Publicado 28/10/2020 10:12
Rio - Dona Solange da Conceição, 57 anos, soube da morte do irmão, o garçom Marcos Paulo Luiz, 39, na tarde desta terça-feira. Ela conta que ouviu dos médicos que não podiam fazer nada pelo irmão dela. O paciente estava sendo colocado na ambulância para ser transferido para outra unidade de saúde quando morreu. Ele é uma das três vítimas fatais do incêndio do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), na Zona Norte do Rio.
De acordo com Solange, o irmão estava internado há mais de 20 dias por conta de uma bactéria. Após quatro dias internado ,ele precisou ser colocado no respirador e assim ficou por 16 dias. "A gente tinha opções de outros hospitais, mas decidimos trazer o meu irmão para este porque sempre ouvimos que era uma referência em atendimento. É muito revoltante tudo isso que está acontecendo. Um descaso total. Eu queria tirar o meu irmão vivo daqui, não dentro de um caixão", lamenta a irmã da vítima.
Marcos deixa cinco filhos ainda jovens. Ele, que morava em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ficou viúvo no início deste ano. Segundo a dona Solange, o Marcos perdeu a esposa no início deste ano. "Ele estava fazendo o papel duplo, de pai e mãe. Meu irmão era uma pessoa muito dedicada aos filhos", conta. A irmã descreve Marcos como um homem trabalhador, que prestava serviço como garçom.
Marcos Paulo será sepultado na tarde desta quinta-feira, às 13h, no Cemitério de Nova Iguaçu.
Pacientes ainda aguardam transferência
Onze pacientes ainda aguardam transferência para outras unidades de saúde após o incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso. De acordo com o Ministério da Saúde, outros 179 pacientes já foram remanejados, 37 receberam alta e outros três morreram.
Além de Marcos Paulo Luiz, também faleceu uma senhora de 83 anos, que não teve a identidade revelada, que estava internada com covid-19 e em estado grave no CTI coronariano. Mais cedo, Núbia da Silva Rodrigues, 42 anos, também paciente da doença, morreu durante o processo de transferência para outro hospital.
Os pacientes transferidos foram levados para unidades estaduais, municipais e federais. Para a rede municipal, eles foram remanejados para os hospitais: Albert Schweitzer, Maternidade Leila Diniz, Maternidade Carmela Dutra, Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, CER Leblon, Souza Aguiar, Evandro Freire, Maternidade Fernando Magalhães, Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, Ronaldo Gazolla e Hospital de Campanha Rio Centro.
Já na rede estadual, há nove pacientes no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), quatro para o Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC), dois para o Hospital Estadual Anchieta (HEAN) e dois para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC). Há ainda um paciente no Hospital Federal do Fundão.
Todos os pacientes serão transferidos. Segundo a assessoria do HFB, a recomendação para a transferência de todos os pacientes partiu do Corpo de Bombeiros, por conta do volume de fumaça, cheiro forte e da combustão ainda não controlada. Outra questão, é que o subsolo, onde o incêndio começou, é interligado aos outros seis prédios, podendo apresentar riscos aos pacientes.
Bombeiros ainda trabalham no rescaldo
Quase 24 horas após o incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso, os bombeiros ainda atuam no trabalho de rescaldo na manhã desta quarta-feira. A fumaça do local ainda pode ser vista por moradores de vários bairros.
No pátio do hospital, foram montadas tendas para facilitar o trabalho das equipes. O fogo começou no subsolo da unidade de saúde, onde está localizado o almoxarifado, na manhã desta terça-feira. A causa do incêndio ainda é desconhecida. A Polícia Federal instaurou um inquérito para apurar as causas.
Para especialista, incêndios de Bonsucesso e Badim têm similaridades
Em agosto de 2019, o incêndio de grandes proporções no Hospital Badim, na Tijuca, trouxe profunda dor e aflição para familiares e pacientes, deixando 23 mortos. Mais de um ano depois, a comoção em escala nacional retorna com o incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso, referência para o tratamento da covid-19, que deixou dois mortos, segundo a última atualização. As tragédias, separadas pelo tempo, possuem muitas similaridades, segundo especialista em prevenção e combate a incêndios.
Wesley Pinheiro conta que os dois incêndios começaram no subsolo onde, em estruturas prediais mais antigas, estão localizados geradores de energia e almoxarifados, uma combinação muito volátil quando não há a devida proteção. Apesar do alarme referente às chamas, o treinador de brigadas de incêndio alerta para o principal perigo: a fumaça.
"Quando a fumaça sai da cobertura de um prédio, o calor não atinge os andares inferiores, mas, de baixo para cima, tem tudo para dar errado porque ela sobe com velocidade, elimina a fissão, causa queimaduras. Pelas estatísticas NSTA, órgão dos Estados Unidos, 80% da causa de morte de pessoas em incêndios é a fumaça", destaca.
Wesley Pinheiro conta que os dois incêndios começaram no subsolo onde, em estruturas prediais mais antigas, estão localizados geradores de energia e almoxarifados, uma combinação muito volátil quando não há a devida proteção. Apesar do alarme referente às chamas, o treinador de brigadas de incêndio alerta para o principal perigo: a fumaça.
"Quando a fumaça sai da cobertura de um prédio, o calor não atinge os andares inferiores, mas, de baixo para cima, tem tudo para dar errado porque ela sobe com velocidade, elimina a fissão, causa queimaduras. Pelas estatísticas NSTA, órgão dos Estados Unidos, 80% da causa de morte de pessoas em incêndios é a fumaça", destaca.
Somando-se ao alarde da fumaça, o Hospital de Bonsucesso ainda não tem o documento de vistoria do Corpo de Bombeiros, e para Wesley, isso significa um sinal de portas interditadas. "Primeiro, tem que ser emitido o certificado de aprovação, o CA. Uma edificação sem isso não era para estar funcionando, não tem fiscalização", afirma. Ainda segundo ele, a corporação poderia ter sido mais incisiva no pedido de fechamento do hospital.
Mais uma vítima do incêndio
Núbia da Silva Rodrigues, de 42 anos, outra vítima do incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso, será sepultada nesta quinta-feira, às 10h30, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. A paciente estava internada no hospital com covid-19 e morreu durante o processo de transferência para outro hospital.
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