Familiares da diarista morta por queda de galho quando chegava para trabalhar na Ilha.Sandro Vox/ Agência O Dia
Publicado 24/08/2022 12:48
Rio - Foi sepultado na tarde desta quarta-feira (24) o corpo de Luzia Sabino Mendes, doméstica morta após ser atingida por um galho de árvore. O caso aconteceu nas esquinas das ruas Macari e Carmem Miranda, no Jardim Guanabara, Ilha do Governador, na tarde de terça-feira (23). A velório ocorreu sob forte comoção no Memorial do Rio, em Cordovil, Zona Norte do Rio. O marido não quis conversar com a imprensa.
Ygor André Mendes, de 21 anos, primo da vítima, era um dos familiares que não se conformavam com a perda. "Ela era uma pessoa muito divertida, que todo mundo gostava. Amava os filhos e a família. Durante muito tempo fui de ônibus para o trabalho com ela, porque nós pegávamos a linha 415 (Caxias-Barra). Quando passava no Fundão, ela descia para ir para a Ilha", lamentou.
O jovem contou, ainda, que todos da família estão arrasados com a morte precoce da doméstica. Esperam, agora, que o poder público esclareça os fatos e identifique os responsáveis pelo acidente. "Eu trabalho com aviação e uma das regras que aprendemos é que 'um erro acontece por uma sequência de erros'. Queremos que os culpados sejam julgados e punidos por terem deixado isso acontecer com a minha prima".
Patrão pagou as despesas do enterro
"Ela estava muito feliz, pois estava conseguindo reformar a casa junto com o marido. Essa tragédia destruiu tudo". O relato é de Leonardo Fischer, advogado e patrão de Luzia Mendes. Segundo ele, a vítima, que deixou dois filhos, um de 16 anos e outro de 21, se orgulhava de ajudar a pagar as mensalidades da faculdade do mais velho, junto com o marido, Eduardo. Outro fato que a doméstica exaltava era de estar terminando uma reforma na casa em que morava, em Duque de Caxias, na Baixada.
Luzia trabalhou por dez anos em uma casa na Rua Formosa, a 10 metros do local da tragédia, porém, o patrão se mudou para os Estados Unidos e a doméstica se viu sem emprego. Leonardo, então, soube da demissão e a convidou para trabalhar em sua casa.
Segundo o advogado, a perda de Luzia, que trabalhava há alguns meses em sua casa, foi um baque para toda a família. "Eu tenho dois filhos que se apegaram muito a ela, porque fazia parte da rotina deles. Quando souberam que tinha falecido, choraram demais", lamentou.
Ele revelou, ainda, que estava a caminho do escritório quando recebeu uma ligação de um vizinho, dizendo que Luzia havia sofrido um acidente na rua. Imediatamente, ele retornou e ao chegar na rua, encontrou os bombeiros fazendo o atendimento à vitima, além de uma viatura da Polícia Civil e peritos. Quando chegou perto, viu que ela já estava sem vida.
"Espero que as autoridades competentes não fiquem jogando a responsabilidade para o outro. O que está em jogo é a continuidade dos sonhos da Luzia. Eu mesmo paguei as despesas do velório dela, porque a família está inconsolável. Vou acompanhar os desdobramentos com o jurídico das empresas para garantir uma indenização adequada para os familiares". O advogado não descarta uma ação judicial.
Questionada por O DIA se havia realizado contato com a família da vítima, a assessoria da Subprefeitura das Ilhas não retornou aos contatos. Nesta terça, em nota, a Prefeitura do Rio disse que o serviço era considerado de alta prioridade, mas que dependia do desligamento da rede elétrica da Light para ser feito.

"Esse local estava entre os 19 pontos com prioridade máxima para poda somente na região da Ilha do Governador. Todos os pontos constam do ofício de prioridade máxima enviado pela Subprefeitura das Ilhas à Light no dia 12 de abril de 2021", informou a prefeitura.
Procurada, a Light informou, nesta terça-feira, também em nota, que não recebeu ofício formal da Comlurb para apoiar serviço de poda. Segundo a companhia, este documento é acordado entre as empresas (Light e Comlurb) e utilizado rotineiramente. O ofício deve conter a data de vistoria, o nome engenheiro que realizou a vistoria, o tipo de vegetal, com fotografia, e a solicitação do desligamento da rede elétrica para a execução do serviço.
A companhia reiterou que o pedido de poda (que não é função da Light) da subprefeitura, não possui laudo técnico e que ainda realizou poda na Rua Carmen Miranda, 555, em 19 de agosto de 2021. O serviço foi executado somente pela empresa, sem participação da Comlurb. A empresa não informou se procurou os familiares da doméstica.
De acordo com o delegado Luciano Zahar, da 37ª DP (Ilha do Governador), responsável pelas investigações, agentes foram ao local e realizaram perícia para identificar as causas do acidente e identificar os responsáveis. Segundo ele, já existe um inquérito para determinar se houve negligência na conservação das árvores naquela ruas ou se foi um evento na natureza. 
"Nós já abrimos um inquérito policial para averiguar possíveis responsabilidades, e os peritos do Instituto de Criminalista Carlos Éboli (ICCE) vão analisar tanto a árvore, quanto a causa da morte da vítima. Com base nos laudos, vamos representar na justiça para decidir se há culpados por este acidente", disse.
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