Bruno Eduardo de Melo Rocha, de 21 anos, morreu com um tiro disparado por policiais militares durante uma blitzReprodução/Redes sociais
Publicado 17/10/2022 17:23
Rio - Familiares e amigos do militar Bruno Eduardo de Melo, de 21 anos, pedem um posicionamento mais firme da Polícia Militar sobre os fatos narrados em depoimento, horas depois da morte do jovem, no fim da noite de sábado (15). O corpo do rapaz foi enterrado sob forte emoção na tarde desta segunda-feira (17), no Cemitério de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Cerca de 200 pessoas, entre colegas de fardas e família, acompanharam o cortejo e prestaram homenagens para o rapaz.
Bastante abalado e ainda sem acreditar na morte repentina do sobrinho, Márcio da Rocha, de 50 anos, afirmou que a ocorrência sofreu alterações em um curto período de tempo na 35ª DP (Campo Grande). Por volta das 2h de domingo (16), o tio de Bruno, que é suboficial da Marinha, esteve na distrital para obter informações sobre o ocorrido. Inicialmente ele foi informado por um plantonista que o jovem estava sendo apontado como vítima de uma abordagem incorreta por parte de policiais militares. No entanto, uma nova versão da ocorrência, registrada às 6h, indica que os agentes encontraram uma pistola na mão de Bruno. Porém, a única arma que está em perícia na Polícia Civil é o fuzil de um dos policiais que atirou contra o jovem.
"O depoimento do policial alega que Bruno se encontrava com uma arma, mas ele nunca teve arma, nunca se envolveu com coisas ilícitas ou ilegal. Perguntei à plantonista sobre a arma e ela disse que não tinha nenhuma arma sem que fosse o fuzil do disparo. Acreditamos na PM e temos certeza que esse caso será elucidado. Ele não estava armado", afirma Márcio.
O Dia teve acesso ao depoimento onde consta a seguinte declaração do policial lotado na 40º BPM (Campo Grande): "Bruno estava dirigindo com uma arma em uma das mãos, que o veículo (Fiat Siena prata) acessou a Estrada da Posse e, ao chegar no trevo, próximo à entrada de Senador Camará, deu a volta três vezes pelo trevo e subiu o canteiro central, mais uma vez colocando em risco a vida das pessoas. Com o intuito de salvaguardar a vida efetuou um disparo de fuzil no pneu traseiro do veículo”. Ainda no depoimento, o PM diz que Bruno aparentava estar embriagado e a todo momento se recusava sair do veículo para ser revistado".
O amigo de infância de Bruno, Alexandre Soares, de 21 anos, estava numa moto, um pouco mais à frente do jovem, e testemunhou o que aconteceu antes e depois do disparo. Alexandre, que é recepcionista de um hospital, relatou que ele e o amigo estavam seguindo em direção à Bangu, quando uma viatura da PM, em patrulhamento, deu ordem de parada para eles.
Ele conta que parou a moto, mas o Bruno parece não ter ouvido e seguiu viagem. Afirma ainda que não havia blitz no momento da abordagem. "Eu parei, mas o foco era o carro, então os policiais foram atrás dele. Eu fiquei lá parado por uns 10 minutos. Eu percebi que eles estavam demorando muito e fui atrás. Foi então que eu vi ele recebendo atendimento e vi uma mancha de sangue no banco do carro. Eu perguntei ao PM se houve tiro, e ele me disse: "Eu não sou legista para confirmar isso". E levaram ele na viatura para o hospital", diz.
Alexandre aponta ainda outra divergência na ocorrência. Segundo ele, no depoimento dos policiais consta que a moto não parou, mas ele afirma que parou imediatamente. Consta ainda na versão do policial que a moto estava sem placa, o que ele nega. "É vergonhoso o PM que ele estava com arma. Então cadê a arma? A única arma é o fuzil, cadê a pistola? Queremos Justiça", pede o amigo do rapaz.
O amigo de infância afirma também que o veículo usado por Bruno desapareceu assim que eles saíram do local para prestar depoimento na 35ª DP (Campo Grande). "Dois amigos nossos chegaram lá e o carro não estava mais, não demorou nem dez minutos...", conta. 
Militar tinha o sonho de seguir carreira militar
Márcio, tio de Bruno, conta que a família tem a tradição de seguir carreira militar e que o pai do rapaz também havia servido à aeronáutica. Por isso o jovem era tão apaixonado pela farda que vestia e que também cultivava o sonho de ser policial militar.
"O Bruno era um filho que todo pai gostaria de ter. Exemplar, educado, disciplinado. Nunca houve nenhuma mancha em sua conduta na Força Aérea Brasileira (FAB). A FAB para ele era uma paixão, amava usar o uniforme. Como sabemos que a carreira na aeronáutica é muito instável, ele tinha esse pensamento de seguir nas forças de segurança", conta o tio.
Bruno, inclusive, havia acabado de comprar um curso preparatório para fazer a prova da Polícia Militar. "A morte dele foi um choque muito grande. Nós não nos envolvemos em situações criminosas ou que nos coloquem contra a lei. Ficamos chocados, não esperávamos que um órgão que deveria nos proteger cometesse essa atrocidade que veio para dilacerar a família toda".
O que diz a Polícia Militar
Procura, a Polícia Militar informou que a Corregedoria Geral da Corporação, por meio da 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM), tomou depoimento da equipe policial envolvida na ocorrência e instaurou procedimento apuratório interno sobre o fato.
Investigação em andamento
O caso também é investigado pela 35ª DP (Campo Grande). As armas dos policiais militares envolvidos na ação foram apreendidas para perícia. Além disso, testemunhas e familiares da vítima prestaram depoimento na delegacia. Diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos. A Força Aérea Brasileira também disse estar acompanhando as investigações.
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