Tatiana Roque destaca o papel desempenhado pelas Naves do ConhecimentoGuilherme Espíndola/SMCT
Publicado 01/05/2023 05:00 | Atualizado 01/05/2023 10:40
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Carioca e professora universitária, Tatiana Roque é a primeira mulher a ocupar a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia (SMCT). Entre os vários desafios da Pasta, formar mão de obra qualificada para o setor talvez seja o mais complexo. Ela encara a tarefa como a oportunidade de promover a inclusão social e econômica de um vasto segmento da população carioca, aproveitando o potencial da cidade na área tecnológica. Segundo Tatiana, O Rio de Janeiro reúne as condições necessárias para se consolidar como polo de empresas que que criam e utilizam tecnologia de ponta.
Nesta entrevista a O DIA, a secretária destaca a importância do trabalho desenvolvido pelas Naves do Conhecimento. Ela ainda enumera as parcerias firmadas pela Pasta para ampliar o alcance da formação profissional de jovens e adultos, além de citar a necessidade de suprir a demanda das empresas de tecnologia por mão de obra qualificada. Tatiana lembra que há carência de profissionais para a área. O que poderia ser um problema, na visão da secretária, é a oportunidade para que os jovens ocupem espaço em um mercado em franca expansão e com salários atrativos.  
Qual o papel da SMCT na formação de mão de obra qualificada no Rio de Janeiro, já que tradicionalmente tal tarefa compete à Secretaria Municipal de Trabalho?

O Plano Estratégico da Cidade elenca cinco áreas prioritárias para a qualificação profissional: saúde, construção civil, turismo, audiovisual e tecnologia. Nós temos uma parceria com a Secretaria Municipal de Trabalho e Renda para que os cursos de tecnologia sejam oferecidos prioritariamente pela Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, já que a SMTE tem a responsabilidade de qualificação em todas as áreas. Por meio dessa parceria, nós já divulgamos nossos cursos pelos contatos da SMTE. Integramos a qualificação entre as duas secretarias.

Quais iniciativas a secretaria vem implementando no sentido de capacitar jovens e adultos? Há articulação com o setor privado? Existe a possibilidade de parcerias com o Ministério da Ciência e Tecnologia ou com o governo estadual?
As Naves do Conhecimento são os principais equipamentos da secretaria. São conhecidos pelo seu trabalho de inclusão digital e pela oportunidade de qualificação tecnológica diante esse mundo do trabalho em rápida transformação. Focamos em requalificar as pessoas para que possamos fazer com que a tecnologia não seja uma ferramenta de aprofundamento das desigualdades econômicas e sociais. Desde dezembro de 2021, com a reabertura das Naves, já foram emitidos mais de 22 mil certificados para alunos de todas as idades. Desse total, mais de 4 mil foram para jovens entre 16 e 29 anos. Agora temos novas iniciativas, como um acordo firmado recentemente com o Senai e disponibilizamos 500 vagas em cursos gratuitos para qualificação profissional. Realizamos uma parceria com o Cieds [Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável] e estamos oferecendo 200 vagas com possibilidade de emprego para quem se destacar durante a formação. Os alunos ganharão notebooks e também uma bolsa de R$ 1.200. Parcerias com o Ministério da Ciência e Tecnologia são o próximo passo. Já conversamos, e as parcerias são no sentido de ampliar esse trabalho. Além disso, no governo estadual, conversamos com a Secretaria de Educação para que possamos ofertar cursos para alunos de ensino médio da rede estadual.
O prefeito Eduardo Paes já demonstrou a intenção de transformar a cidade em um polo de tecnologia. O Rio de Janeiro tem hoje condições de ser esse polo? Quais os pontos favoráveis e em quais aspectos a cidade precisa avançar para exercer esse papel?

O Rio de Janeiro tem um grande potencial para se tornar um importante polo de tecnologiano Brasil, principalmente porque concentra um grande número de universidades e instituições de ensino e de pesquisa com setores de tecnologia muito fortes. Por isso criamos iniciativas para reunir universidades e o setor de tecnologia, estimulando a formação de empresas na área tecnológica. É o caso do Porto Maravalley, uma parceria com o IMPA [Instituto de Matemática Pura Aplicada]. Precisamos avançar focando na renovação da economia do Rio de Janeiro para priorizar a área de Ciência e Tecnologia. Sabemos que a economia no Estado do Rio é muito dependente do petróleo, e nesse momento de transição energética, precisaremos investir em novas matrizes fundadas no conhecimento, privilegiando novas tecnologias que possam gerar uma nova economia para o Rio. Por isso a Prefeitura tem enfatizado que a cidade deve se tornar um polo de inovação.

Há algum estudo sobre a demanda de mão de obra especializada pelo setor de tecnologia no Rio de Janeiro?
Utilizamos um estudo do Sebrae divulgado neste ano sobre as empresas de base tecnológica no Rio de Janeiro. Um dos principais problemas apontados pelos empresários tem a ver justamente com a oferta de mão de obra qualificada: 61% deles apontam falta de profissionais qualificados no mercado. De acordo com o estudo “Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações”, coordenado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação, no Brasil, enquanto a pandemia do coronavírus trouxe efeitos arrasadores para a maioria dos setores produtivos no país e no mundo, o setor de tecnologia foi um dos poucos que apresentaram crescimento expressivo. Apesar da crise, enquanto o PIB brasileiro recuou em 4,1% durante o ano de 2020, o setor de tecnologia e comunicação cresceu 4,4%, segundo o IBGE. Além disso, diante de um cenário imenso de demissões em diversos setores econômicos e uma taxa de desemprego nacional de mais de 14%, o segmento tecnológico apresentou um superavit de quase 60 mil empregos em 2020. Estima-se que o déficit de mão de obra do Brasil no setor seja de 24 mil profissionais por ano. Segundo dados do Observatório Carioca do Trabalho, produzido pela Secretaria Municipal de Trabalho e Renda, a cidade do Rio gerou 3.152 postos de emprego na área de TI, em 2022. Em 2021, foram 1.872 - alta de 32%. Isso confirma o crescimento desse setor.

Quais são as metas de formação de mão de obra para 2023? Já há projetos para 2024?

Para 2023, pretendemos formar uma média de 15 mil pessoas nos cursos das Naves. Além disso, vamos expandir o Projeto Naves. Lançaremos as Naves Satélites. São equipamentos que ocuparão os espaços das bibliotecas dos Cieps, pois muitos estão sem uso. Vamos reformá-los e implantaremos naves menores no local. Também temos o projeto de estações de tecnologia móveis com caminhões que oferecerão cursos gratuitos em diferentes pontos da cidade. A ideia é fazer com que toda a oferta de cursos das Naves do Conhecimento seja expandida com equipamentos menores, móveis, com menor custo e mais mobilidade. O objetivo é atenderemos à demanda de qualificação tecnológica. Além disso, temos a missão de aproximar as universidades dos centros de pesquisa do Rio.
Ter mais mulheres trabalhando no setor de tecnologia é um desafio?

Segundo um estudo da Unesco, apenas 22% das pessoas que trabalham no setor de inteligência artificial hoje são mulheres. Há realmente um número muito baixo de mulheres atuando nessa área. No caso de pessoas negras, o número é menor ainda. Ou seja, precisamos de políticas focadas nessa população para diminuirmos a desigualdade no mercado de trabalho em áreas de tecnologia e inteligência artificial.
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