Palestinos visitam túmulos de mortos na guerra com Israel durante o Eid al-Fitr, festival que marca o fim do RamadãAFP
Publicado 10/04/2024 09:55
Israel bombardeou, nesta quarta-feira (10), a Faixa de Gaza, coincidindo com o dia que marca o fim do mês do jejum muçulmano, e apesar dos esforços dos mediadores internacionais para chegar a uma trégua depois de mais de seis meses de guerra.

Uma série de bombardeios atingiu o norte e o centro do território palestino durante a noite, incluindo o acampamento de refugiados de Nuseirat, disseram várias testemunhas. Estes ataques ocorrem em um momento em que muçulmanos de todo o mundo celebram o Eid al-Fitr, a festividade que marca o fim do Ramadã.

Meio ano após o início da guerra, desencadeada pelo ataque do movimento islamista Hamas em Israel, há cada vez mais apelos internacionais para um cessar-fogo.

presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, criticou duramente a estratégia militar em Gaza do governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em uma entrevista à televisão americana de língua espanhola Univision, transmitida na terça-feira.

"Peço simplesmente que os israelenses estabeleçam um cessar-fogo, que permitam durante as próximas seis, oito semanas, acesso total a todos os alimentos e medicamentos que entrarem" em Gaza, declarou Biden.

Esta entrevista foi gravada antes da retirada, no domingo, dos soldados israelenses do sul da Faixa de Gaza e do aumento, nos últimos dias, da ajuda humanitária autorizada por Israel a entrar no território.

Os países mediadores – Catar, Egito e Estados Unidos – aguardam respostas a uma nova proposta de trégua em três fases que apresentaram a Israel e ao Hamas no domingo.

A primeira contempla uma trégua de seis semanas, a libertação de 42 reféns detidos em Gaza em troca de 800 a 900 palestinos presos em Israel, a entrada diária de 400 a 500 caminhões de ajuda alimentar e o retorno às suas casas no norte de Gaza daqueles deslocados pela guerra.

O Hamas garantiu que está "analisando a proposta". A Casa Branca considerou que estas declarações "não são muito encorajadoras".

'O Eid mais triste'
Apesar das advertências internacionais, Israel continua determinado a lançar uma ofensiva terrestre na cidade de Rafah, que chama de o último reduto do Hamas na Faixa de Gaza.

Esta cidade fronteiriça com o Egito abriga, segundo a ONU, cerca de um milhão e meio de pessoas, a maioria delas deslocadas, e teme-se um grande número de vítimas no caso de uma ofensiva terrestre israelense.

"Completaremos a eliminação dos batalhões do Hamas, incluindo os de Rafah. Nenhuma força no mundo nos deterá", declarou Netanyahu na terça-feira. No entanto, segundo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, esta operação não parece ser iminente.

Israel anunciou no domingo a retirada das suas tropas da grande cidade vizinha de Khan Yunis, destruída após meses de combates, para se preparar para a ofensiva sobre Rafah. Milhares de palestinos retornaram a Khan Yunis em busca de suas casas ou do que resta delas.

"Não sei mais onde fica minha casa. Acho que é nesta área, mas não sei exatamente", disse Salim Chourab à AFP.

Por toda Gaza, os palestinos celebram com tristeza o fim do Ramadã, reunindo-se em abrigos improvisados em torno de alguns doces ou pequenos bolos preparados apesar da escassez. Em Jerusalém, a multidão de fiéis reunidos na Esplanada das Mesquitas, em meio a rigorosas medidas de segurança, estava completamente tomada pela tragédia de Gaza.

"É o Eid mais triste que já vivemos", disse Rawan Abd, uma enfermeira de 32 anos de Jerusalém Oriental, a parte palestina da cidade ocupada e anexada por Israel.

'Mudança radical'
A guerra eclodiu em 7 de outubro, quando comandos do Hamas infiltrados a partir de Gaza lançaram um ataque sem precedentes contra Israel, deixando 1.170 mortos, a maioria civis, segundo dados israelenses.

O movimento islamista também fez 250 reféns, dos quais 129 permanecem em Gaza, incluindo 34 que se acredita terem morrido, segundo as autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, que governa Gaza desde 2007, e que considera uma organização terrorista, opinião respaldada por Estados Unidos e União Europeia. As suas tropas lançaram uma ofensiva em Gaza que até agora deixou 33.360 mortos, a maioria civis, segundo o governo do Hamas.

Israel, que ordenou o cerco total a Gaza no início da guerra, também enfrenta forte pressão internacional para permitir mais ajuda ao território palestino ameaçado pela fome.

Em 18 de março, cinco ONGs apresentaram uma petição ao Supremo Tribunal de Israel na esperança de que as autoridades "respeitem as suas obrigações como potência ocupante", prestando toda a assistência necessária à população.

O tribunal deu ao governo até esta quarta-feira para responder a uma série de perguntas sobre a sua política de ajuda humanitária a Gaza.

Na véspera deste prazo, as autoridades disseram que 468 caminhões entraram na Faixa de Gaza na terça-feira, o maior número em um único dia desde o início da guerra.

"Estamos vendo uma mudança radical que, esperamos, continuará e se expandirá", disse a chefe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power, ao Senado na terça-feira.

Ela pediu a Israel que deixasse entrar mais de 500 caminhões por dia "nos próximos dias" porque "as condições estão próximas da fome em Gaza".
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