Lyona e a banda BI-2 estão em Israel após deixarem a Tailândia as pressas para fugir da repressão russaReprodução / Instagram
Publicado 02/02/2024 09:40
A detenção na Tailândia de um grupo de rock russo anti-guerra mostra o perigo a que estão expostas as vozes críticas do presidente Vladimir Putin, mesmo no exterior.

Os sete membros da banda Bi-2 foram detidos em 24 de janeiro pelos serviços de imigração tailandeses, antes de serem libertados esta semana e partirem para Israel.

No ano passado, o seu cantor Egor Bortnik, conhecido pelo nome artístico de "Lyova", criticou o presidente russo nas redes sociais por "destruir" o país. Moscou acusa o grupo de "apoiar o terrorismo" por expressar oposição à guerra na Ucrânia.

Os membros do Bi-2 foram detidos alegando um problema de visto na semana passada em Phuket, um destino popular para turistas russos no sul da Tailândia e onde o grupo fazia um show, e foram levados para um centro de detenção de imigração em Bangcoc.

Alguns dos sete membros da banda têm nacionalidade israelense ou australiana, além de russa, segundo a Human Rights Watch, que denuncia a "repressão transnacional" de Moscou. A ONG afirma que se tivessem sido deportados para a Rússia, "provavelmente seriam perseguidos".

'Pressão muito forte'
Centenas de milhares de russos deixaram o seu país após o início da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, incluindo figuras culturais conhecidas.

"Aos olhos do Estado russo, aqueles que partiram não são apenas traidores e inimigos, mas também um risco para a estabilidade política da Rússia, um problema de segurança nacional", explica Tatiana Stanovaya, cientista política e fundadora da R. Politik.

O político exilado da oposição Dmitri Gudkov, que liderou os esforços para libertar o Bi-2, afirmou que diplomatas russos pressionaram as autoridades tailandesas para que os roqueiros fossem deportados para a Rússia.

"A pressão foi muito forte. Estamos surpresos", disse Gudkov à AFP. Ele diz que Moscou está preocupado com o fato de os grupos de rock anti-guerra serem tão populares na Rússia, em particular antes das eleições presidenciais de março, embora a reeleição de Putin esteja basicamente garantida.

Afirmou ainda que diplomatas americanos, alemães, israelenses e australianos participaram das negociações.

O deputado nacionalista russo Andrei Lugovoi, julgado no Reino Unido pelo assassinato do ex-agente russo Alexander Litvinenko, indicou nas redes sociais que os membros do Bi-2 iriam para a prisão se fossem deportados para a Rússia e deveriam "se preparar" para "dançar sapateado na frente de seus colegas presidiários".

'Força tóxica'
Para a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, as dificuldades enfrentadas pelos opositores do Kremlin no exterior são normais, já que são "pessoas que apoiam o terrorismo".

Outros, como o escritor Boris Akunin, também estão na lista de "terroristas" de Moscou, e muitas figuras culturais russas exiladas são alvo de trolls da Internet ligados aos serviços de segurança russos.

Na quarta-feira, a Câmara Baixa do Parlamento russo aprovou uma lei que autoriza o confisco de bens de qualquer pessoa considerada culpada de espalhar "informações falsas" sobre o Exército.

É "uma diplomacia do medo", explica o cientista político Sergei Medvedev. "A Rússia precisa parecer ser uma força tóxica e onipresente que pode atingir os seus opositores em todo o mundo", acrescenta.
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