Publicado 01/07/2021 17:24
O papa Francisco enviou, nesta quinta-feira (1º), uma mensagem sensível de paz e esperança para "o povo decepcionado e exausto" do Líbano, no fim da jornada de reflexão e oração no Vaticano com os líderes cristãos dessa nação abalada por uma crise econômica e política.
"Queríamos acompanhar o grito de dor do povo libanês, decepcionado e exausto, precisando de certeza, esperança e paz", disse o pontífice em seu discurso pronunciado na Basílica de São Pedro.
"Esse país querido, tesouro da civilização e espiritualidade, que ao longo dos séculos irradiou sabedoria e cultura, que é testemunha de uma experiência única de convivência pacífica, não pode ficar à mercê do destino ou de quem persegue os próprios interesses sem escrúpulos", alertou.
"Porque o Líbano é um pequeno grande país, mas é mais do que isso: é uma mensagem universal de paz e fraternidade no Oriente Médio", continuou.
O papa argentino convidou todos os líderes cristãos do Líbano para um ato emblemático no Vaticano, com o objetivo de encontrar uma saída pacífica para este país - fundamental para a estabilidade do Oriente Médio.
Os nove líderes religiosos cristãos, já que um deles não pôde comparecer, debateram o futuro do país, à beira de um colapso social e econômico e sem governo desde agosto de 2020.
A crise no Líbano foi agravada ainda mais pelas explosões, em agosto de 2020, no porto de Beirute que devastaram parte da cidade.
Os participantes instalaram-se nesta quinta-feira na Residência Santa Marta, onde vive o papa, e depois rezaram na Basílica de São Pedro, antes das três sessões de trabalho a portas fechadas coordenadas pelo núncio no Líbano, Joseph Spiteri.
Chega de usar o Líbano!
À tarde, depois de uma oração ecumênica "pela paz" com textos em árabe, siríaco, armênio e caldeu, Francisco pronunciou o tão esperado discurso final, durante o qual também pediu um "basta" contra o uso e abuso no Líbano.
"Chega de usar o Líbano e o Oriente Médio para interesses e benefícios de terceiros!", afirmou.
"Chega do benefício de alguns poucos às custas da pele de muitos!", lamentou o papa.
Em seu discurso, o líder da Igreja Católica reiterou que esse país foi historicamente "terra de tolerância e pluralismo", que "soube construir fundamentos compartilhados, vendo na diversidade possibilidades, e não obstáculos". Ele também condenou o que chamou de "interferências indevidas".
"Que cesse o rancor, que as desavenças desapareçam e que o Líbano volte a irradiar a luz da paz", pediu.
Em abril, o papa expressou seu desejo de visitar o Líbano durante uma audiência com o primeiro-ministro Saad Hariri, e não descarta uma viagem no final de 2021 ou início de 2022, como um gesto de aproximação.
O Líbano atravessa a pior recessão desde a guerra civil de 1975-1990, com mais da metade da população vivendo abaixo da linha da pobreza.
"A emigração de jovens e o impacto da atual crise nas escolas, hospitais, famílias e segurança alimentar" vão dominar o encontro no Vaticano, segundo o bispo maronita Samir Mazloum, entrevistado pela AFP.
Hoje, "entre 50 e 60% dos nossos jovens vivem no exterior, a população é formada por idosos e crianças", reconheceu, evocando o desemprego e a queda histórica da moeda libanesa.
Entre os dez dignitários convidados ao Vaticano está o patriarca maronita Bechara Boutros Raï, à frente da maior comunidade cristã do Líbano, que não cessa de denunciar a corrupção da classe política.
"O encontro é um passo importante para ajudar o Líbano a continuar a ser a pátria da parceria islâmica-cristã", comentou ao jornal libanês L'Orient-Le Jour.
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