Publicado 06/10/2020 06:45 | Atualizado 06/10/2020 17:24
Rio - A Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) fez, nesta terça-feira, a Operação Brutus contra uma quadrilha de milicianos, traficantes, um guarda municipal, um PM e funcionários da Prefeitura do Rio que agem em Madureira. O bando pratica extorsão de comerciantes e empresas do bairro da Zona Norte do Rio, além de vender produtos falsificados.
Foram 46 mandados de busca e apreensão, cumpridos em vários endereços da cidade. Duas pessoas foram presas, uma em flagrante com munições e outra com um mandado de prisão em aberto de outra investigação.
A agente de inspeção de controle urbano da Secretaria Municipal de Fazenda Aline de Araújo foi levada para a sede de DRCPIM, na Cidade da Polícia, para prestar esclarecimentos. Ela é suspeita de receber dinheiro para não punir os crimes praticados pelo bando.
Em uma vila de casas na Estrada do Portela, os policiais encontraram 12 toneladas de produtos pirateados. Em outro endereço, na Rua Conde de Linhares, em Oswaldo Cruz, foram apreendidos material de campanha da vereadora Vera Lins (Progressistas), que teve mandados cumpridos em seu gabinete, na Câmara de Vereadores.
Dentre os endereços onde os mandados foram cumpridos, destacam-se:
. Gabinete na vereadora Vera Lins, na Câmara de Vereadores, no Centro
. Sede da Secretaria Municipal de Fazenda, no Centro Administrativo São Sebastião, na Cidade Nova
. Sede da Guarda Municipal em Madureira (11° Inspetoria), na Rua Soares Caldeira, 115
O mandado no gabinete da vereadora Vera Lins, que é candidata à reeleição, foi contra o guarda municipal Júlio César Torres Vagas. A parlamentar não é investigada na ação.
'POPEYE' NA LIDERANÇA
De acordo com o delegado Maurício Demétrio, titular da DRCPIM, a quadrilha é comandada por Genivaldo Pereira das Neves, conhecido Popeye (por isso o nome da operação, em alusão ao personagem de animação). O bando liderado por Popeye ameaça, coage e extorque ambulantes e comerciantes de Madureira.
"São 23 pessoas investigadas nessa organização criminosa, por enquanto", conta o delegado.
As investigações começaram em fevereiro do ano passado e revelaram que o grupo movimenta de R$ 60 mil a R$ 90 mil por semana com cobranças irregulares. Além disso, a quadrilha é apontada por envolvimento em nove mortes de pessoas que não pagaram propina ou por briga de facções rivais nos últimos dois anos.
OPERAÇÃO ESCULHAMBAÇÃO
A operação envolveu 150 policiais civis de 16 delegacias. Também houve mandados sendo cumpridos no Espírito Santo.
"Em determinado momento da investigação, a gente vai ver se amplia as apurações ou se já se encerra, vendo se os elementos colhidos hoje nessas buscas e apreensões são suficientes para poder relatar o inquérito", avisa Demétrio.
Os alvos são investigados pelos crimes de formação de quadrilha, organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.
A ação de hoje foi um desdobramento da Operação Esculhambação, que teve sua primeira fase realizada em abril do ano passado, quando foram apreendidos nove toneladas de produtos piratas no Centro. A segunda fase aconteceu seis meses depois e encontrou 20 toneladas de produtos falsificados em Madureira.
DEFESAS
O advogado da vereadora Vera Lins, James Walker, reforçou que ela não é investigada e que o mandado cumprido no gabinete dela foi contra um antigo funcionário, dispensado em maio de 2019. Sobre o material de campanha encontrado em um dos endereços das buscas, ele disse que a parlamentar tem material distribuído por toda a cidade.
"O material de campanha foi arrecadado na associação de moradores e muitos membros da associação de moradores trabalham fazendo campanha para diversos políticos, inclusive a vereadora", destacou o advogado.
Procurada pelo DIA, a Guarda Municipal afirmou que "está à disposição da Polícia Civil para colaborar com as investigações e abrirá sindicância para apurar a denúncia envolvendo os servidores".
Já a Secretaria Municipal de Fazenda disse que "desaprova qualquer desvio de conduta de funcionários e está à disposição da Polícia Civil para colaborar com a apuração dos fatos".
"No momento, a pasta aguarda mais informações para adotar as providências cabíveis", a secretaria acrescentou, em nota.
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