No IML a família de Kathlen Romeu, de 24 anos, baleada na cabeça, estava grávida de 14 semanas. Na foto Luciano Gonçalves o pai de de KathlenDaniel Castelo Branco
Por O Dia
Publicado 09/06/2021 08:38 | Atualizado 09/06/2021 10:00
Rio - Em meio a dor dilacerante, a família de Kathlen Romeu esteve na manhã desta quarta-feira (9) no Instituto Médico Legal (IML), no Centro, para reconhecer o corpo da jovem. A designer de interiores de 24 anos morreu após ser baleada durante confronto entre policiais e traficantes no Complexo do Lins, na tarde de terça-feira. Ela estava grávida, e subiu a comunidade para visitar familiares.
Em tom de desabafo, o pai de Kathlen, Luciano Gonçalves, ressaltou a diferença de atuação das polícias nas comunidades e nos bairros mais ricos do Rio. "As pessoas que moram na Zona Sul só conhecem as histórias da varanda, não sabem da missa metade do que acontece nas comunidades. Quando falam que tem que entrar na comunidade dando tiro...99% das pessoas da comunidade são de bem. O tiro ao alvo que tem na nossa área, não tem na Zona Sul. Eu falava com minha mãe: meu neto vai nascer com os pais formados. Na comunidade, não tem quase ninguém formado", lembrou Luciano.
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Segundo a família, Kathlen era moradora do Lins, mas deixou a comunidade meses atrás justamente por conta da violência da qual foi vítima. "Eu tirei ela de lá por causa de violência. Foram muitos episódios de violência. Há um tempo atrás morreu um menino que foi buscar guaraná para a festa da igreja e foi alvejado. Um garoto de 19 anos. Ceifaram a vida da minha filha e falaram que foi troca de tiros. Não foi. E como foi ela, poderia ser eu: uma pessoa do bem. Colocariam uma arma na minha mão e falariam que eu era bandido". A ONG Justiça Global enviou ofício ao governo do estado pedindo a apreensão das armas usadas pelos PMs na ação.
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Sayonara Fátima de Oliveira, avó de Kathlen, esperava a visita da neta durante a tarde de terça, mas terminou por ajudá-la a ser socorrida após o tiro. "Eu pedi para entrar no carro da polícia. Falei: 'me leva, nem que seja na caçamba'. Minha neta morria de saudade de mim, queria me visitar, e eu falando para ela: 'não vem, você pode estar passando, sair um tiro e você perdeu sua criança'. Ontem, eu permiti que ela fosse", lamentou Sayonara.
Porta-voz da PM diz que tiro que matou grávida no Lins não partiu de policiais
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O porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, disse na manhã desta quarta-feira (9) que o tiro que matou a designer de interiores Kathlen Romeu, de 24 anos, não partiu das armas usadas pelos policiais militares. O oficial garantiu que não havia nenhuma operação no momento dos disparos. A jovem estava grávida de 14 semanas.
Ivan Blaz afirmou que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Lins foram atacados por traficantes. Segundo o porta-voz, os PMs foram os primeiros a chegar no local em que Kathlen estava. De acordo com ele, os militares disseram que não foram os responsáveis pelos disparos que mataram a jovem.
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"Cabe ressaltar que os policiais fizeram de tudo para socorrer a moça. Eles foram os primeiros a chegar no local. Eles tentaram reanimar, a socorreram para o hospital, mas infelizmente ela faleceu. Os policiais lutaram até o fim pela vida dela", explicou em entrevista à TV Globo.
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