Cláudia Alexandre, de 52 anos, sogra de Matheus Bruno, foi ao IML de Niterói para reconhecimento do corpoMarcos Porto/Agência O Dia
Publicado 21/12/2022 12:03
Rio - O clima era predominantemente de dor e revolta na porta do Instituto Médico Legal de Niterói, na manhã desta quarta-feira (21). A família do dançarino Matheus Bruno, de 23 anos, compareceu ao local para fazer a liberação do corpo jovem que morreu com três tiros na Engenhoca, bairro do município da Região Metropolitana, na última segunda-feira (19). Segundo a sogra, "é mais um cidadão que tem seus sonhos e vidas interrompidas pelo Estado".
A servidora pública Cláudia Alexandre, de 52 anos, conversou com a reportagem do DIA a respeito do ocorrido com seu genro.
"Matheus era um homem bom, trabalhador. Foi assassinado pelo Estado, porque era preto, pobre e periférico. O Estado acabou com o sonho não só dele, como da minha filha e de toda uma família e amigos", afirmou.
De acordo com ela, Matheus trabalhava como dançarino em uma série produzida no YouTube.
"Ele não era traficante, não era bandido. Não tinha sequer envolvimento. Morreu perto da porta de casa, na Engenhoca, sentado conversando com mais dois amigos, quando a Polícia lhe baleou duas vezes no peito e outra no ombro, levando com ele a alegria de uma mulher, companheira há oito anos, e de toda uma família", comentou.
Muito emocionada, a viúva de Matheus, Adriele Alexandre, de 23 anos, contou que tem dificuldades para ver perspectivas futuras de vida.
"Matheus era um menino bom. Nem eu e nem ninguém tem absolutamente nada o que falar de mau dele. A partir de agora, eu enxergo uma vida triste. Acabou nosso espírito de natal, acabou tudo", desabafou.
Quem esteve também esteve presente no IML foi o ex-soldador Denilson Ferreira Lima, 62 anos, avô de Matheus, responsável pela criação do jovem. Segundo aposentado, ele trabalhou na construção de navios da Petrobras, contribuindo para o progresso do país e a contribuição que o Estado 'lhe devolveu foi a morte do neto".
"Matheus era meu sol. Ele nunca teve envolvimento com nada. Ele foi ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) pegar carteira para receber um benefício. A Polícia diz que houve confronto, mas só escutaram os tiros que atiraram a vida do meu neto. Esse tiro atingiu a mim e tirou meu sossego. Meu medo agora é eu ter que enterrar mais um parente, porque, se é suspeito, que atirem na perna, não do umbigo para cima com intenção de matar", disse Denilson, que concluiu: "Meu neto tinha só 23 anos, uma vida pela frente. Deixa mulher e nenhum filho, porque não deram tempo pra que ele pudesse criar uma nova geração".
Apesar de relatos que não havia confronto na região na hora do ocorrido, a Polícia Militar, por meio de nota, publicou que uma equipe do 12ºBPM (Niterói) foi à Av. Professor João Brasil, no Fonseca, após receber informação de que criminosos realizariam roubo na região. Chegando ao local, os policiais avistaram "indivíduos armados" na Travessa Otto. Ao tentar realizar abordagem, a equipe policial teria sido atacada a tiros, iniciando um confronto. Após cessarem os disparos, os militares encontraram um homem ferido. Ele foi socorrido ao Hospital Estadual Azevedo Lima. Uma pistola e um rádio comunicador foram apreendidos.
Segundo o comando da unidade, foi aberto um procedimento apuratório para averiguar a conduta dos agentes envolvidos na ocorrência. Além disso, as circunstâncias da ação estão sendo levantadas pela Polícia Civil e a corporação afirmou "colaborar com as investigações". A ocorrência foi encaminhada para a 76ª DP (Niterói).
A sogra enfatizou que, enquanto estiver viva, vai lutar para impedir que o Estado, o mesmo que "usou suas garras para arrancar mais uma pessoa preta", taxe Matheus como criminoso. Ainda defendeu que o Governo deveria se encarregar de arcar com os custos do enterro do dançarino, já que, segundo ela, matou um trabalhador.
O corpo foi enterrado no fim da tarde desta quarta-feira (21), no Cemitério do Maruí, em Niterói. Após a cerimônia, amigos e familiares fizeram um protesto pedindo justiça.
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