Publicado 28/10/2022 14:49
Rio - Familiares de Lorenzo Dias Palhinhas, de 14 anos, negaram que o menino tivesse envolvimento com o tráfico de drogas do Complexo do Chapadão. O adolescente foi morto, na noite desta quinta-feira (27), durante uma operação na comunidade, que fica entre os bairros de Costa Barros, Pavuna, Anchieta, Guadalupe e Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte do Rio. A ação pretendia localizar os suspeitos do assassinato do agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Bruno Vanzan Nunes, 41, em uma tentativa de assalto. O policial foi alvo de criminosos na Transolímpica, próximo à Vila Militar, na Zona Oeste.
De acordo com o avô de Lorenzo, o segurança Fernando Francisco Palhinhas, de 55 anos, testemunhas contaram que o adolescente estava fazendo entregas de lanches, por volta das 23h, quando foi abordado por um policial, próximo a localidade conhecida como Beco do Suede. O agente, então, teria revistado o jovem e o mandado subir para a comunidade. Os relatos afirmaram ainda que, no momento em que o menino se virou, foi baleado na cabeça.
Ainda segundo Fernando, Lorenzo não foi atingido por uma bala perdida e, após sua morte, os agentes da PRF teriam tentado retirar o corpo da comunidade, mas foram impedidos por moradores. O avô disse ainda que o adolescente trabalhava com entregas há aproximadamente cinco meses para ajudar a mãe com as despesas da família e que vinha juntando dinheiro para comprar uma motocicleta. Com a vítima, foram encontrados R$ 10 de um lanche entregue.
"Ele não tinha vício, não bebia, o negócio dele era mesmo só trabalhar entregando lanche porque ele tinha o objetivo de ter uma moto, ainda meio que fora da idade, mas esse era o sonho dele, comprar uma moto para trabalhar com entrega (...) Minha filha está muito abalada, todos nós estamos muito abalados, porque o Lorenzo era uma criança muito família. Minha família toda, está todo mundo consternado, porque ele era muito querido, na comunidade também. Era um menino do bem, não tinha envolvimento nenhum (com o tráfico de drogas)", desabafou o segurança.
Segundo a PRF, durante a operação, o adolescente atirou contra a viatura e os agentes conseguiram o "neutralizar". A instituição disse ainda que, junto com outros dois menores que foram apreendidos, Lorenzo estava de "plantão" no comércio da boca de fumo e na contenção da comunidade. Na ocasião, foram apreendidos uma pistola 380 com dois carregadores e 23 munições; uma pistola Taurus 9mm com 5 carregadores, sendo um deles estendido e 45 munições; um carregador de fuzil 556; 600 papelotes de crack; 622 pinos de cocaína; 149 frascos de lança/loló e 425 tabletes de maconha.
A versão apresentada pela Polícia Rodoviária Federal também foi contestada pelo vereador Luciano Vieira (PL), que conhecia e convivia com o adolescente. Ao saber da morte de Lorenzo, ele esteve na comunidade para prestar apoio aos familiares da vítima, onde permaneceu até por volta das 7h com os parentes. O parlamentar ressaltou que o menino não tinha envolvimento com o crime organizado.
"Infelizmente, tiraram a vida de um menino trabalhador, que eu sempre cuidei ali na comunidade, porque eu faço um trabalho ali para não deixar esses adolescentes se encaminharem para o tráfico, e ele era um deles. Era trabalhador, por isso eu fiquei lá até às 7h da manhã com a família e dando uma força ali na comunidade. Ele era um menino trabalhador e não podem mudar a história e querer colocar ele como bandido, porque não é", declarou o vereador.
No final da manhã de hoje, moradores do Chapadão voltaram a realizar uma manifestação pela morte do adolescente. No ato, os participantes atearam fogo em pneus e entulhos na Avenida Crisóstomo Pimentel de Oliveira e na Rua Rio do Pau, ambas na Pavuna, próximo ao Village, onde um ônibus chegou a ficar atravessado para interditar a via.
Também nesta sexta-feira, familiares de Lorenzo estiveram no Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, para liberarem o corpo do adolescente. Ainda não há informações sobre o sepultamento da vítima. "Eu não acho que foi vingança (pela morte do agente), mas foi uma covardia. Uma criança de 14 anos, inocente, ele não tinha maldade, não tinha envolvimento com nada, todo mundo lá da comunidade pode dizer isso. Ele dizia que me amava muito. Acabaram com os sonhos do meu neto, interromperam os sonhos dele. Quem é de comunidade não pode sonhar? Quem mora em comunidade pode sonhar, mas não é assim que eles pensam", lamentou o avô.
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