Publicado 03/05/2021 10:18
Rio - Cerca de 40 pessoas ficaram com o rosto deformado após realizar sessões de harmonização facial, com uma dentista, em Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro. As clientes pagavam por aplicação de ácido hialurônico, mas Giselle Gomes utilizava uma substância mais barata e perigosa, o polimetilmetacrilato - o PMMA, não indicado para tratamentos estéticos. A matéria foi exibida neste domingo, no Fantástico.
Em seu perfil no Instagram, a dentista dizia trabalhar com harmonização orofacial, botox, bichectomia, fios e lipoaspiração. Segundo as vítimas, Giselle era persuasiva e conseguia convencer as clientes a fazer diversos tipos de tratamento em seu consultório.
A cabelereira Lana Velasco foi uma das vítimas da dentista. A profissional realizou um preenchimento labial e cerca de uma semana depois do procedimento apresentou uma deformação nos lábios.
"Eu não quis ver ninguém por causa disso, as pessoas perguntavam porque eu havia feito isso então, preferi me isolar", conta. A cabelereira diz que entrou em depressão por causa do tratamento estético que deu errado.
Quando Lana voltou ao consultório, ela confrontou a dentista e perguntou se o produto utilizado na aplicação era o PMMA. A profissional negou a acusação. A cabelereira gravou a conversa.
"Você colocou na minha boca uma coisa que não sai? Eu estou com a minha boca deformada Giselle", diz Lana na conversa com a dentista.
Uma outra cliente, Fabielly Vasconcelos, que fez preenchimento para diminuir as olheiras ficou com a região abaixo dos olhos manchada permanentemente depois das aplicações feitas por Giselle.
"Meu olhar pra mim sempre foi muito forte e agora isso mudou. Ela não tinha o direito de tirar isso. Ela falava que o resultado era culpa da minha cicatrização e quanto mais ela aplicava, mais meu rosto ia se deformando", contou emocionada.
Giselle ostentava diversos certificados nas redes sociais. No entanto de acordo com uma investigação da 134ªDP (Campos dos Goytacazes), Giselle não tinha permissão para realizar os procedimentos. Além disso, as vítimas da dentista, muitas vezes, não tinham certeza sobre o procedimento realizado no consultório.
"Ela não tinha especialização em harmonização orofacial e não tinha nenhuma especialização", conta a delegada que investiga o caso Natália Patrão.
A advogada de pelo menos 25 vítimas, Andréa Paes, diz que Giselle conseguiu se aproximar das clientes e se mostrar prestativa nas primeiras consultas. No entanto, quando era necessário realizar uma revisão, ou havia reclamações sobre os procedimentos, ela assumia uma personalidade agressiva.
"Quando a pessoa volta e se queixa de alguma coisa, essa Giselle,comuma personalidade doce, se transforma numa pessoa grossa, arrogante, debochada", conta.
Na casa de Giselle foram encontradas diversas seringas de PMMA, além de cheques não descontados e uma agenda de atendimentos que dão conta de 50 clientes por dia.
"O valor do PMMA na nota fiscal apreendida na residência da Giselle mostrou que ela pagava R$25 em 1ml de PMMA.O preço médio do ácido hialurônico gira em média em torno de R$500. Um lucro exorbitante", disse a delegada.
O Ministério Público denunciou Giselle por lesão corporal gravíssima, estelionato e exercício ilegal da profissão. Além disso, a Justiça também suspendeu as redes sociais da dentista e afastou a dentista das funções.
A Anvisa diz que a decisão sobre a aplicação do PMMA cabe aos conselhos profissionais. O Conselho Regional de Odontologia diz que a aplicação é permitida por lei, mas como Giselle foi denunciada por uma paciente, a dentista será investigada em um conselho ético que irá apurar a conduta da profissional.
A defesa de Giselle argumenta que poucas pacientes tiveram alguma intercorrência em meio a quase mil atendimentos.
A delegada que apura o caso deixa um alerta sobre a realização destes procedimentos.
"Quando for fazer qualquer tipo de procedimento, solicite ao profissional a matéria prima que está sendo aberta e o prontuário de atendimento", explica.
Dentista também é funcionária pública em duas cidades, mas não comparece ao trabalho
De acordo com as investigações da polícia, Giselle também é funcionária pública nas cidades de Campos e em São João da Barra, no entanto, ela não estava em atividade. Entre os anos de 2018 e 2020, a dentista havia sido cedida para a Câmara Municipal de Campos e foi nomeada para trabalhar no gabinete de dois vereadores. Ela não teve renovação de contrato e deveria ter se apresentado na prefeitura.
Na cidade de São João da Barra, Giselle era concursada e lecionava para crianças. Em 2018 ela solicitou licença, que expirou no final de 2020. Assim como na Câmara, ela também deveria ter se apresentado na Secretaria Municipal de Educação, mas não foi vista.
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