Publicado 11/02/2022 20:25
Rio - "Ele usou, mais uma vez, o estratagema de sacrificar jovens pobres, pretos e favelados com armas nas suas mãos para que lhe servisse como escudo e ele conseguisse fugir. É um estratagema covarde que lideranças dessa facção criminosa utilizam, sacrificando essa juventude. Mas, ele será pego em breve".
Assim o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, descreveu o perfil de Chico Bento, que tem o apelido de um personagem de gibi conhecido por ser pacato e caipira e era um dos principais alvos da operação desta sexta-feira, dia 11, na Vila Cruzeiro. Mas, a semelhança com o personagem infantil está somente no nome e na sua aparência física.
Chico Bento do Jacaré, vulgo de Adriano Souza de Freitas, é mencionado em 27 investigações como autor de crimes e possui quatro mandados de prisão pendentes. Sua ficha se estende em crimes como infração sanitária, ato incendiário, tortura, homicídio e tráfico, inclusive, com o envolvimento de crianças.
Em uma das barbáries mais recentes, em 2020, Chico Bento suspeitou que um técnico de instalação de câmeras fosse miliciano e o chamou para realizar um serviço na comunidade. De acordo com investigações da Delegacia de Descobertas de Paradeiros (DDPA), Renato Garcia de Lima, 43, e Leonardo Alcântara Hilario, 30, foram julgados por um tribunal do tráfico, presidido por Chico Bento, e executados. Hilário foi morto apenas porque acompanhava o colega de trabalho.
Em 2021, investigações que culminaram com a operação Exceptis apontaram que Chico Bento recrutava menores, de até 12 anos de idade, para atuarem no tráfico. "A estratégia baseia-se na impunidade, uma vez que os soldados das quadrilhas com menos de 18 anos, escudos para os bandidos mais velhos, estão sujeitos a medidas socioeducativas e não são encarcerados – o que é visto, obviamente, como vantajoso pelos chefes do crime", diz um relatório de investigação.
Contabilidade e festas
Segundo um relatório da Polícia Civil, ao qual O DIA teve acesso, "toda a contabilidade do Jacaré visa prestar contas a Chico Bento, motivo pelo qual seu vulgo não foi encontrado durante análise dos cadernos apreendidos com traficantes".
Em investigação do homicídio do policial da Core, Bruno Buhler, ocorrido em 2017, no Jacarezinho, um dos traficantes presos disse que retornou ao tráfico após anos de prisão, ao ser convidado por Chico Bento. Ele não conseguia emprego, segundo relatou em depoimento à polícia.
Moradores costumam, com frequência, realizar denúncias sobre o paradeiro do traficante. O programa Procurados oferece R$ 1.600 por informações que o levem à prisão. Em uma denúncia de março deste ano, um morador relatou: "Na localidade conhecida como Pontilhão, encontram-se diversos traficantes, da facção Comando Vermelho portando fuzis, pistolas, e comercializando entorpecentes. (O denunciante) relata que o acesso ao local possui barricadas de concreto. Fred e Chico Bento costumam ficar no local".
Em outras denúncias, moradores reclamam das festas promovidas pelos bandidos. "(...) no local os traficantes participam do evento portando fuzis e pistolas. No dia 16 de fevereiro de 2021, eles fizeram um baile de carnaval que foi até às 10h da manhã". Outra denúncia, diz: "(...)eles ficam armados com fuzis e pistolas, escutando som altíssimo".
O bandido, que possui formação universitária em Contabilidade e se identifica como comerciante, chegou a ser preso em abril de 2016, por policiais do Batalhão de Choque, em operação na comunidade do Jacarezinho. Mas, após ganhar o benefício do regime semiaberto, saiu do Instituto Penal Edgard Costa, em março de 2018, e ficou evadido do sistema. Denúncias informaram que ele poderia ter fugido para a Mangueira, após o cerco policial desta quarta-feira.
Após a instalação do Cidade Integrada, agentes da DRF (Delegacia de Roubos e Furtos) encontraram sua residência: uma construção moderna, imponente, no centro do Jacarezinho, construída com o dinheiro do crime ao lado de casas humildes.
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