Publicado 24/11/2021 12:38 | Atualizado 24/11/2021 12:55
Rio - Na sentença que condenou dois filhos da ex-deputada federal Flordelis, a juíza Nearis Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, anotou que o crime trouxe abalo à sociedade como um todo e teve repercussão internacional. A magistrada afirmou que o assassinato do pastor Anderson, no dia 16 de junho de 2019, "descortinou a fachada de 'família perfeita' que era pregada nas igrejas coordenadas por seus integrantes e que tornou-se conhecida internacionalmente por meio até mesmo de um filme".
Na madrugada desta quarta-feira Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada federal Flordelis, e Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis foram condenados por homicídio triplamente qualificado do pastor Anderson do Carmo.
Lucas Cezar foi acusado de ter sido responsável por adquirir a arma do crime: uma pistola 9 mm Bersa, de procedência argentina. O armamento foi negociado na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, segundo o delegado Allan Duarte, uma das testemunhas de acusação no julgamento desta terça-feira (23). Segundo o investigador, a Bersa foi comprada por R$ 8.500 em notas de cem reais. Lucas era envolvido com tráfico de drogas e foi ajudado na empreitada por um usuário de nome Daniel, de apelido "Gordinho".
A pena de Lucas, inicialmente fixada em 18 anos, foi reduzida a mais da metade por dois motivos. O acusado, que hoje tem 20 anos, era menor de idade na época do crime. Além disso, ele colaborou com a investigação. A condenação ficou em 7 anos e seis meses de prisão em regime inicialmente fechado.
"Considerando o reconhecimento da causa de diminuição correspondente à colaboração premiada, vindo o réu a prestar esclarecimentos ainda na fase inquisitorial, contribuindo na identificação de co-autores/partícipes, torno a reduzi-la em metade", escreveu a juíza na sentença.
Lucas reafirmou que arma foi comprada com Flávio
Durante o interrogatório na noite desta terça-feira, Lucas reafirmou que comprou a arma com Flávio dos Santos Rodrigues, mas disse que não sabia o motivo. Ele disse ainda que sabia dos planos de parte da família para assassinar o pastor. "Ele falou que precisava da arma porque estava tendo problemas com o irmão da ex-mulher", disse Lucas, confirmando que Flávio o pediu para que o ajudasse a comprar uma arma devido ao seu envolvimento com o tráfico de drogas.
O filho biológico de Flordelis, Flávio dos Santos Rodrigues, foi condenado a 33 anos 2 meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado consumado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. Os delegados Allan Duarte e Bárbara Lomba confirmaram durante o Tribunal do Júri que o executor já havia feito curso de tiro.
Flávio confessou ser o autor dos disparos que mataram Anderson do Carmo de Souza. Havia expectativa para o seu depoimento, mas o filho biológico de Flordelis, que passou a ser defendido pela Defensoria Pública no mês passado, permaneceu em silêncio durante o interrogatório.
Segundo a sentença, a motivação de Flávio foi o descontentamento com a forma que o pastor Anderson controlava as finanças e administrava os conflitos existentes na extensa família. Foi considerado agravante para a pena o emprego de meio cruel.
Segundo a sentença, a motivação de Flávio foi o descontentamento com a forma que o pastor Anderson controlava as finanças e administrava os conflitos existentes na extensa família. Foi considerado agravante para a pena o emprego de meio cruel.
Anderson do Carmo foi atingido aos 42 anos por diversos disparos concentrados em regiões vitais como crânio, tórax e abdome, além de área próxima à genitália. Anderson foi atacado durante a noite enquanto estava na garagem vestindo apenas roupa íntima, o que também foi considerado como agravante por dificultar sua autodefesa.
A juíza também destacou que Flávio e Anderson cresceram juntos e que o crime devastou a família da vítima. O pai do pastor Anderson do Carmo, Jorge de Souza, de 81 anos, mencionou ao entrar no Tribunal do Júri que a mãe e a irmã de Anderson morreram durante as investigações.
"O delito se mostra repugnante especialmente diante do vínculo próximo existente entre o réu e a vítima, posto que cresceram juntos desde a adolescência, vindo a vítima, inclusive, a se tornar seu padrasto há anos, primando e dedicando-se às carreiras da genitora do acusado em diversos âmbitos, e contribuindo sobremaneira para o sustento da extensa família por ele integrada", anotou Nearis.
O abalo psicológico a toda a família de Flordelis, inclusive às crianças, também foi ressaltado pela magistrada na sentença.
"Ademais, as consequências do delito foram desastrosas, diante dos inquestionáveis danos psicológicos causados a toda a numerosíssima família, integrada também por menores de idade, na qual ocorreu uma 'quebra', restando esta totalmente desestruturada após a empreitada criminosa, afastando e gerando animosidade entre diversos de seus integrantes, inclusive com a mudança de residência de alguns deles", acrescentou.
Relembre o caso
O pastor Anderson do Carmo marido da então deputada federal e também pastora, Flordelis, foi morto a tiros, na madrugada de 16 de junho de 2019, em casa, no município de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Na ocasião, Flordelis chegou a dizer que ele havia morrido tentando defender a família de criminosos. Entretanto, as investigações apontaram a pastora como a mandante do crime, que teria sido motivado porque Anderson controlava rigorosamente a família.
Por conta da denúncia, no último dia 11 de agosto, a Câmara dos Deputados cassou o mandato de Flordelis por quebra de decoro parlamentar, por ela ter usado seu mandato para coagir testemunhas e ocultar provas do processo. Dois dias depois, ela foi presa e responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. Antes, quando tinha imunidade parlamentar, ela era monitorada por tornozeleira eletrônica.
Dos 55 filhos biológicos e adotivos da pastora, sete estão envolvidos no crime. Adriano dos Santos Rodrigues, André Luiz de Oliveira, Carlos Ubiraci Francisco da Silva, Flávio dos Santos Rodrigues, Lucas Cezar dos Santos de Souza, Marzy Teixeira da Silva e Simone dos Santos Rodrigues estão presos. Além dos filhos, a neta Rayane dos Santos Oliveira, o ex-policial militar Marcos Siqueira Costa e sua esposa, Andrea Santos Maia, também estão presos por participação no caso. Todos eles irão a júri popular.
Por conta da denúncia, no último dia 11 de agosto, a Câmara dos Deputados cassou o mandato de Flordelis por quebra de decoro parlamentar, por ela ter usado seu mandato para coagir testemunhas e ocultar provas do processo. Dois dias depois, ela foi presa e responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. Antes, quando tinha imunidade parlamentar, ela era monitorada por tornozeleira eletrônica.
Dos 55 filhos biológicos e adotivos da pastora, sete estão envolvidos no crime. Adriano dos Santos Rodrigues, André Luiz de Oliveira, Carlos Ubiraci Francisco da Silva, Flávio dos Santos Rodrigues, Lucas Cezar dos Santos de Souza, Marzy Teixeira da Silva e Simone dos Santos Rodrigues estão presos. Além dos filhos, a neta Rayane dos Santos Oliveira, o ex-policial militar Marcos Siqueira Costa e sua esposa, Andrea Santos Maia, também estão presos por participação no caso. Todos eles irão a júri popular.
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