Publicado 23/02/2021 15:58 | Atualizado 23/02/2021 19:08
Rio - O atropelamento que deixou um policial militar do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE) em estado gravíssimo, no último domingo (21), ligou um alerta para as péssimas condições de trabalho dos agentes em vias de alta velocidade no Rio. Os PMs denunciaram ao DIA uma série de irregularidades que são expostos, além das péssimas condições de trabalho e o medo de sofrerem represálias dentro do batalhão ao fazerem denúncias.
O sargento Othon Wagner Solomon Silva Belarmino, de 43 anos, foi o caso mais recente. Ele foi atropelado enquanto trabalhava no acesso à Avenida Brasil da via expressa Transolímpica, em Magalhães Bastos, na Zona Oeste do Rio, e o motorista fugiu sem prestar socorro. De acordo com o Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, ele fraturou uma costela, o cóccix, teve uma perfuração do pulmão e seu estado é gravíssimo.
Em um vídeo, é possível ver que o sargento está bem próximo da pista, em uma situação de extremo perigo. As imagens são fortes:
Segundo um PM do batalhão, que não quis se identificar, a posição de risco é algo imposto pelo próprio BPVE. "A Linha Amarela e a Linha Vermelha são os piores locais pois são vias de velocidade alta e os baseamentos são todos em cima dos zebrados (listras paralelas sinalizadas no chão da pista) em um espaço que não cabe nenhuma viatura. Ou seja, um policial tem que ficar dentro da viatura e um do lado de fora, ficando exposto na via", contou o policial.
Um outro PM do BPVE, que também optou por não se identificar, revelou que o acidente do sargento Othon não foi um caso isolado. "Isso é rotineiro, tem até policial trabalhando interno pois não pode mais ficar em pé por muito tempo depois de ter sido vítima de colisão que acontece em todas as vias. Na Linha Vermelha, no ano passado, foram três viaturas destruídas. Na Linha Amarela um caminhão de lixo atropelou a viatura com os policiais dentro. Na Avenida Brasil também já houve caso e agora esse da Transolímpica, que pela filmagem dá para ver onde o comando do batalhão manda basear a viatura sem nenhuma segurança para os policiais”, denunciou o PM.
Em um vídeo, é possível ver que o sargento está bem próximo da pista, em uma situação de extremo perigo. As imagens são fortes:
Segundo um PM do batalhão, que não quis se identificar, a posição de risco é algo imposto pelo próprio BPVE. "A Linha Amarela e a Linha Vermelha são os piores locais pois são vias de velocidade alta e os baseamentos são todos em cima dos zebrados (listras paralelas sinalizadas no chão da pista) em um espaço que não cabe nenhuma viatura. Ou seja, um policial tem que ficar dentro da viatura e um do lado de fora, ficando exposto na via", contou o policial.
Um outro PM do BPVE, que também optou por não se identificar, revelou que o acidente do sargento Othon não foi um caso isolado. "Isso é rotineiro, tem até policial trabalhando interno pois não pode mais ficar em pé por muito tempo depois de ter sido vítima de colisão que acontece em todas as vias. Na Linha Vermelha, no ano passado, foram três viaturas destruídas. Na Linha Amarela um caminhão de lixo atropelou a viatura com os policiais dentro. Na Avenida Brasil também já houve caso e agora esse da Transolímpica, que pela filmagem dá para ver onde o comando do batalhão manda basear a viatura sem nenhuma segurança para os policiais”, denunciou o PM.
Há ainda outras irregularidades que tornam o trabalho dos PMs do BPVE ainda mais complicado. Os pontos de base não são preparados para proteger os policiais dos gases tóxicos dos veículos. Em alguns casos, o policial fica 12 horas sem poder se movimentar em um espaço de um metro, pois o risco de atropelamento é grande.
"Muitos desses pontos ficam embaixo do sol, não temos nem ao menos uma tenda para amenizar e a cobrança é enorme para que um policial fique desembarcado da viatura em pé. A ordem é só uma: a viatura tem que estar posicionada no local determinado nem um centímetro para um lado ou para o outro", detalha o agente do BPVE.
O tratamento abusivo por parte dos comandantes também revela uma situação de desamparo. Segundo os policiais que denunciaram as irregularidades, não tem banheiro e água potável disponível. A manutenção das viaturas também sai do bolso do policial.
"O policial chega em casa e, ao tomar banho, a água desce preta de tanto que ficamos expostos aos gases tóxicos dos veículos. Se não fosse a nossa contribuição de fazer a manutenção da viatura nós não teríamos nem ar condicionado, estamos largados nesse batalhão com escalas de serviços que até a OAB já diz que é desumana", denunciou o PM.
Aumento das doenças psicológicas em PMs do BPVE
Segundo integrantes do batalhão, já se tornou comum ver colegas de profissão se afastando do serviço por causa de doenças psicológicas e comorbidades devido ao forte estresse. "Infelizmente o regulamento disciplinar faz com que muitos colegas tenham medo de denunciar por causa das represálias, vindo a contrair doenças. Tiveram muitas denúncias na corregedoria, mas qual coronel investigaria outro coronel?", questionou um outro policial que faz parte do BPVE.
Advogado levará denúncias ao Ministério Público
O advogado especialista em Direito Militar, Fabio Tobias, informou que está formalizando uma denúncia para levar ao Ministério Público no próximo mês. Segundo ele, há descumprimentos no código de trânsito brasileiro e também no código de conduta formalizado em 2015. "Irei formalizar representação junto ao MPRJ, para apurar e responsabilizar os responsáveis pelos baseamentos arbitrários, bem como levarei a representação na próxima reunião que irei participar junto com alguns Promotores de Justiça do MPRJ", afirmou o advogado.
Fábio Tobias também listou as irregularidades do BPVE. "O conceituado Batalhão de Policiamento em Vias Expressas - BPVE, desempenha um serviço de excelência no que tange a garantia da paz social e do direito de ir e vir dos cidadãos nas vias expressas do RJ, todavia, não dispensa a mesma eficiência para os policiais militares, lotados no Batalhão. O respeitável comandante do BPVE, bem como o Oficial responsável pela seção P3, devem obediência ao princípio da legalidade, porém, ao determinarem baseamentos em vias expressas que coloquem em risco a vida dos policiais militares e dos próprios cidadãos que por ali trafegam, descumprem o CTB, a recomendação de n.° 001/2020, do MPRJ e a clausula quinta, intem 5.1, do TAC/2015, logo, se amoldam ao tipo penal previsto no artigo 324 do CPM", finalizou.
Procurada, a Polícia Militar informou que "as rotinas de atuação da corporação englobam o policiamento ostensivo, com equipes em movimentação dinâmica e também em baseamentos estratégicos. A orientação operacional indica que um policial deve sempre estar ao lado da viatura durante o serviço, resguardando, através de sua observação periférica, sua própria segurança e dos demais componentes da equipe. Essa condição momentânea obedece a revezamentos entre os grupos de serviço, propiciando assim períodos de atuação e descanso intercalados", disse a corporação, em nota.
A PM esclareceu ainda as condições de trabalho dos agentes de segurança. "A corporação adquiriu, nos últimos dois anos, mais de seis mil novas viaturas, todas equipadas com sistema de ar-condicionado de última geração. É importante ressaltar que este modelo de policiamento ajudou na consolidação das maiores quedas dos índices de criminalidade no Rio de Janeiro nos últimos anos", finalizou a polícia.
Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes*
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