Corpo de José Arnaldo de Amorim, 50, morto durante um serviço de manutenção prestado à Refinaria Duque de Caxias, a Reduc, da Petrobras é enterrado em CaxiasFabio Costa/ Agência O DIA

Rio - Foi enterrado na tarde desta segunda-feira o corpo de José Arnaldo de Amorim, 50, morto durante um serviço de manutenção prestado à Refinaria Duque de Caxias, a Reduc, da Petrobras no último sábado. O velório, no Cemitério Memorial do Rio, na Rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias, reuniu familiares, amigos, colegas e lideranças sindicais.
O caldeireiro José Arnaldo de Amorim, 50, morreu durante um serviço de manutenção prestado à Refinaria Duque de Caxias, a Reduc, da Petrobras. Foi o filho Jhonatan Amorim, de 27 anos, que seguiu os passos do pai e também trabalha na refinaria como caldeireiro, que constatou a morte. Ao saber de um acidente com um trabalhador no último sábado (19), ele foi correndo ao local e identificou que a vítima era seu pai.
José Arnaldo trabalhava para a empresa C3 Engenharia e faleceu por volta das 18h30 durante atividade de manutenção no interior de um equipamento na Refinaria Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Os colegas e familiares acreditam que José tenha inalado um gás letal, o sulfeto de hidrogênio (H2S).
Jhonatan denuncia demora no socorro do pai. "O resgate demorou mais de 50 minutos. Me avisaram de que um trabalhador havia se acidentado e, como sou funcionário, entrei na empresa e constatei que era meu pai", conta. O caldeireiro questiona se o procedimento para o trabalho de manutenção foi cumprido e pede justiça. O filho conta que no IML a causa da morte estava como "Engasgamento", o que foi contestado e foi aberta nova perícia. A causa de morte então passou a constar como "em aberto".
"Chamaram ele para fazer um serviço. Chegando lá, para iniciar qualquer tipo de serviço, tem um documento que o operador da Petrobras assina chamado 'PT', permissão de trabalho, atestando que as condições estão seguras. O operador liberou e assinou", relata. Na sequência, a empresa terceirizada também faz uma medição dos gases na estrutura, o que foi feito e aprovado. "Possivelmente, o aparelho da empresa estava danificado. Mas, como a Petrobras não apontou problemas, a empresa não desconfiou", avalia.
O equipamento em que José Arnaldo trabalhava no sábado era o vaso 7, um vaso de sucção, em espaço confinado. O equipamento é parecido com uma caixa d'água e deve ser verificado a inexistência de gases tóxicos antes de ser operado. Jhonatan conta que depois que José entrou na caldeira desacordou rapidamente: "Foi questão de segundos".
O presidente do Sindicato Caxias, que representa os petroleiros da base da Reduc, contesta a versão de que José Arnaldo foi resgatado com vida. Luciano Santos pede a suspensão dos trabalhos de manutenção na refinaria até que a segurança esteja garantida para os trabalhadores.
"O companheiro caiu e ficou mais de 40 minutos dentro do vaso. Ele foi resgatado sem vida. Há documentos. Foi feita autópsia que apontou o horário da causa da morte às 17h25. A empresa retirou o corpo 18h e fala que ele ainda estava com vida dentro da refinaria, o que não é verdade. Isso é um fato gravíssimo porque quem tem o direito de tirar o corpo de um trabalhador morto é a perícia policial", afirma.
O sindicato reforçou que quer participar das investigações. "Vários acidentes vêm ocorrendo nas paradas de manutenção. Estamos pedindo a suspensão imediata enquanto a gerência não garantir a segurança da base", completa.
A Petrobras lamentou a morte e informou que o trabalhador recebeu atendimento médico imediatamente no local, e foi levado para atendimento externo, mas, não resistiu.

"A Petrobras está em contato com a empresa C3, para prestar todo apoio à família do colaborador neste momento difícil. A companhia acompanhará o caso junto a empresa contratada e formou uma comissão para investigação que permita esclarecer as circunstâncias da ocorrência. As autoridades competentes foram comunicadas", diz em nota.
O Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias (Sindipetro Caxias) divulgou nota em que cobra mais segurança para os trabalhadores. "Infelizmente a história se repete na REDUC. Em 2008, tivemos na U-2800, um acidente em espaço confinado que quase levou um trabalhador a morte. O sindicato vem advertindo a empresa sobre a falta de treinamento e recursos necessários para os trabalhadores e as trabalhadoras desenvolverem suas atividades de manutenção com segurança", diz o texto.
Em nota divulgada, a C3 Engenharia lamentou o "infeliz acidente". A empresa afirma que instaurou procedimento administrativo interno para buscar e ajudar a Petrobras no esclarecimento da morte. Segundo a C3, será necessária a análise técnica e médica para apurar a causa do acidente de trabalho. "Em respeito à família e amigos, a empresa não comentará sobre o assunto até a sua devida apuração", diz o texto.

A Direção do Sindipetro Caxias pede a suspensão de todos os serviços da parada de manutenção e que o sindicato seja convocado para averiguação das condições em que o acidente ocorreu.
O caso foi registrado na 59ª DP (Duque de Caxias) e será encaminhado para 60ª DP (Campos Elíseos), que prosseguirá com as investigações.
Manifestação fechou BR-040
Cerca de 60 pessoas fizeram uma manifestação na manhã desta segunda-feira (21) no km 113 da Rodovia BR-040, em Duque de Caxias, pela morte do funcionário. A via ficou totalmente interditada, mas às 9h30 já estava liberada. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Terceirizados da Reduc, Josimar Campos de Souza, o Mazinho, conta que negociou com a empresa a liberação dos funcionários nesta segunda-feira, o que foi negado, mas em solidariedade à vítima, os colegas participaram do protesto. José Arnaldo havia completado 50 anos na última quarta-feira. Deixa esposa e três filhos.
*Com Reginaldo Pimenta e Fabio Costa