Publicado 08/03/2022 18:58 | Atualizado 08/03/2022 19:01
Rio - Os desafios de empreender no Brasil são muitos e este cenário torna-se ainda mais árduo quando se trata do empreendedorismo feminino. Seja por necessidade ou em busca de realização profissional, fato é que o empreendedorismo feminino cresce a cada ano. Para entender quem são essas mulheres e os principais desafios que enfrentam, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em parceria com o Sebrae, realizaram a pesquisa “Mulheres Empreendedoras”. O levantamento foi realizado com mulheres de todas as capitais do país, proprietárias de empresas dos setores de comércio varejista e serviços.
De acordo com a pesquisa, a média de idade das empreendedoras brasileiras é de 41 anos. Em média, elas tinham 32 anos quando abriram a empresa. Quase metade são casadas ou têm união estável (45%), enquanto 53% não são casadas, sendo solteiras ou divorciadas. Além disso, 7 a cada 10 empresárias (71%) têm uma renda familiar de 1 a 5 salários-mínimos, sendo a média de 3,4 salários (equivalente a R$ 4.242); 83% pertencem a classe C/D/E e 17% a classe A/B e 60% cursaram até o ensino médio completo.
Embora esse seja o perfil médio, alguns pontos específicos podem ser destacados. Em primeiro lugar, é expressivo o percentual de “jovens empreendedoras”, aquelas entre os 18 e 34 anos (31%). É importante sublinhar que apesar da prevalência de mulheres empreendedoras com ensino médio completo, muitas terminaram o ensino superior (23%) e a pós-graduação (5%). Apesar disso, apenas 17% recebem 5 salários ou mais (mais de R$6.060).
“A dificuldade da mulher em conseguir uma boa remuneração, mesmo tendo maior escolaridade, fica ainda mais evidente quando comparada com os homens. Essa situação é um indicador da persistente desigualdade de gênero no Brasil, apesar do movimento de inserção das mulheres na força de trabalho, particularmente no mundo dos negócios”, destaca a especialista em finanças da CNDL, Merula Borges.
Mulheres empreendedoras são as principais responsáveis pelo sustento do lar
A mulher que empreende também é a grande responsável pelo sustento do lar em que vivem, muito embora essa parcela seja menor entre as empreendedoras casadas: 65% são as principais responsáveis pelo pagamento das contas do lar (se considerarmos apenas as empreendedoras casadas esse percentual cai para 35%).
Outras 21% dividem as contas com o cônjuge e 14% não contribuem com as contas da casa, deixando-as para o marido ou outros.
Por fim, no que tange às empresárias mães (73%), a maior parte ainda tem filhos pequenos em casa, entre 0 e 11 anos (31%) ou adolescentes de 12 a 17 anos (19%). Ou seja, muitas delas têm de enfrentar o desafio da criação dos filhos.
73% não possuem funcionários e tempo de atuação das empresas é de quase 7 anos
A respeito do perfil dos negócios liderados por mulheres, o comércio é um dos setores que elas mais atuam, com destaque para o segmento de alimentação (39%), vestuário (20%) e cosméticos e perfumaria (11%). Já no setor de serviços é preponderante o segmento de beleza (60%), como salão de beleza, estética, manicure, depilação, sobrancelhas, massagens etc.
Muitos negócios começaram suas atividades há menos de dois anos (22%), ou seja, durante a pandemia. O percentual de negócios iniciados na pandemia (24%) é maior entre as mulheres de classes C/D/E e empresas não formalizadas (28%).
“Esses dados são coerentes com os motivos que levam as mulheres a empreender, sendo o principal deles a necessidade por falta de emprego. Assim, é provável que muitos dos novos negócios tenham surgido em decorrência do impacto da pandemia, que aumentou a escassez de emprego e forçou parte das mulheres, especialmente as de menor renda, a procurar por alternativas para sobreviver”, destaca o presidente da CNDL, José César da Costa.
