Publicado 19/12/2021 00:00 | Atualizado 19/12/2021 11:58
Rio - Para além de acreditar em ideologias nazistas, os jovens que conversavam sobre discursos de ódio, alvos da Operação Bergon, também se articulavam em treinamentos militares, faziam recrutamentos e conversavam sobre a possibilidade de atos de violência. É o que apontam mensagens obtidas durante as investigações, às quais O DIA teve acesso.
A Bergon, deflagrada na quinta-feira, identificou 31 alvos de três grupos autodenominados neonazistas, que atuavam em sete estados, e foi resultado do trabalho de agentes da Dcav (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima) e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
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A descrição de um grupo de Whatsapp não deixa dúvida: "Movimento Nacional-extremista, baseado na Serra da Mantiqueira. O grupo extremista recruta membros online (...)todos contribuem com pequenos protestos, atos de vandalismo e representações nas redes sociais".
o dia 16 de março, o grupo é nomeado 'Kahat Division, organização terrorista', e veicula a foto de um casal exibindo um quadro de Adolf Hitler, com a cruz suástica no uniforme. Nele, os usuários postam mensagens incentivando a violência contra gays e negros, inclusive afirmando que possuíam munições.
Em outra postagem, um dos usuários mostra as instruções de um processo seletivo para entrar em um grupo neonazista em outro aplicativo. A seleção é na língua germânica e pretendia selecionar neonazistas.
Um outro grupo, intitulado U.N.C, era formado majoritariamente por adultos, mas também contava com menores. Nas conversas, reverenciavam a simbologia nazista, enquanto outros cultuavam o que chamam de nacional-socialismo (inclusive utilizam a nomenclatura NS em seus nomes de usuários). Nazismo e Nacional-Socialismo são termos com o mesmo significado histórico.
Um desses usuários, que foi alvo de busca e apreensão, de apelido Mengele NS, em referência a um carrasco nazista. Ex-militar, ele diz realizar treinamentos militares no Parque do Mendanha, no Rio de Janeiro.
Em suas redes sociais, Mengele NS diz que o treinamento seria uma espécie de escotismo, mas as mensagens de áudio no grupo mostram claramente o real objetivo. "(...) a gente tem treinamento no Mendanha o dia inteiro, todo final de semana, toda sexta-feira a gente tá lá de missão pô, é só tu aparecer pô". Em outra mensagem, ele diz que o treinamento é para realizar "grupos de combate urbano".
Agentes da Dcav e do Ministério Público estiveram no local de treinamento antes e durante a operação. Na casa de Mengele, dentro de uma comunidade da Zona Oeste, foram apreendidas fardas e desenhos nazistas. Mesmo após a operação, ele não retirou as fotos com apologia ao nazismo das suas redes sociais: entre elas, algumas em que aparece vestido com fardas utilizadas por alemães na II Guerra Mundial (1939-1945).
Delegado alerta pais sobre uso da internet
Em coletiva, o delegado Adriano França, titular da Dcav, fez um alerta para os pais acompanharem a utilização dos computadores por menores de idade. “Realizamos 31 mandados de busca e apreensão, entre computadores, celulares. Muitos pais não tinham a menor ideia do que os filhos faziam na internet e foram pegos totalmente de surpresa. Fica o alerta para os pais acompanharem o que os filhos fazem na internet”, disse.
Conforme O DIA já havia revelado em junho, a Bergon teve início a partir do massacre em uma
creche em Santa Catarina. “Depois do atentado os responsáveis tiveram seus celulares apreendidos e eles foram analisados. A partir da análise se chegou a uma pessoa aqui do Rio que representaria uma das células neonazistas. A célula existente no Rio não conversou diretamente com o autor do atentado, havia uma
pessoa interposta”, explicou o promotor Bruno Gaspar.
creche em Santa Catarina. “Depois do atentado os responsáveis tiveram seus celulares apreendidos e eles foram analisados. A partir da análise se chegou a uma pessoa aqui do Rio que representaria uma das células neonazistas. A célula existente no Rio não conversou diretamente com o autor do atentado, havia uma
pessoa interposta”, explicou o promotor Bruno Gaspar.
Segundo a psicóloga sistêmica Maria Fernanda Botafogo, jovens que sofrem com a violência de alguma maneira, seja ela física ou verbal, podem estar mais suscetíveis a se identificar com grupos extremistas.
“Fazer parte de grupos extremistas para eles pode fazer sentido, até mesmo de se sentirem entendidos e conectados como membros. Muito provavelmente eles ainda podem apresentar mais agressividade e intolerância, além uso excessivo da internet”, disse.
“Fazer parte de grupos extremistas para eles pode fazer sentido, até mesmo de se sentirem entendidos e conectados como membros. Muito provavelmente eles ainda podem apresentar mais agressividade e intolerância, além uso excessivo da internet”, disse.
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