Publicado 18/11/2021 10:45
Rio - Uma família que sai do Nordeste em busca de emprego no Rio de Janeiro e passa a morar em uma comunidade carioca. O roteiro, comum a milhões de brasileiros ao longo de décadas, também é a história de Carlos, Alexandra e a filha de quatro anos. Eles se mudaram do Rio Grande do Norte para o Morro do Salgueiro há apenas quatro meses, mas uma tragédia na noite de quarta-feira (17) interrompeu os sonhos: a casa em que moravam na comunidade desabou. Carlos, de 22 anos, não resistiu. A esposa, de 25, e a filha seguem internadas. Segundo a Secretaria Municipal de Habitação, a construção não possuía licenciamento nem o registro "habite-se".
"O Carlos e a esposa vieram há quatro meses do interior do Rio Grande do Norte para tentar a vida no Rio, mas infelizmente aconteceu essa tragédia", lamentou a secretária municipal de Assistência Social, Laura Carneiro. Para a secretária, tragédias como essa ocorrem porque parte da população não têm outra escolha a não ser morar em áreas de risco. "Credito (a tragédia) à pobreza. As pessoas moram em casas como a que desabou não porque querem, mas porque essa é a opção que elas têm".
Segundo amigos da família, Carlos já trabalhava há pelo menos um mês em uma loja. Testemunhas disseram que o homem ainda chegou a gritar por socorro quando estava sob os escombros, mas morreu ainda no local. A filha de quatro anos foi resgatada com vida, sob aplausos de vizinhos e bombeiros. Ela foi levada para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, e permanece em observação. Seu quadro é estável.
Além da criança, Alessandra Silva, de 19 anos, também foi levada para o Salgado Filho e recebeu alta médica ainda durante a madrugada desta quinta-feira (18). A esposa de Carlos e mãe da criança, Alexandra Silva, de 25 anos, segue internada no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, eestá estável.
A família de Carlos morava no primeiro dos três andares do imóvel. No segundo andar vivia um casal de irmãos, que não estava em casa. No terceiro, uma família com uma criança de dois anos. Segundo vizinhos, os moradores da cobertura são os donos do imóvel e alugavam as outras duas residências.
Imóveis do entorno não foram danificados; Civil começa a ouvir depoimentos
Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência Social informou que esteve no local para prestar atendimento. Os moradores que viviam na casa receberam proposta de acolhimento da Prefeitura, mas preferiram ir para casa de parentes. O município vai oferecer Aluguel Social e insumos emergenciais.
A Defesa Civil realizou uma vistoria após o acidente, e constatou que os imóveis vizinhos não sofreram abalo e por isso não foram interditados. Nesta quinta (18), técnicos da Secretaria Municipal de Conservação e funcionários da Comlurb estão no morro para fazer a limpeza do terreno. Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) realizaram perícia. A 19ª DP (Tijuca) abriu inquérito para apurar as causas do acidente e começa a ouvir já nesta quinta os depoimentos dos moradores do imóvel.
Salgueiro é uma das favelas que recebem obras emergenciais para o verão
A Prefeitura do Rio apresentou no início de outubro o Plano Verão 21/22, uma série de ações preventivas para evitar os danos causados pelas chuvas durante do verão. Uma das frentes de trabalho é liderada pela Geo-Rio, vinculada à Secretaria de Infraestrutura. A fundação realiza quatro obras emergenciais em encostas e morros, entre eles o Salgueiro - os outros locais são a Avenida Niemeyer, em São Conrado, e os morros Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, e Mangueira.
Segundo a Geo-Rio, a intervenção pontual no Salgueiro é realizada na encosta do terreno da creche Raízes do Salgueiro, na Rua Junquilhos, localidade diferente de onde ocorreu o desabamento (na Rua Francisco Graça).
Outras 13 intervenções de contenção de encosta e reforço de estruturas foram realizadas em diferentes pontos da cidade, visando o verão. Na Tijuca, os trabalhos foram realizados na Rua São Miguel e no Alto da Boa Vista.
* Colaborou Reginaldo Pimenta
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