Publicado 09/06/2022 19:04
Rio - A pedido dos membros do Conselho de Ética da Câmara dos Vereadores, que move um processo ético-disciplinar por quebra de decoro contra o vereador Gabriel Monteiro (PL), a Polícia Civil fará uma varredura em seus gabinetes. O ex-policial militar e youtuber é investigado por estupro, assédio e por forjar vídeos na internet. A ação policial, prevista para a próxima semana, vai checar se foram colocadas escutas nas instalações. O processo de cassação de Monteiro deve terminar em agosto.
O conselho também apresentará denúncia à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática sobre as ameaças que os seus integrantes estão recebendo, em redes sociais, de seguidores de Monteiro.
"Todos nós, em menor ou maior grau, estamos recebendo pelas tóxicas redes sociais ameaças, em geral muito baixas, ofensivas, de baixo calão mesmo, revelando o nível que algumas intercorrências políticas têm hoje no Rio e no Brasil. Estou aqui com todas elas, inclusive, de ameaças, só eu recebi mais de trezentas. Qual foi o start disso? O próprio Gabriel Monteiro entrou em nossas redes para falar : 'Vocês estão trabalhando com fofocas, este relator não está com nada'. Uma coisinha boba, mas que sinaliza aí entra aquela enxurrada de fãs que não agem com racionalidade", justificou o vereador Chico Alencar (Psol), Relator do processo ético-disciplinar.
De acordo com Alencar, as ameaças na internet embasam o fato dos membros do colegiado terem pedido proteção à Casa, cinco carros blindados foram solicitados: “Agora nas redes, a internet, às vezes, é um território sujo. Eu já orientei todos, falei lá, na própria rede, que estamos recebendo esse tipo de ataques que devemos responder com serena firmeza, não reagindo no mesmo nível, de forma alguma, nemn o mesmo tom e no mesmo diapasão. Vamos prosseguir. Eles não vão nos intimidar com essa ofensiva”, garantiu o relator.
De acordo com o presidente do Conselho de Ética, vereador Alexandre Isquierdo (União Brasil), existem ameaças veladas e outras mais contundentes. "A gente está falando da integridade física dos vereadores desse Conselho. São seguidores, e a gente vai fazer uma denúncia à Polícia Civil, à DRCI, de crimes cibernéticos para que apure, averigue e identifique quem são esses personagens que estão fazendo esse tipo de ameaça", informou Isquierdo.
Conforme o presidente do Conselho, as denúncias mais contundentes serão encaminhadas à Procuradoria da Casa, que irá peticionar a Polícia Civil.
Novos depoimentos
O Conselho de Ética ouviu, nesta quinta-feira (9), duas testemunhas de defesa no processo ético-disciplinar. O primeiro depoente afalar nesta quinta foi Leandro Lima, perito da área criminalista. Bruno Novaes Assumpção, policial militar que fazia a escolta de Monteiro, também foi ouvido pelos membros do conselho. O depoimento de Rafael Murmura Ângelo, assessor de marketing do parlamentar, foi cancelado pela defesa.
No lugar de Ângelo, os advogados pediram ao Conselho de Ética que ouça o depoimento de Luiz Armond, delegado da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes). O delegado é o responsável pela investigação do vazamento do vídeo íntimo do vereador com uma menor de 15 anos. De acordo com Isquierdo, o perito criminal foi contratado pelo youtuber para analisar um vídeo em que o vereador beija o pescoço de uma menina de cinco anos.
"O vídeo não é o que está nos autos e o perito foi contratado pelo Gabriel. Então, pouco contribuiu para o processo", avaliou Alencar. O perito teria apresentado um relatório psicológico sobre o comportamento de Monteiro durante o vídeo.
O policial militar Bruno Assunção, que é cedido ao gabinete de Monteiro e acompanhava as atividades do vereador, também prestou depoimento. Ele estava presente no dia em que foi feito o vídeo com uma menina que foi beijada no pescoço pelo vereador, mas informou que que não presenciou o momento do beijo.
Intimidação
De acordo com relatos que circulam nos bastidores da Câmara dos Vereadores, o ex-PM estaria intimidando seus pares com seu comportamento. Pelas informações que circulam pelos corredores, Monteiro estaria cercando os vereadores do conselho de ética dentro do plenário, permanecendo sentado o mais próximo possível, e até mesmo fazendo selfies nas quais os colegas aparecem ao fundo, sem seu consentimento.
A defesa de Gabriel Monteiro
De acordo com o advogado de defesa de Monteiro, Sandro Figueiredo, ao contrário da avaliação dos membros do Conselho, avaliou de forma positiva os depoimentos da defesa.
"Os depoimentos das testemunhas hoje foram extremamente ricos em detalhes deixando claro, caracterizado, que aqueles depoimentos das testemunhas arroladas pelos membros da comissão, diga-se testemunhas de acusação, não passaram de meras falácias e de conjecturas. É importante frisar que assim como a defesa do parlamentar Gabriel Monteiro arrolou como testemunhas ex-assessores, os membros da comissão também arrolaram ex-assessores e ex-funcionários. Logo, para que se possa provar o antagonismo presente naquelas declarações”, explicou Figueiredo.
Ainda conforme o advogado, não há qualquer vedação legal, nem no estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, e nem no regimento da Câmara Municipal, que proíbe o advogado, que é assessor parlamentar, fazer a defesa de um vereador: "Aliás, não somente no gabinete do Gabriel Monteiro, mas em diversos outros gabinetes desta Casa, existem advogados que são assessores parlamentares. E esses advogados estão aqui para articular a defesa do parlamentar. Então, não há qualquer proibição nesse sentido".
Sobre a informação de que o vídeo apresentado nesta quinta-feira pelo perito policial não é o mesmo da representação, o advogado alegou que se trata do mesmo cenário e personagens. "Foi provado pelo perito com auxílio de psicólogo que não houve qualquer má intenção, qualquer ilícito pelo vereador que envolve a menina no salão" garantiu o advogado.
Quanto às ameaças aos vereadores nas redes sociais, o advogado diz que elas não foram feitas por Monteiro e sim, provavelmente de seguidores, que “sequer vão se concretizar".
*Colaborou Cléber Mendes
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.