Publicado 14/02/2022 06:00
A história do bairro Jardim Botânico é uma história rica e plural, repleta de narrativas e de acontecimentos que, ainda, podem e devem ser descortinados e revelados como a história do movimento operário e da industrialização. O bairro abrigou estabelecimentos fabris de grande porte como a Companhia de Fiação e Tecelagem Carioca, criada em 1884, incorporada, na década de 1920, pela Companhia América Fabril, nas proximidades do Rio Algodão, na Rua Pacheco Leão.
Além dela, a Fábrica de Tecidos Corcovado, em 1889, do lado par da rua Jardim Botânico, próximo ao rio Cabeça e ao Parque Lage. Ao redor das fábricas, surgiam os bairros operários com suas moradias padronizadas. Cada fábrica chegou a possuir, no seu auge, uma média de mil trabalhadores assalariados de origens diversas e que se adaptaram a um novo estilo de vida.
A instalação das fábricas na região modificou a fisionomia urbana, antes, majoritariamente, ocupada por chácaras. Atraídos pelas oportunidades de trabalho, centenas de trabalhadores buscaram habitações próximas ao lugar do trabalho. As vilas construídas pelas fábricas eram construções de alvenaria com moradias para famílias, e moradias coletivas com quartos para solteiros.
As casas seguiam padrões determinados pela legislação com banheiros, lavanderias, dispondo, ainda, de iluminação e de sistema de abastecimento.
As fábricas com vilas operárias representavam complexo socioeconômico, cultural e político caracterizado pelo trabalho assalariado e pelo paternalismo industrial, com formas específicas de educação, de religiosidade, de consumo e de lazer. A vila, com suas casas e os serviços oferecidos, ao mesmo tempo que apresentava determinados benefícios, legitimava a dominação do patronato fabril.
Nas primeiras décadas do século XX, as greves e outros movimentos de associação de operários eram considerados casos de polícia. A região da Gávea foi palco de lutas proletárias. A vida dos trabalhadores era muito difícil durante a Primeira República, uma vez que quase inexistiam leis que garantissem direitos sociais, a legislação era dispersa.
Determinadas categorias de trabalhadores chegavam a trabalhar sem garantias de aposentadorias, pensões ou até mesmo de indenizações por acidentes de trabalho. Mulheres e crianças integravam o mercado profissional, recebendo salários bem inferiores aos trabalhadores masculinos.
Para a região, além de brasileiros, imigrantes também foram atraídos como portugueses, espanhóis, italianos, entre outros. Mas os ambientes eram bem demarcados: os italianos, majoritariamente, moravam na vila operária da rua Pacheco Leão. Ainda que fossem numericamente minoritários comparados aos que se dirigiram para Rio Grande do Sul e São Paulo, havia o que podemos dizer um pequeno núcleo no bairro. A formação de uma identidade italiana no contexto carioca é, no mínimo, curiosa e rende muitas lembranças entre os antigos moradores, especialmente os descendentes, que ainda habitam a região do Horto.
Poucas pessoas hoje se lembram da história do movimento operário na região ou da existência das fábricas têxteis. Com o encerramento das atividades da fábrica Carioca (adquirida pela Companhia América Fabril) em 1962, o cotidiano proletário marcado pelos apitos da indústria se encerrou.
Além dela, a Fábrica de Tecidos Corcovado, em 1889, do lado par da rua Jardim Botânico, próximo ao rio Cabeça e ao Parque Lage. Ao redor das fábricas, surgiam os bairros operários com suas moradias padronizadas. Cada fábrica chegou a possuir, no seu auge, uma média de mil trabalhadores assalariados de origens diversas e que se adaptaram a um novo estilo de vida.
A instalação das fábricas na região modificou a fisionomia urbana, antes, majoritariamente, ocupada por chácaras. Atraídos pelas oportunidades de trabalho, centenas de trabalhadores buscaram habitações próximas ao lugar do trabalho. As vilas construídas pelas fábricas eram construções de alvenaria com moradias para famílias, e moradias coletivas com quartos para solteiros.
As casas seguiam padrões determinados pela legislação com banheiros, lavanderias, dispondo, ainda, de iluminação e de sistema de abastecimento.
As fábricas com vilas operárias representavam complexo socioeconômico, cultural e político caracterizado pelo trabalho assalariado e pelo paternalismo industrial, com formas específicas de educação, de religiosidade, de consumo e de lazer. A vila, com suas casas e os serviços oferecidos, ao mesmo tempo que apresentava determinados benefícios, legitimava a dominação do patronato fabril.
Nas primeiras décadas do século XX, as greves e outros movimentos de associação de operários eram considerados casos de polícia. A região da Gávea foi palco de lutas proletárias. A vida dos trabalhadores era muito difícil durante a Primeira República, uma vez que quase inexistiam leis que garantissem direitos sociais, a legislação era dispersa.
Determinadas categorias de trabalhadores chegavam a trabalhar sem garantias de aposentadorias, pensões ou até mesmo de indenizações por acidentes de trabalho. Mulheres e crianças integravam o mercado profissional, recebendo salários bem inferiores aos trabalhadores masculinos.
Para a região, além de brasileiros, imigrantes também foram atraídos como portugueses, espanhóis, italianos, entre outros. Mas os ambientes eram bem demarcados: os italianos, majoritariamente, moravam na vila operária da rua Pacheco Leão. Ainda que fossem numericamente minoritários comparados aos que se dirigiram para Rio Grande do Sul e São Paulo, havia o que podemos dizer um pequeno núcleo no bairro. A formação de uma identidade italiana no contexto carioca é, no mínimo, curiosa e rende muitas lembranças entre os antigos moradores, especialmente os descendentes, que ainda habitam a região do Horto.
Poucas pessoas hoje se lembram da história do movimento operário na região ou da existência das fábricas têxteis. Com o encerramento das atividades da fábrica Carioca (adquirida pela Companhia América Fabril) em 1962, o cotidiano proletário marcado pelos apitos da indústria se encerrou.
Mas os vínculos de amizades e as sociabilidades permanecem latentes, pois ao caminhar pelas ruas da antiga vila operária podemos observar, especialmente aos finais de semana, as crianças brincando nas ruas e os mais velhos sentados em mesinhas improvisadas jogando cartas, um resquício de um espírito de outrora. O bairro possui história rica e plural, repleta de narrativas e de acontecimentos que, ainda, podem e devem ser descortinados e revelados.
Luciene Carris é historiadora e autora do livro Histórias do Jardim Botânico: um recanto proletário da zona sul carioca (1884-1962).
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