Ligação de tubulação de gás chamada de 'raquete', circulada em amarelo na imagem, estava aberta durante serviço de caldeireiro que morreu em equipamento da ReducReprodução/ Agência O DIA
Publicado 23/02/2022 13:04
Rio - Imagens realizadas por testemunhas mostram o momento do resgate do caldeireiro José Arnaldo de Amorim, 50, morto enquanto trabalhava dentro de um equipamento da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) no último sábado. O vídeo indica que uma estrutura chamada 'raquete' estava aberta, possibilitando a entrada de gás sulfeto de hidrogênio (H2S) no local.
O equipamento que José prestava um serviço de manutenção é parecido com uma caixa d'água e deve ser vistoriado antes de ser operado para que seja certificada a inexistência de gases tóxicos. Para o filho da vítima, Jhonatan Amorim, 27, que também é caldeireiro na Reduc, a válvula de gás foi aberta para a realização de um teste e deveria ter sido fechada para o serviço de manutenção que seu pai prestava, o que não aconteceu. 
O presidente do Sitcomm, sindicato que representa os trabalhadores terceirizados da Reduc, Josimar Campos de Souza, o Mazinho, também aponta que a porta denominada 'raquete', que liga o equipamento à tubulação de gás, estava aberta. "Deveria estar fechada, foi por ali que o gás entrou e matou o José Arnaldo", alerta. A Petrobras não retornou à reportagem sobre a imagem. O espaço está aberto para manifestação.
As imagens também mostram que os brigadistas tiveram dificuldade de resgatar o corpo do caldeireiro. O socorro demorou entre 20 e 30 minutos para chegar, e a ação, mais de uma hora, segundo o filho da vítima.

O caldeireiro trabalhava para a empresa terceirizada C3 Engenharia e faleceu por volta das 18h30 de sábado durante atividade de manutenção. 

O filho da vítima, Jhonatan Amorim, levanta suspeita se o procedimento para o trabalho de manutenção foi cumprido corretamente e pede justiça. O jovem conta que inicialmente no IML a causa da morte estava como "Engasgamento", o que foi contestado e foi aberta nova perícia. A causa de morte então passou a constar como "em aberto".

Nesta segunda-feira a refinaria enviou um alerta para os trabalhadores terceirizados sobre o acidente fatal. No documento, a Petrobras afirma apenas que o caldeireiro contratado desmaiou durante atividade de manutenção no interior de equipamento (vaso de sucção de compressor) da unidade, sendo resgatado e removido por ambulância para hospital, onde foi constatado o óbito.
Refinaria da Petrobras divulga alerta sobre acidente fatal na ReducReprodução/ Agência O DIA


O alerta lembra os cuidados que os trabalhadores devem ter para entrar no equipamento. Para que a manutenção seja realizada, são necessárias vistorias que garantam a segurança do trabalhador.

O presidente do Sitcomm diz que após a morte, o sindicato fez uma denúncia ao Ministério do Trabalho e Emprego para verificar as condições de segurança e reivindica acompanhar a vistoria.
"A gente já vinha denunciando as áreas de vivências dos trabalhadores, que estão com vasos entupidos, falta d’água. Com a morte do Arnaldo a gente teve que chamar o Ministério de Trabalho", diz Mazinho. "A refinaria está sucateada", denuncia um trabalhador terceirizado que terá sua identidade preservada.
Em nota, a Petrobras afirmou que não procede a informação de que as instalações da Reduc utilizadas por funcionários de empresas contratadas estejam precarizadas. "A Petrobras verifica constantemente, através de auditorias diárias, as condições de segurança e higiene nos locais de trabalho e vivência da refinaria, e eventuais reparos são realizados sempre que necessário", diz o texto.
Imagens, no entanto, mostram instalações usadas por terceirizados da refinaria cercadas de áreas alagadas.
Entorno de instalações utilizadas por terceirizados na Reduc, em Caxias, tem área inundadaReprodução/ O DIA


A Petrobras lamentou a morte e informou que o trabalhador recebeu atendimento médico imediatamente no local, e foi levado para atendimento externo, mas, não resistiu.

"A Petrobras está em contato com a empresa C3, para prestar todo apoio à família do colaborador neste momento difícil. A companhia acompanhará o caso junto a empresa contratada e formou uma comissão para investigação que permita esclarecer as circunstâncias da ocorrência. As autoridades competentes foram comunicadas", diz em nota.

Em nota divulgada, a C3 Engenharia lamentou o "infeliz acidente". A empresa afirma que instaurou procedimento administrativo interno para buscar e ajudar a Petrobras no esclarecimento da morte. Segundo a C3, será necessária a análise técnica e médica para apurar a causa do acidente de trabalho. "Em respeito à família e amigos, a empresa não comentará sobre o assunto até a sua devida apuração", diz o texto.

O caso é conduzido pela 60ª DP (Campos Elíseos). Segundo testemunhas, policiais realizaram perícia nesta terça-feira. De acordo com a 60ª DP (Campos Elíseos), funcionários foram ouvidos e a perícia foi realizada no local. As investigações seguem em andamento.
O corpo de José Arnaldo de Amorim foi enterrado na segunda-feira no Cemitério Memorial do Rio, na Rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias.
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