Publicado 08/06/2022 12:16 | Atualizado 08/06/2022 15:14
Rio - Uma rede de solidariedade na vizinhança do Hospital São Lucas, em Copacabana, ofereceu apoio aos pacientes que precisaram ser evacuados da unidade na manhã desta quarta-feira (8). Um incêndio atingiu a rouparia do prédio anexo da unidade. Os bombeiros foram acionados às 9h16. O incêndio já estava controlado às 10h da manhã. Não há registro de vítimas.
O Hospital São Lucas informou que por volta das 9h10 a rouparia, que funciona em um prédio anexo, teve um princípio de incêndio, em premissa, iniciado em um gerador de energia. Às 10h, os pacientes que foram evacuados começaram a retornar para o interior do hospital. As causas e os impactos na operação estão sendo investigados.
Dois prédios e uma escola na Rua Pompeu Loureiro servem de apoio para os pacientes. Às 13h50, ainda há trânsito de ambulância que busca pacientes na unidade de ensino Barilan. Dezenas de pessoas, entre profissionais de saúde e voluntários, fazem um cordão humano para isolar a área e facilitar a passagem das ambulâncias. Segundo relatos no local, um paciente precisou ser reanimado no pátio da escola.
O edifício Brazópolis, na Rua Pompeu Loureiro, foi um dos que abrigou os pacientes do Hospital São Lucas. A aposentada Jô Collart, de 70 anos, é esposa do subsíndico Luiz Carlos Collart. Ela mora no 3º andar e disse que por volta das 8h30 sentiu um forte cheiro de fumaça. Ao chegar à janela, viu centenas de pessoas na rua e percebeu o trânsito de médicos e pacientes.
"Na hora, entendi que era um incêndio no São Lucas. Desci e avisei ao nosso porteiro para abrir os portões e disponibilizar o prédio para abrigar quem precisasse", contou Jô. Ela não tem o número exato de quantas pessoas foram acolhidas, mas acredita terem sido mais de 20 pacientes. "Estavam todos muito nervosos, mas graças a Deus, ninguém ferido."
Os moradores do prédio também fizeram uma força-tarefa para ajudar. "Eu trouxe água e cadeira, teve gente que trouxe café, bancos. Ficamos do lado deles, demos as mãos, apoiamos no que deu. Nessa hora, o que conta é a solidariedade", disse emocionada.
Elizabeth Gomes, de 76 anos, foi uma das que foi acomodada na portaria. Internada há 5 meses, ela ingressou na unidade para operar a coluna, mas sofreu uma infecção bacteriana que adiou sua alta. A cuidadora Patrícia Araújo, de 43 anos, contou que carregou a idosa nos braços após o incêndio.
"Ouvi gritarem que era um incêndio. Perguntei a uma pessoa o que deveria fazer e ela me disse para esperar a maca. Como não sabia a proporção do negócio, decidi descer com ela nos braços", contou a cuidadora. Segundo ela, há mais de 10 dias o hospital vinha apresentando queda de luz. "De uns tempos pra cá, começou a haver queda de energia a toda hora", comentou Patrícia.
O Condomínio Maria Quitéria, outro prédio ao lado do Hospital São Lucas, também abriu as portas para receber os pacientes. De acordo com Sérgio Werneck, administrador do condomínio, cerca de 150 pessoas foram acomodadas no local.
"Cheguei às 8h para trabalhar e estava tudo tranquilo. Por volta das 8h40, percebemos a movimentação na rua. Assim que soubemos que se tratava de um incêndio no hospital aqui ao lado, tivemos a ideia de abrir o portão para receber as pessoas. Veio muita gente. Entre pacientes, familiares e funcionários, acredito que recebemos em torno de 150 pessoas. Muita gente nervosa, claro, mas não vi nenhum paciente com gravidade. Só uma senhora que, por volta das 10h30, passou mal aqui e prontamente foi transferida de ambulância para outro hospital", relatou Werneck.
A jornalista Beatriz Lessa, de 23 anos, mora no prédio e soube do incêndio quando deixava o edifício para ir visitar a avó, por volta de 9h20. Ela encontrou uma vizinha chegando no condomínio em uma cadeira de rodas. "Ela avisou que teve um incêndio no hospital e que estavam precisando de ajuda", contou. A jovem afirmou que junto a outros moradores resolveu oferecer apoio aos pacientes. O prédio Maria Quitéria acomodou as pessoas na portaria, no salão de festas e na garagem.
