A comunidade fica em CharitasReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por RAI AQUINO
Publicado 24/01/2021 05:00
Rio - A história do Morro do Preventório, em Niterói, se confunde com uma casa dada de presente à Princesa Isabel no município da Região Metropolitana, pelo menos no nome. O conjunto de prédios de 3 mil metros quadrados, voltado para a enseada da Baía de Guanabara, na Praia de Charitas, era chamado de preventório na época do Império.
"O casarão histórico foi construído para presentear a Princesa Isabel pelo seu aniversário e, com o passar do tempo, foi chamado de Preventório Paula Cândido, visto que se tornou uma casa onde pessoas com doenças contagiosas aguardavam tratamento e previamente eram afastadas da convivência com outras pessoas para evitar epidemias", conta Marcos Rodrigo Maciel, doutorando em tecnologias pela UFRJ e fundador do Banco Comunitário do Preventório.
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A Casa da Princesa hoje abriga o Colégio Estadual Matemático Joaquim Gomes de Sousa (Intercultural Brasil-China)Divulgação / Governo do estado
O casarão em questão foi construído na primeira metade do século XIX no pé do Morro do Preventório. Atualmente, ele é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural e abriga o Colégio Estadual Matemático Joaquim Gomes de Sousa (Intercultural Brasil-China). Até hoje, ele é conhecido como Casa da Princesa.
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"Ao longo dos anos, algumas pessoas começaram a morar no entorno dessa casa. Eram pessoas que de alguma forma trabalhavam por lá", afirma o pesquisador, que já chegou a morar no Preventório e cuja família ainda está na favela.
IMIGRANTES DO NORDESTE
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A ocupação da encosta em si aconteceu nos anos 80 com a chegada de pessoas de outros estados, principalmente do Nordeste. Quando o então prefeito Moreira Franco, que governou Niterói de 1987 a 1991, expulsou um grupo de famílias da área onde hoje é o condomínio de alto luxo Aruã, que fica na vizinhança, essas pessoas partiram para o Preventório.
"Na época, a comunidade tinha cerca de 300 famílias, mas depois esse número foi crescendo consideravelmente", diz Maciel.
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Ao longo dos anos, o Morro do Preventório foi intensamente ocupado, chegando aos atuais cerca de 10 mil moradores. A origem nordestina está no dia-a-dia da população local.
"A gente fala que tem a Rua do Maranhense, porque só tem maranhenses, do Cearense... é muita gente com origem nordestina", esclarece o ativista.
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COSMOPOLITAS
A própria família do líder comunitário veio do Nordeste. O pai deixou o Ceará em 1980, passando por algumas outras comunidades antes de chegar ao Preventório. Assim que foi morar na favela ele se tornou dono de um bar, que mantém até hoje e onde Maciel já trabalhou.
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"Eu tenho muita memória ligada às pessoas do Preventório, porque quando você trabalha em um bar, você faz amizades... é o cara que vende peixes, é o motorista de ônibus que almoça, os outros comerciantes. Tenho muita lembrança também de ficar na praia, que naquela época era limpíssima", relembra.
Ainda sobre os moradores da comunidade, o ativista destaca que eles são muito antenados a tudo, urbanos e bem cosmopolitas. Ele enfatiza ainda a força política da população local, que recebeu a visita do ex-presidente cubano Fidel Castro, em 1999, quando o líder da Revolução Cubana inaugurou uma unidade do programa médico de família, inspirado no modelo de saúde de Cuba.
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"O morador do Preventório tem o estilo um pouco do morador da Rocinha. Ele é um morador que mora na favela, mas está no meio do centro urbano, em uma área de concentração de renda muito alta. É aquele morador que está sempre no agito, que trabalha no setor de serviços", assinala.
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