Menor de idade posa em evento no hotel, promovido no sábadoDaniel Castelo Branco
Por Bruna Fantti
Publicado 03/05/2021 04:14
 Rio -- O sonho de se tornar uma modelo pode virar um pesadelo como a rapidez de um flash. A Polícia Civil apura a denúncia de que grupos marcam sessões de fotos com meninas adolescentes e, no final do dia, as convidam para fazer o que chamam de 'resenha à beira da piscina'. Essa resenha consiste em uma festa com homens convidados para o evento. Normalmente, os ensaios ocorrem em hotéis, que já ficam com os quartos reservados para as jovens virarem a noite. Há a suspeita de exploração sexual.
Uma denúncia do tipo motivou a ida de quatro viaturas da Dcav (Delegacia de Combate à Adolescente e Vítima), com apoio da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), na noite de sábado, até o Hotel Granada, na Lapa, localizado a cerca de 150 metros do prédio da Secretária de Polícia Civil. A reportagem flagrou a ação com exclusividade. A operação contou com apoio do Ministério Público do Trabalho, que foi verificar irregularidades trabalhistas dos funcionários envolvidos no evento.
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Por volta das 20h, a polícia chegou ao local. Nenhum hóspede pode entrar ou sair do hotel, cujo evento já ocorria desde às 7h da manhã, de acordo com o pai de uma maquiadora contratada somente para embelezar as meninas para as fotos. "É o primeiro trabalho dela do tipo. Ela foi chamada por esse grupo, no Whatsapp. O acordado seria ela trabalhar, sem receber, para alavancar o próprio portfólio", disse o homem, que esperava ansioso a filha na calçada. A jovem, maior de idade, foi levada para a delegacia como testemunha.
Assim que chegaram ao terraço, os policiais flagraram uma menor, sentada em um móvel, tirando um foto em uma pose sensual. De acordo com o SindModel-RJ (Sindicato dos Modelos Profissionais do Estado do Rio de Janeiro), há horário específico para menores de idade trabalharem e, mesmo acompanhados de responsáveis, tirar fotos a partir das 22h seria irregular. Além disso, havia bebida alcoólica e maconha -- essa, em pequena quantidade, no local. "O menor não pode participar de eventos e resenhas que contenham bebida alcóolica nem com exposições desses menores à imoralidade como, por exemplo, presenciar modelos maiores seminus", disse Rogéria da Silva, presidente do SindModel.
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"Além disso, eventos de moda que envolvam menores, como desfiles, shows, performances e sessões de fotos devem apresentar o alvará da infância e juventude de cada menor", completou.
O responsável pelo evento, que se identificou apenas como Paulo, disse que não se tratava de um evento oficial. "Era aniversário de uma menina. Alugamos o espaço. Todas as meninas se conhecem. Não há ganho comercial: elas tiram as fotos e as ganham de brinde, o fotógrafo ganha portfólio. Elas que pagam pelos quartos", afirmou.
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Apesar dessa afirmação, o próprio anúncio do evento diz que ele é aberto a qualquer jovem que queira fazer fotos para a sua "autoestima". Os quartos, alugados em três andares, estavam todos em nome de Paulo.
De acordo com o titular da Dcav, delegado Adriano França, foram encontradas fotos sensuais, mas nada pornográfico e instaurado um inquérito. "Este mês é importante para a conscientização contra o abuso e exploração de crianças e adolescentes e a DCAV vai realizar operações durante todo o mês para combater esses crimes", disse.
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O hotel citado foi procurado pela reportagem, mas não retornou aos contatos.
MPT faz convênio com Polícia Civil
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A procuradora do Trabalho Guadalupe Couto acompanhou a operação da Polícia Civil, no sábado. Essa foi a primeira diligência conjunta realizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela corporação, a partir de um convênio, que contou com a participação do também procurador Fábio Vilella.
"O MPT será comunicado de todas as ocorrências policiais que envolvam possíveis irregularidades trabalhistas, como: acidente de Trabalho que resulte em lesões corporais ou morte do trabalhador; tráfico de pessoas e redução de pessoa à condição análoga à de escravo; constatação de trabalho infantil; e constatação, no curso de investigações contra milícia", disse Guadalupe.
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Ainda de acordo com a procuradora, "o objetivo dessa atuação conjunta respeitadas as atribuições legais e constitucionais de cada um dos órgãos envolvidos, em regime de mútua colaboração, é garantir os direitos sociais trabalhistas das supostas vítimas".
obre a operação de sábado, a procuradora disse que vai esperar o término dos depoimentos colhidos pela Polícia Civil em conjunto com o MPT. 
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"Será avaliado se é o caso de instaurar um inquérito civil no âmbito do MPT para apurar mais os fatos e, uma vez, formado o convencimento pelo membro do MPT acerca da existência de irregularidades trabalhistas será ajuizada Ação Civil Pública ou proposta a assinatura de Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta", disse.
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