"Eu e meus vizinhos fomos ver se os pacientes precisavam de ajuda. Levamos água a eles e aos acompanhantes, ajudamos a servi-los, moradores carregaram cadeiras e ajudaram a transportar as macas", relatou.
"Eu e meus vizinhos fomos ver se os pacientes precisavam de ajuda. Levamos água a eles e aos acompanhantes, ajudamos a servi-los, moradores carregaram cadeiras e ajudaram a transportar as macas", relatou.
O operador de produção Leonardo Ambrósio, de 40 anos, foi levado para o prédio de Beatriz. Ele passou por uma cirurgia na lombar na terça-feira (7). Na manhã desta quarta-feira, estava no quarto, no 6º andar, esperando para fazer uma tomografia computadorizada quando começou a confusão. "Minha esposa sentiu cheiro de fumaça e viu pela janela que já havia gente na rua. Foi um susto. Estou morrendo de dor, mas não tive opção. Saí andando devagarzinho. Desci os seis andares de escada. Olha, que aventura nada agradável", contou o homem. Ele disse ainda que percebeu, por várias vezes, queda de luz no hospital. "Ontem, acho que aconteceu por umas três ou quatro vezes. Piscava e voltava. Hoje, pouco antes da confusão, deu nova queda de energia. A luz foi, voltou e piscou umas duas vezes, de novo. Hoje, com esse susto, fiquei pensando se não foi algum curto-circuito", comentou. Minutos depois, veio uma boa notícia para ele: soube que havia conseguido uma transferência para o Hospital Glória D'or. "Que bom. Já não aguentava mais de tanta dor", disse ao se despedir da equipe de reportagem.
Uma escola vizinha ao hospital precisou ser evacuada. A dona da "Caminhando", que fica bem ao lado da unidade, disse que ouviu explosões durante o incêndio. "Ouvimos o barulho de duas explosões fortes. Em seguida, o pessoal do hospital começou a ir para a rua. Logo em seguida, bombeiros vieram aqui e pediram para evacuar a escola. Avisamos aos pais das quatro crianças que estavam aqui e avisamos às outras famílias para não virem", disse.
A fisioterapeuta Liliane Glória Bessa saiu correndo do hospital quando percebeu que havia um incêndio na unidade. Ela cursa uma pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar no São Lucas. A profissional participou do socorro a pacientes no incêndio que atingiu o hospital Badin, da Rede D'or, em setembro de 2019. "Naquele dia, não estava de plantão, mas assim como vários funcionários, fui chamada para reforçar as equipes de atendimento. Hoje, estava no CTI do subsolo. Logo, subi e saí do hospital. Não vi fumaça e nem fogo, apenas muita correria", afirmou.
A produtora de eventos Eliana Garcia, de 65 anos, estava no hospital acompanhando a mãe, Ricarda Garcia, de 94 anos, que sofreu um AVC há 15 dias e precisou ser internada: "Dormi aqui. Estava esperando a cuidadora chegar para me render, quando aconteceu toda essa movimentação. Os pacientes que estão bem e conseguem andar foram orientados a descer e sair do hospital. Minha mãe, que está acamada, foi para área aberta no andar em que está internada", explicou Eliana. Segundo a produtora, médicos já ligaram por duas vezes para tranquilizar sobre a situação. "Eles são ótimos aqui nesse hospital. São super humanos e atenciosos. Tomara que tudo fique bem", declarou.
O Subprefeito da Zona Sul, Flávio Valle, acompanhou no local os trabalhos dos bombeiros e das equipes do hospital. Valle informou que os andares 9º, 8º, 7º, 6º e 5º não foram atingidos e foram preservados. A fumaça concentrou-se no térreo e na área externa, não afetando os andares superiores.
A Rede D' Or enviou ambulâncias de pelo menos quatro unidades para ajudar no atendimento e na remoção de pacientes. Foram deslocados socorros do Copa D'or, Copa Star, Quinta D'or e Niterói D'or.
O São Lucas na Travessa Frederico Pamplona, 32. O Centro de Operações da Prefeitura do Rio interditou a Rua Pompeu Loureiro para a ação do Corpo de Bombeiros. O desvio está sendo feito na Rua Constante Ramos. A Polícia Militar atua no local. Nove operadores da CET-Rio também estão no local para sinalizar a ordenar o trânsito na região.
*Colaborou Beatriz Perez
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