Publicado 11/08/2020 09:25 | Atualizado 11/08/2020 10:12
Rio - Um produtor de eventos revelou que também foi vítima de racismo no Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. Thiago Silva disse que sofreu violência em outubro do ano passado por parte de um segurança do centro comercial. O caso foi revelado pelo programa RJTV2 da TV Globo.
A nova denúncia vem à tona após a repercussão da violência sofrida pelo entregador de aplicativos Matheus, enquanto tentava trocar um relógio que daria de presente ao pai na última quinta-feira.
O produtor de eventos disse que reconheceu o segurança que agrediu Matheus. Ele contou ter se sentido ameaçado pelo PM no hall do shopping, enquanto estava sentado e mexia em seu celular ao lado de um homem branco, que fazia o mesmo, mas não foi abordado. O policial estava à paisana, segundo a denúncia, e o abordou por considerá-lo "em atitude suspeita".
"Ele chamou o policial à paisana. Então pra mim eles trabalham em conjunto. Ele sentou do meu lado e perguntou 'você mora aonde?' Eu sou policial. Depois simplesmente puxou o celular da minha mão", relatou Thiago ao RJTV2.
A patroa de Thiago na empresa de produção de eventos, Eliane Valentim, também relatou ter sido tratada violentamente pelo policial naquele dia. "Eu perguntei: 'você abordou um funcionário meu? Gostaria da sua identificação. Não sou obrigado. cala a boca. Quando um burro fala o outro abaixa a orelha'. Foi assim que ele me respondeu", disse Eliane.
De acordo com a 37ª DP (Ilha do Governador) a outra vítima de racismo no shopping ainda não entrou em contato com a delegacia.
Policiais prestam depoimento
Os dois policiais que abordaram e agrediram o entregador de aplicativos na quinta-feira prestaram depoimento na segunda-feira. Eles são investigados por racismo e abuso de autoridade. O advogado Ricardo Chagas, que defende o sargento da PM Gabriel Guimarães Sá Izaú, acusado de agredir o jovem, disse na saída da 37° DP (Ilha do Governador) que Izaú abordou Matheus porque o jovem o estava filmando.
O advogado de Matheus, Jaime Fernandes, afirmou que o jovem gravou os policiais por medo. "Ele filmou porque estava com receio, por estar sendo perseguido. Uma atitude de proteção. Essa é a verdade".
Nas filmagens, o sargento Gabriel Guimarães Sá Izaú, de blusa vermelha, chega a apontar uma arma para Matheus. O advogado negou que Izaú trabalhava como segurança particular para o Ilha Plaza. Chagas disse ser apenas "uma consultoria", mas não explicou o motivo de Izaú estar no shopping com outro policial militar, o soldado do Choque Diego Alves da Silva.
O Ilha Plaza confirmou, em nota, que a empresa de consultoria de segurança, para quem Izaú e Alves trabalhavam, foi afastada. Em um comunicado anterior, o Ilha Plaza havia declarado que os policiais não prestavam serviços para o shopping.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que "foi aberto uma apuração sumária para verificar a conduta dos dois policiais militares sob a égide do regimento interno da Corporação, garantindo aos envolvidos amplo direito de defesa". A corporação afirmou ainda que "não compactua e pune com o máximo rigor desvios de conduta cometidos por seus membros".
Boné do Hulk causou desconfiança, diz delegado
O delegado da 37ª DP, Marcus Henrique Alves, disse que uma das explicações dos policiais para a abordagem foi de que Matheus usava um boné do personagem Hulk, que também era o apelido do traficante Gilberto Coelho de Oliveira, braço-direito de Fernandinho Guarabu no controle das favelas da Ilha do Governador.
Segundo o delegado, isso causou "desconfiança" no PMs. "Disseram que desconfiaram do Matheus não pelo fato de ele ser negro, mas porque usava um boné que fazia referência ao Hulk, apelido de um traficante também conhecido como Gil".
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