Por Paulo Sérgio Niemeyer*
Publicado 08/07/2021 03:00
Convivi com Oscar Niemeyer, como bisneto e como seu colega de profissão trabalhei em vários projetos e principalmente no “Caminho Niemeyer”, em Niterói. Ao lado dele, um dia nunca era igual ao outro. No seu escritório em Copacabana era um entra e sai de personalidades, artistas e políticos. Durante toda a sua vida ele trabalhou muito, mesmo centenário me convocava até aos domingos. Na minha infância, me lembro de que muitas vezes, quando já estávamos de pijamas e prontos para dormir, ele seguia lá, trabalhando com total dedicação.
A pandemia da Covid-19 provocou a maior crise econômica, social do século, e no Brasil quem mais sofre é a população pobre, que vive sem a mínima infraestrutura sanitária, sem água encanada para se proteger do vírus. E essa imensa desigualdade social no nosso País me faz lembrar do meu bisavô, Oscar Niemeyer, o “dindinho” - era assim que nós os netos o chamávamos – e que sempre se referia aos excluídos com fraternidade. Prova disso, é que posso dizer, mesmo carregado de afeto e saudades (em 2022 marca dez anos de sua morte), que a frase que ele mais gostava de repetir era: “A vida é bastante injusta com os mais pobres”. E em outras palavras, me dizia: “Meu querido, fudido não tem vez”.
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Nas nossas longas conversas, certo dia perguntei: Dindinho, que é arte? E ele me respondeu com aquela voz calma e pausada: “É tudo que cria surpresa e beleza, é um objeto, uma fala qualquer, que você nunca viu antes, nunca ouviu igual, então você se surpreende. E se você tem sensibilidade, é coisa bonita você para e aprecia . Arte é invenção A arquitetura é invenção”.
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Portanto, nossa vida sempre foi atrelada ao Oscar. Durante a ditadura militar implantada no Brasil, em 1964, invadiram a sua editora, que publicava a “Revista Módulo”, dedicada à arquitetura e às artes e a permanência dele no País, tornou-se impossível devido às perseguições e prisões que atingiram seus amigos. Temendo por sua vida, optou por viver seu exílio voluntário em Paris, para onde fugiu em 1967. Minha mãe, Ana Elisa Niemeyer, também arquiteta, o acompanhou e acabei nascendo na capital francesa. Naturalizei-me brasileiro, mas foi só em 2012 que consegui minha certidão de nascimento na França.
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Oscar valorizava muito a discussão sobre as cidades e esse é um dos objetivos das ações do Instituto Niemeyer, que fundei para divulgar a sua obra e o seu legado e cujos objetivos são: promover a cultura, a conservação do patrimônio históricos nacionais; estudos e pesquisas e atividades que visem o aprimoramento profissional, inclusive com edição de livros, revistas e material audiovisual.
Já no seu tempo Niemeyer foi vanguarda. A escola modernista com os vãos livres, a integração com o meio ambiente e as janelas amplas, oferecem respostas eficientes por questões agora impostas pela Covid-19.
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*É arquiteto, presidente do Instituto Niemeyer, conselheiro estadual da Cau (Conselho de Arquitetura e Urbanismo).
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