Publicado 27/03/2022 15:06
Rio - Dois dias após a morte do farmacêutico Carlos Alexandre Rezende, de 40 anos, na Praça Carlos Paolera, no bairro da Tijuca, Zona Norte da cidade, a equipe do DIA foi ao local do crime neste domingo (27) para checar o policiamento na região. Ao chegar na Rua São Francisco Xavier, onde a vítima levou um tiro na cabeça durante um assalto, não havia nenhum carro de polícia estacionado ou fazendo ronda nas proximidades. No chão, há resquícios de sangue e marcas da perícia feita por agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Moradores e comerciantes do bairro relataram à reportagem viverem sob medo constante.
Robson Santos, de 44 anos, balconista em uma farmácia próxima de onde Carlos foi morto, disse que a onda de violência na Tijuca virou "uma coisa corriqueira". Ele afirma que, constantemente, fica sabendo de crimes que aconteceram perto do seu local de trabalho.
"É praticamente todo dia. É de manhã, de tarde, de noite. Infelizmente parece que a violência está chegando num patamar totalmente descontrolado. Por mais que botem mais polícia na rua, a gente não se sente seguro. Enquanto eles estão ali, tá tudo bem, mas quando eles vão embora parece que o bicho pega. Está de uma tal maneira, que a gente não consegue mais ter vontade de sair de casa", desabafou.
Robson relatou que há poucos dias presenciou um assalto a uma sorveteria na Rua Uruguai, um dos pontos mais movimentados da região. "Dois homens pararam com uma motocicleta na frente da loja e pegaram o dinheiro do caixa. Eles não levaram nem cinco minutos para roubar um lugar que demora um tempão para conseguir um capital".
Já Matheus Costa Rodrigues, de 23 anos, que mora na Rua General Espírito Santo Cardoso, alegou que, desde janeiro deste ano, há diversos assaltos, principalmente de automóveis, próximo à sua casa.
"Isso acontece há um tempo já e não é só na Grande Tijuca. Aqui o que está intimidando demais os moradores é a frieza dos assaltantes. Geralmente a vítima se rendia, entregava os pertences e os bandidos iam embora, né? Agora não, eles atiram em você para matar".
O jovem também enfatizou que tem percebido que os crimes acontecem a qualquer hora do dia. "O que surpreende a gente é que essas coisas acontecem não só de noite mais. As ruas aqui têm ficado vazias durante a semana. Quando as pessoas veem uma moto, por exemplo, elas já se assustam. De dois meses pra cá a Tijuca tem aparecido direto na televisão, isso está demais".
O ambulante Edmilson Vieira, de 56 anos, que trabalha no bairro há 23 anos, na Rua Adolfo Mota, disse que este é o pior momento da Tijuca. "Eu vendo acessórios para celular aqui já tem um certo tempo, então sempre acompanhei o que acontece, mesmo que de longe. Nunca vi tantas notícias ruins como estou vendo agora. Eu vinha trabalhar normalmente, hoje eu já ando todo desconfiado. Isso é vida?", questiona.
Ao finalizar, ele faz um pedido às autoridades: "Façam alguma coisa por nós. Não só pela Tijuca, mas também nas adjacências. Tá muito complicado, é cada dia pior. A gente só quer viver tranquilamente, não pedimos muito".
Outros casos
Neste sábado (26), dois criminosos foram presos no momento em que assaltavam pedestres na Rua Uruguai. De acordo com a PM, uma equipe da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Andaraí passava pelo local quando viu os criminosos agindo. Durante uma tentativa de abordagem, os agentes foram atacados a tiros pela dupla e houve confronto.
Na ação, um suspeito foi atingido e socorrido ao Hospital Federal do Andaraí. Seu estado de saúde não foi divulgado. O segundo criminoso foi detido. Nenhum policial ficou ferido. Uma pistola foi apreendida, e a moto que os bandidos estavam, que era roubada, foi recuperada. A foi encaminhada para a 20ª DP (Vila Isabel).
No dia 11 deste mês, o engenheiro Gabriel Barbosa Leite, de 33 anos, morreu após ser esfaqueado na Rua Conde de Bonfim, próximo da Rua Alzira Brandão. Imagens de segurança obtidas por investigadores da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) mostraram o momento do ataque.
No vídeo, é possível ver a vítima sendo perseguida e logo é atingida com golpes de faca, primeiro pelas costas. Em seguida, Gabriel cai no chão e o agressor o golpeia várias vezes.
Quase uma semana após o crime, agentes da DHC conseguiram localizar e prender o assassino. De acordo com as investigações, ele é morador da comunidade do Salgueiro.
O DIA procurou a Polícia Militar para comentar sobre os casos de violência no bairro. Em nota, a corporação disse que o 6ºBPM trabalha pelas ruas da Tijuca para prevenir e coibir "quaisquer práticas criminosas, com rondas e ações de abordagem".
Levantamento aponta que a violência aumentou na Zona Norte
Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), os crimes na Zona Norte aumentaram em janeiro deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Os registros e ocorrências dos crimes (todos) em delegacias, mostram que os números têm disparado. Em janeiro do ano passado, foram registrados 1.471 crimes em unidades policiais da região. Já este ano, o número subiu para 1.819, o que representa um aumento de 23,7%.
Em 2021, houve 276 roubos registrados nas áreas da Tijuca, e outros bairros, como Maracanã, Praça da Bandeira, Vila Isabel. Já em janeiro deste ano, o número subiu para 283. O que significa uma variação de 7 a 2,5%.
O crime de lesão corporal dolosa (quando há a intenção de machucar), também aumentou na região. Em janeiro de 2021, houve o registro de 60 casos. Já neste ano, o número subiu para 72. O que significa um aumento de 12 casos, ou 20%.
Os dados apontam também que outro crime que cresceu na Zona Norte foi o furto a pedestres. Em 2021 o total foi de 34, já este ano, o número chega a 40. O que representa um aumento de 6 casos em relação ao ano passado.
Furto de celular foi o crime que mais aumentou, de acordo com o ISP. Em 2021 foram registrados 25 furtos. Em janeiro deste ano, o número mais do que triplicou, agora ele chega a 84. O que significa um aumento de 59 furtos em relação ao ano anterior, ou 236%.
Confira a nota da PM na íntegra:
De acordo com estatísticas divulgadas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), na área de policiamento do 6ºBPM, houve redução no indicador estratégico de roubo de veículo quando comparados os meses de janeiro-fevereiro de 2022 e janeiro-fevereiro de 2021.
O batalhão também segue trabalhando em conjunto com as delegacias da área. A Polícia Militar ressalta que é de suma importância que a população colabore realizando denúncias através do Disque-Denúncia (21) 2253-1177 ou, para casos urgentes, através da nossa Central 190.
O batalhão também segue trabalhando em conjunto com as delegacias da área. A Polícia Militar ressalta que é de suma importância que a população colabore realizando denúncias através do Disque-Denúncia (21) 2253-1177 ou, para casos urgentes, através da nossa Central 190.
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