Publicado 07/02/2024 15:56
Rio - O terceiro e último dia do julgamento de Daniel Alves ficou marcado pelo depoimento de especialistas da medicina forense e do próprio ex-jogador. O brasileiro contou detalhes da relação com a denunciante na boate Sutton, em Barcelona, no dia 30 de dezembro de 2022, negou a agressão sexual, alegou embriaguez e chorou durante a declaração. Não há prazo definido para a apresentação da sentença final. Cabe recurso no Tribunal de Apelação, a segunda instância da Justiça espanhola.
No depoimento, Daniel Alves contou que saiu para almoçar com os amigos, reforçando a declaração da esposa Joana Sanz. O ex-jogador afirmou que bebeu cerca de duas garrafas de vinho e um copo de uísque, antes de seguir para um bar onde consumiu gin tônica. Em seguida, ele e um dos amigos seguiram para a boate Sutton, onde conheceu a denunciante.
"Quando saímos daí (do bar), nós fomos ao Sutton. Eu e Bruno (Brasil, amigo do ex-jogador) seguimos e os outros foram para casa. Entre 2 a 3 da manhã. Eu entrei na discoteca e os funcionários me levaram para a reserva da mesa 6. Depois pedi para trocar para a 7, porque a 6 estava longe da pista de dança. Quando chegamos na sala reservada, estávamos eu e Bruno dançando, e seguimos por um tempo", disse.
"Estavam duas meninas lá e ficaram por um tempo. Bruno que chamou as meninas. Um garçom trouxe o champanhe que havíamos pedido. Dançávamos bem próximos, de forma respeitosa. Sim, acho que elas sabiam que era eu porque mais de uma vez me pediram para tirar foto. Ficamos dançando pegado e, por um tempo, começamos a dançar mais próximo, e começou a roçar suas partes nas minhas", contou.
Na sequência do depoimento, Daniel Alves detalhou como foi para o banheiro com a denunciante. O ex-jogador alegou que, em nenhum momento, forçou a jovem a entrar no banheiro. Alves, inclusive, conta que foi na frente e a aguardou por alguns minutos no local. O brasileiro indicou que a relação foi consensual e negou a agressão sexual.
"Coloquei a mão e, quando começou a pressão sexual, falei para ir ao banheiro. Ela disse que tudo bem. Não falou mais nada. Quando fui ao banheiro, disse a ela que iria primeiro e ela me deixou esperando um pouco. Achei que ela não viria, pensei que ela não queria vir. Baixei as calças, sentei no vaso sanitário, ela se ajoelhou e começou a me fazer sexo oral", detalhou.
"Ela estava na minha frente e começamos a relação. Lembro que ela sentou em mim. Não sou um homem violento. Não a forcei a praticar sexo oral forçadamente. Ela não me disse nada. Estávamos desfrutando os dois e nada mais", completou.
Por fim, Daniel Alves contou que quando chegou em casa a esposa Joana Sanz estava na cama dormindo e, em seguida, ele dormiu. O ex-jogador repetiu as versões de depoimentos anteriores ao afirmar que soube das acusações de agressão sexual através da imprensa. Após finalizar, o brasileiro chorou e bebeu água para se acalmar.
Promotoria rebate Daniel Alves e pede pena mínima
Nas considerações finais, a promotoria rebateu o depoimento de Daniel Alves e alegou que o ex-jogador "a pegou pelo cabelo com força, forçou a fazer sexo oral, deu tapa na cara, a penetrou por trás e ejaculou dentro e fora". Além disso, também apontou que o brasileiro não estava embriagado e que parecia "normal" através das imagens das câmeras da boate Sutton.
"Pelas câmeras, quando ele (Daniel Alves) entra, você vê perfeitamente uma pessoa caminhando normal, acenando para a recepcionista, para os garçons. Quando ele vai embora junto com Bruno (Brasil, amigo do ex-jogador), cercado pelos seguranças, não se vê ele cambaleando. Estava normal", disse a promotoria no julgamento.
A promotoria pediu uma pena mínima de 12 anos e reforçou que Daniel Alves não pagou os 150 mil euros (R$ 802,8 mil) para reparar o dano. A advogada da denunciante, Ester García, também reforçou o pedido de pena mínima para o ex-jogador e reiterou a falta do pagamento de reparação de danos. A advogada também criticou a posição passiva que o brasileiro se colocou no depoimento.
"Era claro o estado de choque. Ela insistia que ele ejaculou dentro, em nenhum momento falou de penetração com dedos. O que passou antes, não importa. Não é não. Ela disse 'quero ir já'. Ele sabia que ela não queria pois ela tinha manifestado. Ele deu tapas na cara. Ato de humilhação. Ele diz que estava numa posição passiva e ficou sentado todo o tempo no assento. Não condiz com tudo. É impossível. Ele se colocou numa posição totalmente de vítima, que estava numa posição passiva. Isso é um absurdo", afirmou.
Já a advogada de Daniel Alves, Inés Guardiola, disse que a versão da denunciante é "incoerente e não se ajusta à realidade", já que ela não se incomodou em nenhum momento de sentar ao lado do ex-jogador na área reservada da boate Sutton. A defesa do brasileiro aponta que a relação sexual foi consentida e que a violência descrita na penetração "é incompatível com a prova pericial".
"A violência descrita pela denunciante na penetração é incompatível com a prova pericial médica. Nenhum ferimento nas suas genitais interna ou externa. Corrobora que a relação sexual foi consentida. Não tinha nenhuma vermelhidão nem sinal. É incompatível com a mecânica que descreve", disse Inés Guardiola.
Por fim, a advogada Inés Guardiola pediu a absolvição de Daniel Alves. A defesa afirma que o ex-jogador "estava intoxicado por álcool no momento dos acontecimentos" e ainda pediu a liberdade condicional, com a retirada dos passaportes do Brasil e da Espanha.
"Foi feita uma tentativa de apresentar o Sr. (Daniel) Alves como um perseguidor. Não é verdade e as câmeras mostraram isso. É essencial avaliar o comportamento anterior para avaliar o consentimento. Havia uma atração sexual entre eles", finalizou.
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