Publicado 31/05/2022 17:52
Rio - O aumento da taxa de positividade para covid-19 somado ao aumento do atendimento de pacientes com síndrome respiratória grave (SRAG), informado pela Secretaria Estadual do Rio (SES), acendeu um alerta para uma possível nova onda da doença para as próximas semanas. Segundo dados do 2º Panorama da Covid-19, divulgado na sexta-feira (27), a variação ocorreu em todo o estado, mas o cenário ainda é considerado de estabilidade.
Mesmo assim, algumas prefeituras começaram a intensificar medidas de proteção, como no caso de Campos dos Goytacazes, que passou a recomendar a volta do uso de máscaras nas escolas da rede municipal de ensino desde a segunda-feira (30). Além disso, a Prefeitura do Rio também começou a aplicar a dose de reforço em adolescentes de 12 a 17 anos, após recomendação do Ministério da Saúde. No caso da capital, a positividade é de 15%, mas o mês de maio começou com 8%, subiu para 10% na semana seguinte e passou para 14% na outra.
Diante das dúvidas e receios da população, principalmente nesta época do ano em que os meses são mais frios, O DIA conversou com infectologistas para analisar o atual cenário e quais medidas deverão ser retomadas, ou intensificadas. O infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, destaca que, periodicamente, já passamos por algumas ondas da covid-19 e aprendemos que tanto a vacinação quanto a infecção natural promovem uma imunidade de quatro a seis meses, um período considerado não muito longo.
"Após a última onda da ômicron que nós tivemos no mês de janeiro, é esperado que a partir de maio e junho comecemos a acumular suscetíveis casos de vacinados que perderam essa proteção, junto daqueles que não se vacinaram adequadamente. Por isso há essa possibilidade de aumentar a taxa de transmissão", explica.
Kfouri observa que a tendência é que essas ondas continuem acontecendo de forma periódica e de magnitudes, em geral, cada vez menores, tendendo a menor gravidade em função dos vacinados. "Neste momento é importante reforçar outras medidas de proteção. Primeiro, estar adequadamente vacinado é a grande forma de se proteger das formas graves da doença, digo adequadamente vacinado com as três doses. Também é indicado reforçar as medidas que já sabemos que funcionam muito bem, como o distanciamento e a máscara, especialmente para aqueles de maior vulnerabilidade, como idosos e imunossuprimidos", alerta.
O especialista em imunologia João Marcello Branco também analisou a propagação do vírus da covid-19 neste momento e reforçou, assim como Kfouri, a importância de manter algumas medidas restritivas, mas descartou o lockdown.
"O que tem acontecido é que a difusão do vírus está sendo menor quando realmente vemos uma imunidade humoral, que chamamos de rebanho, se proliferando mais pela sociedade, criando uma barreira como se fosse natural", disse, reforçando as orientações para o distanciamento social, aglomeração e a atenção com as questões sanitárias de higiene.
Outono e inverno favorecem aumento de doenças respiratórias
É normal que neste período do ano, onde as temperaturas são mais baixas, os pacientes fiquem em dúvida se estão com virose ou covid-19. O infectologista Renato reconhece que, de fato, não é fácil distinguir um quadro de covid-19 de outras doenças respiratórias. "O outono e a chegada do inverno traz uma sobrecarga para esses tipos de doenças, tendo assim uma sobrecarga no sistema de saúde, pois já é uma época propícia para isso", diz.
O médico infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski, reforça que esta época do ano, em que os meses são mais frios, os vírus respiratórios se mantêm viáveis por mais tempo. "Sem dúvidas os meses mais frios do ano são mais propícios para que as pessoas fiquem em ambientes fechados. Se você tem uma superfície que foi contaminada pelo vírus respiratório, por exemplo o influenza, e esse vírus está exposto ao sol ou luz direta, esse vírus rapidamente fica inviável. Mas em ambientes fechados e climatizados, uma pessoas pode espirrar, contaminar uma superfície e uma outra pessoa pode ter contato e se contaminar também".
Edimilson também recomenda o uso da máscara, de preferência a N-95, distanciamento social e a manutenção da higiene das mãos. "Vamos conviver com essa infecção e a tendência é que esse vírus, ao passar das suas replicações, fique mais enfraquecido", diz.
Tendência de aumento de casos em todo o Brasil
De acordo com o boletim mais atualizado da Fiocruz, o Boletim InfoGripe, publicado na quinta-feira (27), foi analisada a tendência de aumento dos casos de Covid-19 em todas as regiões do país. Cerca de 48% das ocorrências de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) registradas nas últimas quatro semanas são em função da Covid-19. Em relação aos óbitos por SRAG, 84% das notificações foram relacionadas ao Sars-CoV-2 (Covid-19). A análise é referente à Semana Epidemiológica (SE) 20, período de 15 a 21 de maio.
Coordenador do InfoGripe, o pesquisador Marcelo Gomes ressaltou que os dados atuais indicam a permanência da associação dessa tendência de crescimento de SRAG com o aumento de casos de covid-19. "Essa propensão vem sendo observada desde a Semana Epidemiológica 17 (de 24 a 30 de abril). A estimativa é de 6,0 [5,3 – 6,9] mil casos de SRAG na SE 20".
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