Publicado 10/06/2021 17:29
Um promotor anticorrupção pediu, nesta quinta-feira (10), prisão preventiva para a candidata de direita Keiko Fujimori, o que aumentou ainda mais a tensão no Peru sobre a definição da eleição presidencial de domingo, liderada pelo esquerdista Pedro Castillo.
O andamento da contagem é angustiante diante de contestações de atas e denúncias de fraude e não foi declarado o vencedor da eleição para presidente.
Apesar disso, o presidente argentino, Alberto Fernández, parabenizou Castillo como "o presidente eleito do Peru". A saudação de Buenos Aires se juntou à dos ex-presidentes da Bolívia Evo Morales e do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva.
O promotor José Domingo Pérez solicitou ao Juízo Anticorrupção "que revogasse a movimentação com restrições [liberdade condicional] e ordenasse novamente a prisão preventiva contra a acusada Keiko Fujimori", por violar a proibição de se reunir com testemunhas no caso Odebrecht, pelo qual está sob investigação.
A candidata, que neste caso deve ir a julgamento se não conquistar a presidência, participou de entrevista coletiva na quarta-feira acompanhada pelo político fujimorista Miguel Ángel Torres - testemunha do caso Odebrecht - quando pediu ao Júri Eleitoral Nacional (JNE) para anular os resultados de 802 assembleias de voto -que envolvem cerca de 200.000 votos-, por alegadas irregularidades.
O pedido do promotor Pérez aumentou ainda mais a tensão em um país que ainda não sabe quem será seu novo presidente, quatro dias após a votação.
Fujimori denunciou na segunda-feira "indícios de fraude" e na quarta-feira pediu a anulação dos 200 mil votos, acentuando um clima de total incerteza em um país atolado em convulsões políticas nos últimos cinco anos, que chegou a empossar três presidentes em cinco dias em novembro.
“Dá a sensação de que ela quer questionar todo o processo eleitoral. Essa incerteza, seja quem vencer, vai afetar muito o clima nacional”, disse à AFP o analista Hugo Otero.
Incertezas
Os pedidos de revisão poderiam ser decididos em cerca de 10 dias no JNE, portanto a disputa ainda está aberta, com uma queda desde segunda-feira na bolsa de Lima enquanto o dólar atinge a cotação recorde de 3,9 soles.
O último relatório do órgão eleitoral estabeleceu que 50,2% dos votos são de Castillo e 49,7% dela, com pouco mais de 99,1% das pesquisas examinadas.
O cardeal Pedro Barreto classificou as ações que questionam o processo eleitoral como "irresponsáveis" nesta quinta-feira e pediu aos candidatos que aceitem "a vontade popular".
Castillo está à frente de Fujimori por 70.000 votos e entregou mensagens em um tom vitorioso, mas se o JNE concordar com Fujimori, essa tendência pode mudar.
“Keiko alega [como uma fraude] que existem assembleias de voto em Cusco que têm 90% dos votos para Castillo, mas ela não disse que em La Molina [um distrito afluente de Lima] existem mesas que têm 90% para ela", disse Otero.
O presidente do Júri, Jorge Luis Salas, manifestou surpresa com o pedido de Fujimori de anulação de 802 mesas e lembrou que em 2016 “só houve reclamações contra 29 mesas”.
O órgão eleitoral (ONPE) nega a possibilidade de fraude, assim como a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que qualificou o processo como normal e transparente.
O ONPE organiza a votação, mas o JNE analisa o resultado e proclama o vencedor. Ambos os órgãos públicos são autônomos.
Vitória cantada?
Castillo, professor de uma escola rural de Cajamarca (norte), recebeu a saudações por sua "vitória" de ex-presidentes de esquerda da região e também do presidente argentino.
Depois de revelar que conversou com Castillo, Alberto Fernández disse que expressou seu desejo de unir "esforços em favor da América Latina. Somos nações profundamente gêmeas", escreveu ele no Twitter.
Lula também comemorou “a vitória” de Castillo no Peru e de seu povo. “O resultado das pesquisas peruanas é simbólico e representa mais um avanço da luta popular em nossa querida América Latina”, tuitou Lula nesta quinta-feira.
Enquanto isso, o ultraconservador presidente brasileiro Jair Bolsonaro lamentou a possível vitória do professor rural.
“Perdemos agora o Peru. Voltou, ao que tudo indica, falta 1% de apuração lá, só um milagre para reverter, vai reassumir um cara do Foro de São Paulo”, afirmou em evento evangélico no interior de Goiás.
O segundo turno presidencial expôs mais uma vez não só a divisão política do país, mas também a brecha entre Lima e o "Peru profundo", relegado por séculos e duramente atingido pela recessão econômica causada pela pandemia.
Partidários dos dois candidatos se manifestaram em Lima na quarta-feira e apesar da alta tensão, não houve distúrbios no país e as atividades comerciais e de trabalho prosseguem normalmente.
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