Mãe da Navalny no vídeo gravado em frente à colônia penal em que o filho morreuReprodução: YouTube
Publicado 20/02/2024 13:34 | Atualizado 20/02/2024 14:30
A mãe de Alexei Navalny, Liudmila Navalnaya, pediu nesta terça-feira (20) ao presidente russo, Vladimir Putin, que entregue "sem demora" o corpo de seu filho, que, segundo pessoas próximas ao opositor, está retido para encobrir o fato de ter sido "assassinado".

Desde a sua morte em uma prisão do Ártico, anunciada em 16 de fevereiro, a mãe de Navalny e um dos advogados de Navalny têm tentado em vão recuperar os seus restos mortais.
Mas, segundo a equipe do ativista, os investigadores russos afirmaram que não entregarão seu corpo antes de pelo menos 14 dias para realizar uma "perícia". Segundo juristas, esse prazo pode ser prorrogado por semanas.
Em um vídeo publicado nesta terça, a mãe do opositor, Liudmila Navalnaya, dirigiu-se diretamente ao presidente russo, que até agora não comentou publicamente a morte do seu principal opositor, após três anos de prisão.

"Peço a você, Vladimir Putin, a solução para este problema depende apenas de você. Permita-me ver meu filho. Peço que o corpo de Alexei seja devolvido sem demora para que ele possa ser enterrado humanamente", declarou a mulher, filmada perto da colônia penitenciária onde seu filho morreu.

Enterro
O Kremlin ainda não respondeu ao pedido. Em vez disso, rejeitou as acusações da viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, que afirmou na segunda-feira (20) que Putin está por trás da morte do seu marido.

"Estas são obviamente acusações grosseiras e completamente infundadas contra o chefe de Estado russo, mas como Yulia Navalnaya ficou viúva há poucos dias, não comentarei", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"Não me importa como o porta-voz de um assassino comenta as minhas declarações. Devolva o corpo de Alexei e deixe-nos enterrá-lo com dignidade, não impeça as pessoas de se despedirem dele", respondeu Navalnaya em sua conta na rede social X.

Pouco depois de postar esta mensagem, sua conta foi brevemente suspensa por supostamente violar as regras da plataforma. Em um vídeo publicado na segunda, Navalnaya prometeu substituir o marido e continuar sua luta.

Na segunda-feira, ela participou de uma reunião com os ministros das Relações Exteriores da União Europeia, durante a qual apelou aos 27 países membros do bloco para não reconhecerem o resultado das eleições presidenciais russas em meados de março, nas quais se espera que Putin seja reeleito na ausência da oposição e em um contexto de forte repressão.

Líder de gangue
As tentativas modestas na Rússia de prestar homenagem a Navalny foram reprimidas. Segundo a ONG OVD-Info, quase 400 pessoas foram presas em cerca de 40 cidades do país por tentarem homenagear Navalny colocando flores ou acendendo velas.

"A polícia age dentro da estrutura da lei", justificou o porta-voz do Kremlin, Peskov, nesta terça-feira. Por outro lado, Peskov descreveu como rotineira a promoção ordenada por Putin na segunda-feira a altos funcionários dos serviços penitenciários russos. "Esses são processos normais de avanço", disse ele.

Navalny, que cumpria uma pena de 19 anos de prisão por "extremismo" em uma colônia no Ártico russo, morreu em 16 de fevereiro, segundo os serviços penitenciários, aos 47 anos.

Ele sobreviveu milagrosamente a um envenenamento em agosto de 2020, do qual se recuperou na Alemanha, antes de retornar à Rússia em janeiro de 2021.

Vários países ocidentais denunciaram a sua morte e pediram que as circunstâncias fossem esclarecidas. A Polônia convocou o embaixador russo nesta terça-feira, assim como outros países no dia anterior, incluindo França e Espanha.

Outro opositor e velho amigo de Navalny, Ilya Yashin, preso na Rússia por denunciar a ofensiva do seu país contra a Ucrânia, prometeu continuar a luta.

Em uma carta divulgada nesta terça-feira por pessoas próximas a ele, Yashin disse estar "convencido" de que Putin "ordenou" a morte de Navalny.

"Para Putin, é assim que o poder se afirma: com assassinato, crueldade e vingança reveladora. Esta forma de pensar não é a de um estadista. É a de um líder de gangue", estimou.
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