O tempo médio em que as empresas atuam no mercado é de quase 7 anos, sendo maior entre as mulheres de classes A/B e empresas formalizadas. “Essa combinação de resultados indica que as mulheres de baixa renda – e que provavelmente não têm bom acesso à informação e outros recursos – têm menos sucesso que as mulheres de classes mais altas em manterem a empresa/negócio funcionando. Além disso, as empresas que funcionam a mais tempo tendem à formalização. É difícil sugerir aqui qual a relação de causalidade, isto é, se as empresas são maduras porque se formalizaram ou se acabam se formalizando depois de se tornarem maduras. De qualquer forma, o fato é que ambos os fatores caminham juntos”, aponta Merula Borges.
Atualmente, 73% das mulheres empreendedoras trabalham por conta própria, sem a colaboração de funcionários, enquanto 27% são empregadoras. Para iniciar o novo negócio, as empresárias investiram, em média, R$ 3.010. Esse valor, no entanto, varia significativamente entre as empreendedoras das classes A/B (R$ 4.671) e classes C/D/E (R$ 2.759). É válido salientar que 57% não sabem ou não lembram o valor investido. 89% fizeram algum tipo de investimento inicial para a criação do negócio.
A principal fonte de recurso vem das próprias empreendedoras: aproximadamente 6 em cada 10 utilizou capital próprio (59%). Outras fontes importantes foram o cartão de crédito pessoa física (17%) e empréstimo familiar (15%).
61% são informais
A maioria das empreendedoras, cerca de 6 em cada 10 (61%), não possui CNPJ e atuam informalmente, especialmente as mulheres de baixa renda (C/D/E, 68%). Predomina entre elas a opinião de que é melhor esperar o negócio crescer e se consolidar antes de formalizá-lo (37%) e de que não vale a pena financeiramente a formalização (35%).
“Uma consequência desse perfil é que os negócios das empreendedoras brasileiras têm, em sua maioria, uma estrutura muito simples: começaram com pouco recurso, normalmente vindo da economia pessoal das próprias mulheres, tem uma estrutura básica, com poucos ou nenhum funcionário, e atuam majoritariamente na informalidade. A formalização do negócio é de vital importância para o seu amadurecimento e sobrevivência, além de dar garantias importantes ao empreendedor, como acesso ao crédito e segurança na terceira idade com uma aposentadoria”, aponta a especialista em finanças da CNDL.
Empresárias trabalham em média 8,3h por dia, mais da metade cuidam dos filhos sozinhas
Um grande desafio pessoal das mulheres ao empreender é a conciliação da vida profissional com as tarefas domésticas e o cuidado dos filhos. Em média, as mulheres empreendedoras atuam 8,3 horas por dia. Quase metade (47%) trabalham de casa e apenas 24% se deslocam até uma loja ou escritório próprio da empresa.
Mais da metade (55%) das mulheres casadas ou em união estável cuidam sozinhas das tarefas domésticas e 35% dividem com o cônjuge. Metade (50%) das que já são mães cuidam a maior parte do tempo sozinhas dos filhos quando eles estão em casa, principalmente empresárias que não possuem formalização (55%) e das classes C/D/E (53%). Por outro lado, 26% dividem igualmente essa responsabilidade com o cônjuge, com destaque paras empresárias formalizadas (32%) e das classes A/B (35%).
Apesar das dificuldades, a maioria das mulheres abordadas na pesquisa tem uma visão positiva e sente que conseguem equilibrar bem a vida profissional com a vida familiar (82%), com momentos de lazer (81%) e a com as tarefas domésticas (78%). Porém nem todas saíram ilesas da jornada dupla ou tripla: 3 a cada 10 empresárias (31%) confessam que se sentem culpadas por não ter mais tempo para cuidarem de si e pouco mais de 2 a cada 10 (24%) se sentem culpadas por não conseguir dedicar mais tempo à família. Em média, elas costumam tirar 16 dias de férias por ano e 97% se consideram bem-sucedidas em seus negócios.
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