Abraham Weintraub e BolsonaroAntonio Cruz / Agência Brasil
Por O Dia
Publicado 12/04/2019 12:04 | Atualizado 15/04/2019 20:12

Rio - Desde o início do ano, viemos acompanhando, atônitos, à confusão que se instaurou em uma das pastas mais importantes do país, o Ministério da Educação. Em três meses, foram mais de doze baixas, incluindo o diretor do INEP (órgão responsável pelo ENEM, o maior vestibular do Brasil) e o próprio ministro, Ricardo Vélez, que na última segunda-feira (8), foi convidado a se retirar com direito a agradecimento via Twitter pelos serviços prestados.

Que o MEC, em 100 dias, não apresentou nenhuma proposta e nenhum projeto de fato, isso todo mundo já sabe. Tabata Amaral, do alto dos seus 25 anos, deu uma verdadeira lição de como se faz gestão e como se planeja educação para pessoas com o dobro da sua idade – e a metade do seu discernimento. O vídeo viralizou e a batata do Veléz esquentou ainda mais, até que a situação se tornou insustentável de vez. O novo ministro, Abraham Weintraub, apesar de ter pouquíssima experiência com educação, é a nova aposta do governo e ganha um voto de confiança – desconfiado – da população. Espera-se, ao menos, que proponha mais do que “revisar todas as questões do ENEM”.

No entanto, há algo que preocupa mais do que o mito do tal marxismo cultural ou o a nova pegada anti-globalismo que vivemos. Me preocupa que pessoas entram, pessoas saem, e nada parece, efetivamente andar. O ENEM já tem data e edital, mas vive num espectro de incertezas. A Reforma do Ensino Médio já foi homologada, mas está mais no campo das ideias e das preocupações do que nas ações e instruções do ministério. Parece que, muitas vezes, as coisas são resolvidas no grito. Os governantes falam alguma coisa absurda no campo da educação, a população reclama, e eles voltam atrás dizendo que não foi bem assim. O problema é que, em educação, é sempre bem assim. Qualquer ação efetiva demora para gerar resultados, o que é natural, então essa bagunça no Ministério é quase criminosa, pois não só posterga decisões e medidas importantes, como também enraíza a atmosfera de incerteza em uma pasta que não pode errar.

Precisamos de mais certeza e menos dúvida. Mais ações e menos brigas internas e conflito de egos. Mais medidas e menos Twitter. Para citar Tabata mais uma vez: onde estão os projetos? Em 100 dias, gostaríamos, ao menos, de ver que estamos indo para algum lugar – mas não qualquer lugar, evidentemente. Uma primeira boa medida do novo ministro poderia ser, então, uma bem básica: ouvir. Ouvir escolas, educadores, profissionais do ensino. O que eles querem? Quais são as demandas ou preocupações? Afinal, a educação é feita por eles e com eles – e não em meia dúzia de posts briguentos em redes sociais.

Carolina Pavanelli trabalha com educação há dez anos e dá aulas de Redação com ênfase na produção de textos nos moldes dos vestibulares e ENEM. Além disso, é diretora pedagógica de uma Plataforma de Ensino, produzindo materiais didáticos e capacitação de professores no Brasil. Ela escreve às quartas-feiras em O DIA. Seu Instagram é @_carolinapavanelli

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