que tudo isso viria em um combo com inseguranças, julgamentos, trocar o “certo pelo duvidoso”, ter coragem e muitos desafios. Mas eu estava disposta a mudar", acrescentou.
No lugar de quem já passou por essa transição, Thamyres considera o planejamento indispensável. Isso porque, é importante pensar nos riscos e em como lidar com eles, caso aconteçam. Outro ponto relevante para ela é ver sentido na nova profissão, já que isso poder ser uma segurança de que está fazendo a escolha certa:
"Com toda certeza preparo, dedicação e planejamento são fundamentais para fazer sua transição de carreira. Paralelamente ao meu trabalho clt estudei e me preparei para essa transição, analisei os riscos, o quanto isso poderia impactar na vida financeira da minha família e no melhor momento eu decidi fazer essa transição. Pelo menos era o que eu achava, logo após um mês da minha transição de carreira veio a pandemia e, ela chegou para nos mostrar que não temos o domínio e controle de nada, mas o planejamento foi importante psicologicamente falando, pois isso me trouxe mais segurança neste momento tão delicado", explicou.
"Em uma determinada situação me perguntaram: “Você faria o seu trabalho de graça? Mesmo se fosse para não ganhar nada?” e minha resposta foi: “Posso te responder de olhos fechados, com certeza, eu amo o que faço” e na sequencia ouvi: “É, você realmente ama que faz”. É claro que precisamos de dinheiro, temos nossos compromissos e precisamos honrar com eles, mas o dinheiro não esta no topo da minha lista, quero poder ajudar as pessoas, mostrar o quão transformador é a organização na vida das pessoas", concluiu.
O que dizem os especialistas
De acordo com os especialistas ouvidos pelo O DIA, a mudança de carreira é válida, mas deve ser tomada com cuidado. O ideal é que as pessoas possam unir o útil ao agradável, ou seja, buscar algo que goste, mas que também tenha um mercado de trabalho no mínimo otimista. Isso faz com que a transição seja mais fácil, já que existirão mais oportunidades disponíveis, como ressaltou o especialista em desenvolvimento humano e CEO da Gestão GMA, Alexander Costa:
"Ao buscar uma nova área de atuação, o trabalhador deve analisar as oportunidades de mercado e comparar com o que ele já tem certo. Entender o nível motivacional que o levou a buscar algo novo e levar em consideração o nível intelectual também e, caso precise ajustar, deve buscar se capacitar para a determinada vaga. Investir no capital intelectual, que é o conjunto de todo recurso humano, habilidade e conhecimento gerado pelo ser humano, é sempre uma boa oportunidade até mesmo antes da oportunidade aparecer".
O coro foi reforçado pela consultora de RH e especialista em carreiras Dilza Taranto. "Para escolher uma nova área de atuação, deve-se considerar o que está sendo valorizado pelo mercado e o que a pessoa gosta de fazer. Esse é o ideal, porém difícil de conciliar. Por isso deve ser uma escolha feita com cautela e no momento apropriado. Em primeiro lugar, investir bastante em autoconhecimento, para ter certeza de que a mudança na carreira é a melhor alternativa. Muitas vezes uma mudança no local de trabalho, por exemplo, pode resolver".
Planejamento é a palavra chave
Seja qual for a área, uma coisa é fato: o planejamento é o caminho mais recomendado para quem quer ir em busca de novos horizontes. "Não se deve fazer nada de forma impulsiva e emocional. É preciso manter receita e fazer a transição aos poucos, levando em consideração todos os fatores que podem influenciar na sua vida. A ajuda de um profissional especializado é altamente recomendada. Depois de ter segurança de que a mudança na carteira é a melhor alternativa, faz-se necessário um planejamento, começando com o mapeamento de mercado e mapeamento das competências que possui. Recomendamos um plano de ação e segui-lo, fazendo os ajustes necessários", argumentou Dilza.
"A melhor maneira é fazer sem pressa para não acabar ficando sem os dois. Ao analisar a oportunidade, não desistir do emprego atual antes de ter certeza que a nova vaga lhe pertence. Fazer uma autoanálise e verificar se tem conhecimento adquirido para tal intento e buscar investir no seu capital intelectual. O melhor a ser feito é pesquisar bastante a nova empresa, entender os valores daquela empresa e fazer as contas, não levando em consideração somente o salário, mas como tudo que se permeia o cargo e os benefícios e não abrir mão da sua qualidade de vida, nem tudo é o valor, o preço em cifras, analisar o valor no todo e não em partes pode levar a uma decisão mais acertada", concluiu Alexander.
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