8 de abril: Ricardo Vélez é exonerado do Ministério da Educação em meio a polêmicas
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8 de abril: Ricardo Vélez é exonerado do Ministério da Educação em meio a polêmicas Reprodução
Por O Dia

Rio - O presidente Jair Bolsonaro confirmou, no final da manhã desta segunda-feira, a demissão do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, alvo de críticas dentro e fora do governo e pressões diversas. O ministro enfrentava uma crise que vem desde sua posse, com disputa interna entre grupos adversários, medidas contestadas, recuos e quase 20 exonerações.

Neste três meses de governo, Vélez perdeu até o apoio de seu "padrinho", o escritor Olavo de Carvalho, influenciador do bolsonarismo. Olavo afirmou que não iria fazer nada contra Vélez, a quem chamou de "traiçoeiro". "Não vou fazer nada contra ele, mas garanto que não vou lamentar se o botarem para fora do ministério", escreveu.

Relembre as polêmicas do ministro Vélez Rodriguez:

1. Livros didáticos suprimiam temas e referência bibliográfica

Um edital publicado no dia 2 de janeiro pelo Ministério da Educação (MEC) permitia erros de revisão, publicidade e falta de referências bibliográficas em livros didáticos.Também haviam sido retiradas outras exigências, como a de que as ilustrações retratem adequadamente "a diversidade étnica da população brasileira, a pluralidade social e cultural do país". O decreto também havia retirado exigência de tratar sobre temas como violência contra a mulher e cultura quilombola. O decreto também permitia que fossem incluídos anúncios publicitários no material. O MEC voltou atrás, após pressão.

2. Brasileiros canibais

Em entrevista à revista Veja, no início de fevereiro, o ex-ministro Vélez Rodríguez comparou brasileiros viajando a ladrões e canibais. Ele também defendeu o fim do sistema de cotas, mensalidade nas universidades federais e a volta da "educação moral e cívica".

"O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola", falou, justificando a sua defesa do retorno da disciplina de educação moral e cívica. Ele pediu desculpas, após repercussão negativa. 

3. Fim da alfabetização

Uma portaria publicada no dia 25 de março pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) deixava de avaliar as crianças de 7 anos, em fase de alfabetização. A medida foi revogada após repercussão negativa e culminou na demissão do então presidente do instituto, Marcos Vinicius Rodrigues. O ministro Vélez Rodríguez disse que não foi consultado sobre a mudança.

4. Filmar crianças cantando o hino

O Ministério da Educação (MEC) mandou um e-mail para todas as escolas do país, no dia 25 de fevereiro, pedindo que as crianças sejam perfiladas para cantar o hino nacional e que o momento seja gravado em vídeo e enviado para o governo. O e-mail pedia ainda que fosse lida uma carta do então ministro Ricardo Vélez Rodríguez, que termina com o slogan do governo "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos". 

No dia sgeuinte, ele determinou que o MEC retirasse do e-mail o trecho em que pede que crianças fossem gravadas em vídeo. Ele também disse que "percebeu o erro" de inserir o slogan da campanha de Bolsonaro no texto.

A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu uma investigação para apurar se houve improbidade administrativa do ministro da Educação no envio de cartas às escolas de todo Brasil com slogan da campanha do presidente Jair Bolsonaro.

5. Revisão da Ditadura

Em entrevista ao jornal Valor Econômico no dia 3 de abril, Vélez Rodríguez anunciou mudanças em livros didáticos para revisar a maneira como são retratados nas escolas o golpe de Estado que retirou o presidente João Goulart do poder, em 1964, e o regime militar que o seguiu.

6. Exonerações

Antes mesmo da posse de Vélez Rodríguez, o ministério já sofreu a primeira baixa. Antônio Flávio Testa anunciou que não assumiria a secretaria-geral, por discordar da forma como as indicações estavam sendo feitas. A influência de Olavo de Carvalho nas indicações para os cargos da pasta era notória. 

No dia 8 de março, o ministro exonerou seis nomes da pasta, dentre eles dois ex-alunos de Olavo. A decisões gerou imediatamente uma disputa interna dentro da pasta, entre nomes ligados ao escritor considerado "guru" bolsonarista, evangélicos e a ala militar, e mais de 20 exonerações se sucederam ao longo dos pouco mais de três meses de Vélez frente à pasta.

7. Universidade para elite

Em sua primeira entrevista como ministro, Vélez disse, em 28 de janeiro, ao jornal Valor Econômico que não é possível haver universidade para todos. No Brasil, apenas 18% dos jovens têm ensino superior, índice inferior a países da América Latina. Segundo ele, não faz sentido um advogado estudar anos para virar motorista de Uber. "Nada contra o Uber, mas esse cidadão poderia ter evitado perder seis anos estudando legislação", disse.

8. Jornalista da KGB e vídeos educativos

No final de janeiro, o jornalista Ancelmo Gois, do jornal O Globo, publicou em sua coluna uma nota que denunciava a censura de vídeos considerados de esquerda da TV do Instituto Nacional de Ensino de Surdos (Ines). Como resposta, o MEC divulgou uma nota acusando Ancelmo de ser treinado pela KGB – e rapidamente virou piada nas redes sociais. 

9. Passar a mão no guarda

Na entrevista à Veja no início de fevereiro, Vélez Rodríguez atribuiu a Cazuza uma frase do humorista Bussunda. A declaração foi dada ao ser questionado sobre se liberdade não incluiria ensinar marxismo, fascismo e liberalismo. " Liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda. Não! Isso é desrespeito à autoridade, vai para o xilindró", disse Vélez Rodríguez. 

O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, teve de se retratar. Pelo Twitter, o ex-ministro comunicou que ligou para a mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, para "desfazer o equívoco"

10. Comissão Enem

O MEC anunciou em fevereiro a criação de uma comissão de três pessoas para analisar as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para "identificar abordagens controversas com teor ofensivo a segmentos e grupos sociais, símbolos, tradições e costumes nacionais".

A nota foi assinada pelo responsável pela Diretoria de Avaliação da Educação Básica do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC (Inep), Paulo Cesar Teixeira. Esse é o único parágrafo que menciona critérios que serão usados pela comissão.

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