Publicado 05/10/2022 12:28
Rio - O sentimento de revolta de familiares e amigos marcou o sepultamento de Raphael Luiz Motta da Silva, de 22 anos, nesta quarta-feira (5), no Cemitério de Parque da Paz, no Pacheco, em São Gonçalo. O jovem morreu na última segunda-feira (3), após ser baleado no bairro de Santa Isabel, no mesmo município da Região Metropolitana do Rio. Parentes acusam PMs de terem atirado contra a vítima e ressaltaram que o rapaz era inocente.
Raphael teria sido baleado quando, segundo a PM, equipes do 7º BPM (São Gonçalo) checavam a presença de traficantes no bairro e uma troca de tiros aconteceu. O jovem foi encontrado ferido e foi socorrido para o Hospital Estadual Alberto Torres, mas não resistiu. Segundo a polícia, próximo ao local onde ele estava, foram apreendidos um revólver calibre 38, uma granada, um quilo de cocaína e uma motocicleta roubada. Muito abalada, a mãe da vítima, Cristiane Motta, reforçou que o filho era trabalhador e criticou decretos que facilitam compra e venda de armas no Brasil.
"Meu filho trabalhador está aqui, gente. Meu filho trabalhava de segunda à segunda para ajudar a família. Eu fiquei cinco meses desempregada e meu filho me ajudou. Meu filho sempre foi digno, meu filho sempre foi querido. Todo mundo amava meu filho, como eu amo meu filho. Meu filho, na segunda-feira, foi lá em casa e falou: "mãe eu te amo, amo meus irmãos, amo meus sobrinhos", foi uma despedida. Uma crueldade, como que pode um policial tirar a vida de um ser humano trabalhador, dar um tiro pelas costas de fuzil? Meu filho não era bandido, meu filho era trabalhador e eu quero justiça", declarou a mãe.
Durante a despedida, Cristiane mostrou a carteira de trabalho e o contra-cheque do filho, que atuava polindo e lavando carros em uma oficina de pintura. De acordo com um colega de trabalho, Jorge Elias Cesário Júnior, Raphael trabalhava com ele desde os 13 anos e tinha a carteira assinada. O homem o descreveu como um rapaz exemplar, querido por funcionários e clientes, e reforçou que a vítima nunca teve envolvimento com o crime organizado.
"Raphael é um menino exemplar, um bom menino, um menino amado por todos, por todo a nossa equipe de trabalho, todas as pessoas, nossos clientes. Vamos sentir muito a falta de Raphael, porque a gente tem a ciência que Raphael nunca se envolveu em nada errado, a gente sempre cobrou isso dele. Raphael faz parte da minha família, ele convive comigo, com meus familiares, meus sobrinhos, meus primos. Então, eu só tenho a dizer que isso foi uma fatalidade que aconteceu com ele, infelizmente. Estar no lugar errado, na hora errado e acabou pagando com a própria vida".
Na terça-feira (4), parentes e amigos realizaram uma manifestação para denunciar a ação da PM que resultou na morte do jovem. Por conta do ato, não houve aula na Escola Municipal Célia Pereira da Rosa, em Santa Isabel, no turno da noite de ontem. A Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo informou que, por precaução, a unidade, de onde Raphael era ex-aluno, e as escolas Antenor Martins e Vinicius de Moraes não funcionaram na manhã de hoje.
Segundo a Polícia Militar, a Corregedoria da corporação apura o caso. Em nota, a Polícia Civil informou que a ocorrência foi registrada inicialmente na 73ª (Neves) e encaminhada para a 75ª DP (Rio do Ouro), responsável pela área onde a vítima foi morta. "Os policiais militares foram ouvidos e tiveram as armas recolhidas para perícia. A investigação está em andamento", completou a instituição. Revoltada, a mãe de Raphael pediu por justiça.
"Meu filho era trabalhador, meu filho nunca foi bandido, nunca, porque eu criei meu filho trabalhando. Eu quero justiça, porque esses policiais são corruptos safados. Eles em vez de proteger a gente, eles matam os filhos da gente. Eles são safados, porque se eles fossem homem de verdade, eles não matavam trabalhador, eles tiravam essa dor que eu estou sentindo. Eu criei meus filhos dignamente, trabalhando".
*Colaborou Marcos Porto
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