Publicado 08/05/2022 12:42
Rio - "Ele era inocente, não fazia mal para ninguém", desabafou Bianca Limão, que neste domingo de Dia das Mães está enterrando seu filho no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Portuária do Rio. Ruan Limão do Nascimento, que tinha deficiência intelectual, foi morto com um tiro nas costas por PMs à paisana na Barreira do Vasco, em São Cristóvão, na última sexta-feira. Durante o velório, a mãe do jovem clamava por Justiça. fotogaleria
"A versão que me falaram é que ele estava na fila do salão aguardando a vez dele pra cortar o cabelo. Depois, a polícia entrou, deu um tiro nas costas dele e botou ele no porta-malas, como se meu filho fosse um bicho. Meu filho estava vivo, meu filho é inocente, não fazia mal pra ninguém, era querido, tranquilo. Ele tinha as doideiras dele do Vasco, mas não fazia mal pra ninguém", disse Bianca, que relembrou os últimos momentos com o filho:
"Ele tinha muitos amigos, era querido por todos. Vascaíno doente, ninguém podia falar mal do time dele. Nos últimos momentos antes de tudo acontecer, ele tinha dito assim: 'Amanhã tenho que ir no salão pra cortar o cabelo pra ficar bonito pro teu dia, o Dia das Mães'. Perguntei pra ele o que ele iria me dar [de presente] e ele respondeu: 'Eu'".
Com uma camisa estampada com as fotos dos quatro filhos e dois netos, e com os dizeres 'Feliz Dia das Mãevó', a mãe de Ruan disse que espera que os envolvidos no caso sejam responsabilizados pelo crime. Segundo ela, nenhum dinheiro vai apagar a dor que está sentindo, tampouco trazê-lo de volta.
"Espero que façam um bom trabalho e que coloquem os verdadeiros culpados atrás das grades. É isso que eu quero, todos eles presos. Não quero dinheiro, não quero fama, nada. Sou uma pessoa humilde, mas nessa parte eu tenho certeza que dinheiro nenhum vai pagar a vida do meu filho, não vai me trazer de volta. Não quero um cala boca, eu quero a justiça seja feita", pediu.
O irmão do jovem, Renan Limão, voltou a afirmar que foram os PMs à paisana que chegaram à comunidade com fuzis em um carro vermelho e descaracterizado, que atiraram em Ruan.
"Não teve operação no dia que mataram meu irmão, mas teve ontem pra falar que lá tem isso, tem aquilo [violência]. Foi um negócio muito rápido, acertaram meu irmão pelas costas, logo depois colocaram ele dentro do porta-malas. Foi tão rápido que ninguém conseguiu filmar. A única informação que tínhamos é que um carro vermelho passou e mataram meu irmão. A polícia não deu informação nenhuma, ninguém sabia de nada. A gente que deduziu que ele estaria no Souza Aguiar", disse.
Dezenas de amigos e familiares se reuniram para a última despedida do jovem. Eles seguravam faixas em homenagem a Ruan, que diziam: "Justiça para Ruan do Nascimento". Um dos primos de Ruan chegou a colocar sobre o caixão uma camisa da Barreira do Vasco, a Vasbarreira.
Versão da PM
Em nota, a Polícia Militar confirmou que agentes do serviço reservado do 4ºBPM (São Cristóvão) estavam na comunidade. A corporação disse que os policiais disseram que foram ao local verificar a comercialização ilegal de cobre na localidade do Café, próximo da comunidade Barreira do Vasco, onde aconteceu um confronto armado durante a checagem.
"Após cessar fogo, houve apreensão de uma granada, um rádio comunicador e 240 papelotes de crack. Um homem ferido foi encontrado e socorrido ao Hospital Municipal Souza Aguiar. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) foi acionada pelo Comando da Corporação para o caso e ouviu os policiais militares envolvidos na ocorrência. Um procedimento apuratório interno está instaurado".
"Após cessar fogo, houve apreensão de uma granada, um rádio comunicador e 240 papelotes de crack. Um homem ferido foi encontrado e socorrido ao Hospital Municipal Souza Aguiar. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) foi acionada pelo Comando da Corporação para o caso e ouviu os policiais militares envolvidos na ocorrência. Um procedimento apuratório interno está instaurado".
A ocorrência foi encaminhada para a 17ª DP (São Cristóvão) e depois para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
A Polícia Civil disse, em nota, os policiais militares foram ouvidos e tiveram as armas recolhidas para perícia. Diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos.
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