Publicado 23/01/2023 17:44
Rio - Gleice Kelly Gomes, jovem de 24 anos que teve a mão e o punho esquerdos amputados após dar à luz no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, prestou depoimento por pouco mais de cinco horas na 41ª DP (Tanque). Ela começou a ser interrogada às 11h e foi liberada por volta das 16h30. Segundo a advogada da vítima que acompanhou o depoimento, Monalisa Gagno, os investigadores esclareceram todos os detalhes e foram feitos diversos questionamentos à Kelly em relação ao período de internação, em outubro do ano passado.
Além de Kelly, também será ouvido na manhã de terça-feira (24), por volta das 10h20, a diretoria do hospital envolvido nas acusações. O marido e a mãe da jovem também serão ouvidos, mas somente na quinta-feira (26). Ainda de acordo com a defesa da vítima, os prontuários médicos do Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá e de São Gonçalo, na Região Metropolitana, para onde ela foi transferida em seguida, foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) e passam por perícia.
Até o momento, segundo Gleice, o motivo da amputação segue sendo um mistério. Em busca de justiça, ela afirma que quer entender o que levou à amputação do seu membro.
O Hospital da Mulher informou que a liderança regional médica foi afastada da unidade e foi instaurado um Comitê de Ética Médica para auditoria minuciosa sobre o quadro clínico e procedimentos realizados nos atendimentos feitos à paciente Gleice.
Relembre o caso
Gleice Kelly estava grávida de 39 semanas quando deu entrada no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá no dia 9 de outubro do ano passado. O bebê nasceu no dia seguinte de parto normal e totalmente saudável, mas o procedimento provocou uma hemorragia interna na vítima. Para tentar conter o sangramento, a equipe médica fez um acesso venoso pela mão da paciente.
"A Gleice Kelly entrou na mesa de parto para ter o terceiro filho, de parto normal e foi um sucesso, a criança nasceu saudável, mas ela teve um sangramento, uma hemorragia que não conseguiam cessar. Então fizeram um acesso venoso e começaram a colocar bastante medicação ali para tentar conter a hemorragia. Só que, o que a gente entende é que esse acesso saiu da veia dela e começou a inchar a mão, trazer dores e inchaço, e ficou vermelho", contou a advogada Monalisa Gagno.
Monalisa ainda relata que, mesmo com pedidos da família, a unidade médica não buscou entender os motivos do inchaço na mão de Gleice Kelly.
A jovem chegou a ser transferida para uma segunda unidade de saúde da mesma rede hospitalar, desta vez em São Gonçalo, na Região Metropolitana. No local, Gleice ficou internada na CTI e teve o membro amputado. Desde então, segundo Monalisa, a vítima não recebeu nenhuma assistência do hospital e o membro amputado desapareceu.
Outras mulheres denunciam negligência de hospital
Outras duas mulheres também denunciam o hospital por negligência no atendimento da maternidade da unidade, resultando na morte de dois bebês recém-nascidos. Ana Beatriz Rangel, de 22 anos, deu à luz ao seu primeiro filho no dia 23 de setembro de 2020. O pequeno Enzo nasceu saudável, mas poucas horas depois começou a apresentar sinais roxos pelo corpo.
"Ele nasceu bem, chorando, mexendo, tudo normal. No dia seguinte ao parto meu filho ficou com o pé roxo e não respondeu mais. Chamamos os médicos às 8h para avisar, e nos pediram para cobrir ele pois era frio. Cobri com três mantas e ele foi ficando cada vez mais roxo", conta. Somente às 16h a médica retornou ao quarto e, ao ver que a piora no quadro de saúde da criança, o levaram para a UTI neonatal.
Enzo faleceu após duas hemorragias pulmonares e quatro paradas cardíacas, no dia 1º de outubro de 2020. Ainda de acordo com a mãe da criança, o prontuário foi rasurado, informando que uma ultra de pulmão feita no recém-nascido não havia dado alteração.
O caso da Gabriela Marques Araújo, de 27 anos, é semelhante ao da Ana Beatriz. A mulher havia planejado nos mínimos detalhes a chegada do pequeno Gustavo na maternidade do Hospital NotreDame Intermédica Jacarepaguá, mas o sonho terminou em pesadelo. O caso aconteceu em janeiro de 2022.
"Meu filho nasceu bem, saudável. Logo depois do parto eu fui levada para o quarto e depois de algumas horas, ainda grogue da anestesia, vi que meu filho estava desconfortável. Meu marido chamou logo a enfermeira, mas demorou muito tempo para que alguém aparecesse. Quando um profissional do hospital chegou meu filho já estava todo roxo e precisava ser encaminhado à UTI neonatal do hospital", lembra Gabriela.
No entanto, a mãe de primeira viagem foi informada que a unidade estava sem ambulância e que a UTI ficava em um prédio ao lado do que ela estava. O pequeno Gustavo, com horas de vida, teve que ser levado nos braços do pai, a pé, até a UTI.
Gustavo nasceu no dia 4 de janeiro de 2022 e faleceu dois dias depois. Ambos os casos foram registrados na 41ª DP (Tanque) e são investigados como homicídio culposo. O caso mais recente, da jovem Gleice Kelly, também está sendo investigado pela mesma distrital, mas está sendo tratado como lesão corporal culposa.
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