Publicado 04/08/2021 17:49 | Atualizado 04/08/2021 18:14
Guapimirim – Partes da história e da fauna de Guapimirim são ilustradas num grande muro nas proximidades do pórtico de entrada dessa cidade, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Macaco muriqui, mico-leão-dourado, tucano, bicho-preguiça, beija-flor tiê-sangue, canário-da-terra, colhereiro e boto-cinza são alguns dos animais que fazem parte do cenário pintado pela artista plástica Argina Seixas, de 50 anos.
O trabalho durou dois meses e contou com a ajuda de voluntários que se sensibilizaram com a pintora. A obra de arte mostra, por exemplo, a Maria Fumaça, que relembra a história da ferrovia na região, a Capela Nossa Senhora da Conceição do Soberbo, de 1713, e o Dedo de Deus, símbolo do montanhismo no Brasil. E também retrata parte da flora. O muro em questão está em algumas propriedades particulares, cujos donos permitiram o uso artístico. Para poder utilizar a calçada, que é um espaço público, ela pediu autorização à prefeitura, que garantiu a iluminação no local.
“Eu coloquei a pintura numa ordem cronológica, iniciando com um índio. Anos atrás, fiz uma pesquisa e vi que houve presença indígena na cidade. Temos um sítio arqueológico na nossa região que mostra isso. Foi encontrada uma ossada de dois mil anos atrás, se não me engano, pela equipe de arqueologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Coloquei esse personagem para ilustrar nossa raiz. Em seguida, fui colocando outros elementos como o manguezal, o colhereiro, que é uma ave daqui da região e está no manguezal, e depois eu vou seguindo para elementos da fauna e flora brasileira que estão na nossa região da Mata Atlântica. Depois eu vou seguindo para o ciclismo, o montanhismo e o parapente, mostrando um pouco das atividades esportivas e dos atrativos turísticos em nosso município”, explicou Argina Seixas em entrevista ao O Dia.
As tintas usadas foram doadas por empresários da região. O mural virou uma espécie de ponto turístico. Pessoas que passam pelo local param para fazer fotos e ‘selfies’ e postar nas redes sociais.
“O personagem mais emblemático para mim é o macaco-muriqui, que é o maior primata das Américas. Eu o coloquei no centro da pintura. Ele vive em bandos e está aqui em nossa região. Bonita é a tradução dele em tupi guarani que é ‘gente que abraça’, ‘gente boa’, ‘gente do bem’. É um animal tão pacífico que quase foi dizimado pelos caçadores, porque ele não foge. Ele se aproxima das pessoas”, completou a pintora.
“Na nossa região, nós temos a mesma quantidade de pássaros que tem na Finlândia. Eu conheço pesquisadores que catalogam pássaros e eles ficam impressionados com a quantidade de aves que temos aqui”, complementou a artista plástica.
Nascida e criada em Guapimirim, Argina Seixas é professora primária, mas decidiu seguir seu ‘hobby’ e viver de arte há mais de 20 anos. Chegou a começar a faculdade de artes plásticas, mas não a concluiu. Ela nunca fez curso e se considera autodidata. Já participou de exposições em galerias na Espanha, Portugal, Noruega e Bélgica. Pinta objetos antigos, como portas e janelas de madeira de demolição, geladeiras e tecidos e também realiza cursos e ‘workshops’.
Durante a pandemia, a artista disse que precisou se reinventar e passou a enviar seus trabalhos aos clientes pelos Correios. Argina Seixas tinha um ateliê em Búzios, na Região dos Lagos, e decidiu migrá-lo para Guapimirim para ficar mais perto dos pais. Também abriu uma galeria em Minas Gerais. Perguntada sobre o que a motivou a fazer a pintura, ela contou à reportagem que sentia ‘tristeza’ ao se deparar com um muro vazio na entrada do município.
“Eu voltei para a minha cidade, e dava uma tristeza olhar para aquele muro vazio. Eu tinha que dar um carinho e alegria para a minha cidade. Cor é vida. Quando você entra numa cidade, você entra num portal, mesmo que invisível. E a pintura é uma maneira de dar boas-vindas aos visitantes”, disse.
Em dezembro de 2019, a artista plástica esteve no programa Mais Você, da TV Globo, e presenteou a apresentadora Ana Maria Braga com uma bandeja com a foto de uma cadela.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.