Publicado 16/11/2022 17:12 | Atualizado 16/11/2022 19:17
Rio - A Polícia Militar tenta desocupar, desde às 11h desta quarta-feira (16), um prédio na Rua Alcântara Machado, 24, no Centro do Rio. Cerca de 70 famílias, entre elas seis crianças, dois bebês e 15 idosos, ocuparam o imóvel na madrugada desta quarta-feira. O movimento, batizado de Luiz Gama, acontece com a organização do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e já recebeu o apoio da vereadora do Rio, Monica Benicio (PSOL) e do advogado dos Direitos Humanos e ex-procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Rodrigo Mondego. Veja o vídeo abaixo:
Segundo Paula Guedes e Elza Maria Cavalcanti, ambas integrantes do MLB, o prédio estava abandonado há anos e tem condições de receber os trabalhadores. Elas denunciam que policiais militares realizaram um cerco ao redor do imóvel, impedindo a entrada de doações de comida e água para os ocupantes.
"O cerco é ilegal, não existe mandado de despejo, apenas um comportamento da PM de garantir a saída dessas famílias a qualquer custo. Eles [PM] compraram uma briga que não era deles sem necessidade nenhuma, não há interesse do proprietário. Não oferecemos riscos, deixamos claro que são famílias que precisam de moradia", explica Paula. A organizadora do movimento afirma que não há nenhum processo judicial que reivindique a retomada do prédio.
Mesmo com o cerco da PM, as famílias tentam se organizar do lado de dentro do imóvel com as doações que conseguiram chegar, limpeza para preparo das refeições e creche para as crianças.
"Vim na delegacia para dar assistência para os ocupantes da Ocupação Luiz Gama aqui no Rio. Duas inspetoras ficaram indignadas com o fato dos "invasores" terem advogado e quando fiz uma pergunta para uma delas, ela me mandou 'fazer o L'. É tão surreal que chega a ser engraçado", contou Rodrigo Mondego.
A Ocupação Luiz Gama recebe esse nome em homenagem ao advogado, jornalista, escritor e um dos maiores abolicionistas do país, que ajudou a libertar mais de 500 negras e negros escravizados e lutou a vida toda pelo fim absoluto da escravidão.
Ocupantes são famílias que não receberam auxílio moradia após desocupação do prédio da Faperj
Ainda de acordo com Paula e Elza Maria, as famílias são as mesmas que saíram do prédio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), na Rua da Alfândega, no Centro do Rio, em junho do ano passado, com a promessa de receberem auxílio moradia do Governo do Estado.
"Na época foi feito um acordo com o Estado, onde ficou combinado que 150 famílias teriam moradia, mas depois da desocupação muitos não tiveram nenhum retorno, também não foi pago o aluguel social. Já faz um ano que o prédio da Faperj está completamente vazio", disse. No entanto, o MLB reconhece que, ao contrário da Ocupação Luiz Gama, o prédio da Fundação tinha respaldo judicial para ser desocupado.
O que diz a PM
Segundo a corporação do 5ºBPM (Praça da Harmonia), equipes foram deslocadas nesta manhã (16) para verificar um relato de concentração de pessoas e invasão de um edifício na Rua Alcântara Machado, no Centro da cidade do Rio. Ainda de acordo com o batalhão, as equipes aguardaram o proprietário chegar ao local e iniciaram diálogo entre as partes nesta tarde. Informaram ainda que a ocorrência está em andamento.
A reportagem procurou o Governo do Rio para esclarecer sobre um suposto descumprimento do acordo realizado com as 150 famílias da Ocupação João Cândido. Também foi solicitado um posicionamento sobre a Ocupação Luiz Gama. Em nota, o Governo do Rio informou que vai receber os representantes das 70 famílias que ocupam o Edifício da Rua Alcântara Machado, no Centro. Ressaltou ainda que o prédio é de propriedade privada. Sobre o auxílio para as 150 famílias da outra ocupação, o Estado disse que "vai iniciar a construção dos imóveis assim que a Prefeitura do Rio disponibilizar o terreno na região, como ficou acordado. O governo segue em diálogo com as famílias."
A Secretaria Municipal de Habitação do Rio também foi procurada, mas ainda não houve retorno.
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